Ah, o Piauí, o bacuri e a cajuína!

Quando surge a oportunidade de viajar a trabalho para um lugar que você nunca havia pisado maravilhas acontecem…

E foi assim que tudo começou, com uma visita a uma capital nordestina, Teresina, Piauí.

Ali, havia uma mistura que carregava simplicidade e magia nos detalhes. Casinhas parecidas umas com as outras… Um cenário que me fez viajar no tempo e me sentir como uma menina de filme, aquela do interior com vestido de chita e que carrega um sorriso franco nos lábios em sinal de aprovação à vida sem mistérios, despreocupada com o sentido do tempo em uma rua qualquer, esperando a vó chamar pro café no bule. Os olhos não se cansavam de olhar, procurar e apreciar o que a eles se saltavam e para onde quer que os levassem, faziam sentir-me feliz.

O Bacuri – Uma descoberta curiosa foi conhecer o bacuri, uma fruta do Piauí, símbolo da cidade de Teresina. A fruta mede cerca de 10 cm e tem casca dura. Sua polpa é branca, de aroma agradável e sabor intenso. (Lembrei-me de pronto da expressão “bacuri”, referindo-se a guri, menino.) Tive a oportunidade de saborar um delicioso suco desta fruta, servida em almoço na comitiva de trabalho da qual fazia parte. Quando, então, fui levada para o Favorito Grill, restaurante que até recomendaria pelos pratos, mas que não me impressionou em nada, o atendimento não achei lá essas coisas. Mas o bacuri… Quem pisar nestas terras, prove-o!

Ainda sobre restaurantes, destaco o francês, Favorito Brasserie, que me pegou de surpresa. Uma França no Piauí. Pode imaginar que combinação interessante?

A delicadeza, sutilezas e finesse francesas, alinhadas à receptividade, autenticidade e calor humano do Piauí! Um “merci” aos nordestinos! O que é a universalização das coisas, não é mesmo? Havia prato que combinava uma massa italiana (apesar do ambiente francês), com a conhecida charque da região. Que mistura boa! O vinho escolhido foi um italiano (Brunello di Montalcino), ácido e reconhecido como um dos melhores vinhos da Toscana, que foi combinado com um filé ao molho de mostarda servido com batata assada salteada com queijo. A entrada foi uma pizza quadrada de roquefort, onde todos à mesa beliscavam com as mãos, sem cerimônias, selando o primitivismo humano, desmascarador de gente com fome, em restaurante fino.

A Cajuína – Mas o que realmente causou uma espécie de susto ao meu paladar bobo e curioso, foi ter experimentado aquele suco especial, em meio a uma reunião de papo longo, envolto pelo calor típico da região, que fazia o suor escorrer pela nuca. Lá vinha ela, uma taça transpirando o gelo que continha e que chegou a mim despretensiosmente, aliviando minha sede. Dei uma golada quase única naquele líquido que me parecia um guaraná amarelado sem gás, com muito gelo. Surpresa! Todos os sentidos aguçados naquele instante. Como é interessante sentir o gosto de algo novo. É como renascer de forma simples. Como se Deus falasse: – vai, garota, não se aperreie que ainda há muito a descobrir. Perguntei: – O que é isso? O piauiense nativo, sem pestanejar, respondeu: – É Cajuína. E defendeu como um fanático por clube de futebol: – É do melhor caju do mundo! Ninguém produz caju como Teresina. Eu já ouvi dizer que o melhor é de Natal, mas quem sou eu para me contrapor aquele senhor que defendia com tanto orgulho o fruto de sua terra. Assenti com a cabeça, quase que como um pacto em sinal de aprovação aos laços invisíveis que o caju e a cajuína me amarravam à região naquele instante.

A Cajuína na voz de Caetano

É Piauí, foi apenas um dia! Um dia suficiente pra entender que nem sempre é só economia local que rege o espírito de seu valor, mas sim seu povo e o entusiasmo de viver. Tem uma coisa que o estado sabe fazer muito bem, melhor do que qualquer lugar que já visitei: acolher bem a quem por lá passa. Selo esta afirmação com o bilhete recebido pela comitiva ao tocarmos o chão nordestino:

FONTE B. Gomes