Gordofobia

A discriminação ampla na vida do indivíduo obeso

Pois é… após tantos anos priorizando discussões acerca de temas como discriminação e preconceito, e mesmo disseminado pela grande mídia para a sociedade brasileira, infelizmente ainda não conseguimos chegar ao ponto de nos tornamos seres mais evoluídos. Não conseguimos superar a necessidade de discriminar alguém por ter que conviver diariamente com suas diferenças humanas, e não é só por gênero, raça ou cor, mas também com aqueles que não conseguem manter seus corpos magros.

É uma situação vexativa, pois tratamos com muita hipocrisia e somos flagrados falando muitas coisas contra o gordo, apesar de dizer sempre que não temos nada contra a obesidade das pessoas, que todo gordinho é sempre legal, alegre e divertido, gente muito boa…, mas o melhor é ser magro por isso seria aconselhável conseguirem fazer dieta para manter-se em forma, no padrão exigido…, para ter “boa saúde” tem que emagrecer. Este julgamento de valor caracteriza como mais um ato de gordofobia, afinal ninguém sabe do quadro clínico de uma pessoa só porque ela está gorda. Há muitos casos em que estar gordo não é sinônimo de necessidade urgente de emagrecer.

Gordofobia é o termo empregado para definir todas as formas de discriminação aos corpos que se encontram acima do peso. Em linhas gerais, é a aversão à obesidade pelo preconceito de achar que é a falta de vergonha do indivíduo que é gordo por ser guloso e não se conter diante do alimento. Essa concepção errada agrega valores e menos valia para o indivíduo gordo pelas representações que legitimam e fortalecem processos preconceituosos e discriminatórios em relação ao universo de pessoas obesas.

Os padrões de beleza impostos pela sociedade são cruéis e são reforçados a cada instante pela mídia formadora de opinião. É mais uma forma de cobrança imperiosa de enquadramento do indivíduo à necessidade de ter um modelo predefinido de corpo magro, tido como perfeito por ele não ser gordo. É assim não só com os gordos, mas com negros, com os diferentes e de maneira geral, se é mulher, tem que ter os seus cabelos alisados e loiros, assim manda a norma dita.

Ter o corpo perfeito então, se tornou o item mais importante para ser aceito pelo grupo social, mesmo que isso não signifique ter saúde, que o corpo não esteja capaz de realizar todas suas funções vitais de forma saudável…, é a ditadura para ter curvas bem definidas pela massa magra tida como fundamental, que se impõe ameaçadoramente em uma implacável caça contra a obesidade levando-nos a um comportamento compulsivo e doentio, que impõe estar sempre num ciclo louco de dietas restritivas, obrigando-nos também a frequentar as academias especializadas em treinamentos da moda, sempre exagerando nas atividades físicas de alto impacto para desenhar um corpo perfeito, com peso ideal e índices de gordura corpórea mínimas, arcando como as consequências dos excessos com lesões articulares e transtornos compulsivos como a bulimia, a anorexia e até mesmo a obsessão pelo padrão fitness, que é a vigorexia.

A gordofobia está na exclusão social do indivíduo, assim como em todas as esferas da vida em sociedade, que vai desde ser chamado de “gordo” de forma pejorativa, até nos espaços onde deveria ser aceito e contratado para trabalhar em alguma empresa. É o que se apresenta para o gordo:

são lojas de roupa de marcas famosas que só fabricam modelos até certo tamanho, excluindo a possibilidade de o público plus size acessar aos seus modelos, por não oferecerem tamanhos que sejam adequados ao corpo gordo, pois não aceitam associar o cliente obeso à imagem dos produtos da marca… E em diversas outras situações, de forma velada, que são sempre piadas nas redes sociais ou mesmo em rodas de “amigos” transformando-os em alvo de chacota, e essa agressão indo sempre mais além, como uma punição ao fardo de ser obeso.

Gordofobia

Gordofobia

São milhares de pessoas gordas que passam por inúmeros constrangimentos, por imposição ao desconforto, em situações corriqueiras, pois em todos os lugares tudo está ajustado para pessoas magras, como se o indivíduo gordo não existisse, nem tivesse direito, sendo submetidos às catracas borboletas de acesso apertadas no transporte público, que os sujeitam ao mau humor do motorista que não quer abrir a outra porta para dar aceso ao obeso que é usuário do serviço público.

São cadeiras projetadas com pouco espaço entre os braços, inadequadas para quem está “fora de forma” …, tudo isso violando o direito básico à cidadania e a inclusão social do indivíduo obeso, que paga impostos como qualquer outro magro. É uma realidade que impede qualquer obeso ao livre acesso, por exemplo, de se sentarem confortavelmente em bares, restaurantes, cinemas, teatros, caracterizando um mundo criado especialmente para magros. Todos os dias é uma rotina contínua, onde os gordos e as gordas sofrem sendo vítimas de preconceitos e discriminação pelo corpo que tem.

Estudos apontam o preconceito contra os gordos mais evidente com as mulheres do que com os homens. Em entrevistas emprego, outro exemplo, quando vão disputar uma vaga de trabalho, o gordo precisa torcer para que nenhuma magra esteja concorrendo à mesma vaga, e quando conseguem ser alocados em alguma função na empresa sofrem constante bullying dos colegas, sendo sempre alvo de brincadeiras que machucam, minam ainda mais a baixa autoestima e excluem o indivíduo da normalidade de ser humano, denegrindo a imagem lhes creditando julgamentos de valor, como a imposição de conviver com o discurso de que são pessoas lentas, preguiçosas, obcecadas por comida, ou mesmo adoecendo mais que o normal… e, no caso de um recrutador que estiver na dúvida entre duas pessoas e, se um deles estiver acima do peso, provavelmente o mais rechonchudo será eliminado do processo seletivo.

Porém, podemos também mencionar que existem as plus size se firmando…, mas apesar dessas modelos estarem na moda, essas gordinhas também é vítimas do preconceito no mercado de trabalho…, isso ainda está presente e é muito forte nas seleções de emprego.

A desvalorização condena o obeso a não serem merecedores do respeito da sociedade por não buscar a adequação dos seus corpos ao padrão exigido. A insatisfação quanto à existência de ações afirmativas promotoras da igualdade entre grupos sociais, ratificam a ideia de privilégios que não podem ser conferidos a grupos que não se enquadrem aos padrões e refinamento de uma perfeição física.

O grande desafio para o indivíduo com sobrepeso, vítima da obesidade, sem dúvidas, ainda é vencer o preconceito e a discriminação e ter seus direitos garantidos como qualquer cidadão… Ter que lidar com preconceitos, reiterados e disseminados cotidianamente, só colaboram para a marginalização do obeso pela sociedade…

E essa condição não se apresenta apenas no ambiente de trabalho, mas em todos os espaços de sociabilidade na vida cotidiana, em casa, na rua, na igreja… E o que podemos fazer para modificar essa dura realidade? É a omissão ou será o protagonismo de uma luta que é de todos, gordos e magros, por uma qualidade melhor do ser humano?

Wellington de Mello – Escritor, Redator, Publicitário, Designer Gráfico e Fotógrafo