A indústria fonográfica e a Sociedade alternativa.

A indústria fonográfica e a Sociedade alternativa

A indústria fonográfica e a Sociedade alternativa

Há trinta anos morria Raul Seixas, cantor que conseguiu o que queria: não ser esquecido depois da morte. Raul goza daquilo que alguém chamou de eternidade estendida.

Talvez um dia ele seja vencido pelo tempo e ninguém lembre mais dele e nem tenha interesse por suas emblemáticas músicas, talvez sua obra seja como aquelas dos compositores clássicos, por enquanto os únicos que venceram os séculos e ainda estão por aí.

Raul Seixas é todos artistas que gostamos e atingiram o estrelato são frutos da finada indústria fonográfica. Enquanto Raul cantava “Viva sociedade alternativa” por trás dele havia uma poderosa indústria que impulsionava a música nas rádios e o levava para programas de TV. Isso não diminui o trabalho do Raul e nem de qualquer outro artista, arte é também negócio e com música não seria diferente.

Raul Seixas, Renato Russo, Caetano Veloso ou qualquer outra estrela da nossa música que você conhece foram projetados pela indústria fonográfica porque viram neles a possibilidade de ganhar dinheiro. Antes da cultura, as empresas pensavam na possibilidade de lucro.

As gravadoras tinham um mercado maravilho que adorava música e por isso mesmo “fabricava” artistas para todos os gostos: rebeldes e contra o sistema, intelectuais e burgueses, fúteis e descartáveis, medíocres que nem conseguiram cantar ao vivo. Tinha para todos os gostos.

O lado bom disso é que essas empresas nos apresentaram artistas maravilhosos, pessoas não comuns como Raul, Renato ou Caetano que sem a indústria para impulsionar suas carreiras talvez hoje fossem servidores públicos, professores ou escritores que escrevem livros que só e talvez, os amigos leiam.

O lado ruim da indústria da música foi direcionar para que lado iria à música, criar padrões, artificialmente criar modismos e claro, condenar tantos outros gênios não pinçados por elas ao ostracismo, a solidão da música sem ouvidos, do talento nunca reconhecido.

Quando a música foi digitalizada o preço para gravá-las desabou, grandes estúdios e gravadoras foram a falência, elas até tentaram sobreviver, quem não se lembra das cenas teatrais de alguns artistas pilotando rolos compressores sobre cds piratas, hoje o próprio cd é artigo apreciado apenas por uma elite saudosista.

Com o quase fim das gravadoras, hoje são poucas, muitos artistas acreditaram que as portas do reconhecimento e sucesso estavam abertas. Puro engano, se ficou fácil gravar, algo não mudou: distribuição, conseguir visualizações, chamar a atenção diante milhões de músicas postadas diariamente na internet e outro ingrediente: até os que cantam “Sociedade alternativa” estão contaminados pelo sentimento de manada, não valorizam nada apenas pelo valor cultural. As gravadoras se foram, mas a ideia de “brilhar” para ser aclamado criado por elas continuam.

O futuro da música? Não sei, o que sinto é que como toda arte, a música passa por transformações, mas vive suas crises, crises criativas, tudo já nasce antigo, gasto, chato e são raros os artistas que têm algo a dizer.

Nos dias de hoje Raul Seixas ou Renato Russo cantam forte não mais porque há uma indústria por trás deles impulsionado o talento de cada um, mas porque para além do mercado fonográfico uniram apelo popular que dava lucro para as gravadoras com refinamento artístico. Vale a pena ainda ouvir esses caras, é uma grande lição: seja alternativo, acredite na sociedade alternativa, mas não esqueça de que ao fim não existe pureza alternativa alguma, Woodstock até hoje gera milhões de dólares para seus idealizadores.

Talento sem grana é o mesmo que mendigo na porta da igreja pedindo esmola  Claro que tudo isso que escrevo aqui é para os artistas que ainda desejam fazer parte do seleto grupo de artistas que conseguiram o estrelato, se você não faz parte desse grupo quem sabe um dia batemos um papo, bebemos umas cervejas e escrevemos alguma canções.

ARTIGOS ? Por Ediney Santana, para o Cultura Alternativa 

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  ? **Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha do Cultura Alternativa.