Os jogos que estimulam o cérebro vão muito além da memorização.

Qual tipo de jogo ou programa de aprendizado faz um cérebro ser estimulado, segundo a ciência

Há centenas de aplicativos e cursos online cujo objetivo, dizem, é ajudar a estimular o cérebro, no sentido de ter uma mente mais ágil.

Artigo publicado na Fast Company, porém, diz que muitos desses jogos estão baseados sob pouca evidência científica.

 

“É desafiador para um leigo percorrer as centenas de artigos científicos e descobrir quais programas de treinamento de cérebro são baseados em evidências e quais não são.

E quais são, de fato, eficazes naquilo que se propõem”, disse Henry Mahncke, CEO da Posit Science, empresa de softwares e serviços e criadora do BrainHQ, programa de treinamento do cérebro.

 

É por esse motivo que um grupo de cientistas australianos se reuniu para avaliar os estudos e reviews publicados sobre programas comerciais de treinamentos para o cérebro e definir quais deles, de fato, funcionavam sob preceitos científicos.

Segundo a Fast Company, dos 18 programas analisados, 11 não tinha nenhum review (avaliação) com evidência científica comprovando que o método que disponibilizam para o aprendizado é eficaz. Do outro lado, encontraram jogos que funcionam com base na ciência e são eficaz por vários motivos, como os citados abaixo:

 

A chave é a neuroplasticidade

Os programas BrainHQ e o Cognifit geram bons benefícios. Ambos são baseados no treinamento do cérebro que é focado em melhorar a velocidade e a precisão que nós conseguimos processar as informações.

Para isto, focam em um método de sistema visual. “Você vê uma imagem no centro de sua visão – um carro ou caminhão, por exemplo – e, ao mesmo tempo, você vê outra imagem no seu campo de visão periférica. As duas estarão visíveis na tela por um curto período de tempo – talvez um segundo. E, então, você precisa afirmar se o que você viu – no centro de sua visão – era um carro ou um caminhão.

Depois, dizer onde você viu a imagem que apareceu no seu campo periférico”, explica Mahncke. Isso te ajuda a treinar a velocidade a precisão de seu sistema visual para absorver informações.”E, à medida que você fica mais rápido e mais preciso, a velocidade aumenta e a tarefa da visão periférica é mais exigente – forçando seu cérebro a ir além”.

 

Como seu sistema visual é desafiado de modo contínuo por esses testes específicos, seu cérebro irá se adaptar através de um processo conhecido como neuroplasticidade. “O objetivo principal do cérebro é resolver as coisas. Para isso, ele está constantemente se movendo de uma perspectiva particular para a perspectiva geral. Fica indo e voltando”, diz Mahncke.

Então, à medida que o cérebro trabalha para juntar novas imagens, ele passa por mudanças neuroplásticas, ou seja, estruturais. Isso abrirá espaço para novos caminhos neurológicos fazendo o cérebro, literalmente, mudar sua forma.

Segundo o artigo, é por esta razão, que o treinamento do cérebro que resulta em mudanças neuroplásticas funciona muito melhor do que os simples jogos de \’\’treinamento cerebral” que focam apenas na memorização.

Esses últimos jogos poderão te ajudar a lembrar, por exemplo, onde encontra-se um cartão vermelho – mas não o ajudarão a se lembrar os detalhes da última reunião que você teve com seu cliente.

 

“Nós sabemos que o cérebro ganha maior plasticidade quando substâncias químicas do cérebro são ativadas, então o design desses exercícios e jogos também incorpora demandas de atenção, novidades e recompensas para ativar a liberação dessas substâncias”, diz Mahncke. “Essas substâncias do cérebro também afetam o humor e os níveis de aprendizado”.

 

O resultado, como a ciência mostrou, diz Mahncke, é que as pessoas que realizam programas de treinamento de cérebro baseados em neuroplasticidade “se sentem nitidamente mais rápidas e capazes de perceber os detalhes importantes da vida cotidiana – como algo que alguém fala em um ambiente barulhento, ou o que está acontecendo à beira da sua visão periférica, ou ainda: quais eram todos os sete dígitos daquele número de telefone.”

 

Dicas para o dia a dia

Caso você não queira experimentar jogos ou programas específicos, Mahncke deu dicas para você treinar a plasticidade do seu cérebro durante a sua rotina diária:

Aprenda uma nova habilidade que se encontra fora de sua zona de conforto: “Fazer as mesmas tarefas da mesma forma todos os dias não traz desafios para que o cérebro se renove. Se você está montando quebra-cabeças há 10 anos, opte por usar seu tempo em um trabalho diferente e reserve de duas a três horas por semana para realizá-lo.

Minha mãe começou aulas de piano e está praticando muito. Está sendo ótimo para o cérebro dela: está ganhando mais velocidade e precisão naquilo que escuta, bem como o movimento de seus dedos é uma outra forma de estimular o cérebro. De quebra, todo mundo da família pode se divertir com as músicas que ela toca agora”, diz Mahncke.

Pegue o caminho mais longo até sua casa e comece a reparar em cada detalhe ao seu redor: “não quer desistir de seus hobbies, muito menos aprender um novo instrumento musical? Uma opção é viajar – e isso não quer dizer necessariamente sair do espaço onde sua vida passa. Pegue novos caminhos pela vizinhança, encontre um novo atalho para a padaria ou pegue a rota mais longa para seu parque favorito.

Foque a visão nas paisagens, nos diferentes sons (e por que não cheiros?) e junte tudo em uma espécie de mapa mental detalhado sobre sua vizinhança. Vá encontrando novas rotas sempre, não deixe uma ficar familiar demais. Isso irá engajar o hipocampo do cérebro, que é justamente o campo de aprendizado e memória”.

 

Exercite-se e alimente-se direito: “não esqueça de seu corpo. Será difícil manter um cérebro em pleno funcionamento se o seu corpo está gastando energia lutando com outros elementos, como pressão alta.

Evite consumir muito sal e procure se exercitar. E, se você quiser exercitar o corpo e o cérebro ao mesmo tempo, ajuste suas corridas para conseguir sempre estar descobrindo novas rotas e caminhos”.

 

Fonte epocanegocios.globo

 

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