Beth Carvalho

Beth Carvalho, MORRE A MADRINHA DO SAMBA

Beth Carvalho, a eterna Madrinha do Samba, acometida por um problema grave na coluna vertebral, na região do sacro, após anos tratamento que lhe rendeu algumas cirurgias, não resistiu. Na última terça-feira, dia 30/4, Beth Carvalho, aos 72 anos, faleceu vítima de uma septicemia, infecção generalizada devido à microrganismos hospitalares.

MORRE AOS 72 ANOS A MADRINHA DO SAMBA, DONA DE UM BELO LEGADO…

Deixou um legado inestimável para a música popular brasileira, por seu posicionamento político e cultural. Será sempre lembrada pela luta de resgate do samba de raiz, da cultura popular brasileira, e o reconhecimento do artista popular e dos compositores de samba, onde se tornou um dos maiores nomes da história do gênero.

Muito além do seu talento artístico, foi responsável pela revelação de inúmeros compositores importantes da atualidade e de artistas que fazem parte, reconhecidamente, da cena cultural brasileira. Personagens que estão fazendo muito sucesso como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Jorge Aragão, o que lhe rendeu o seu título de Madrinha do Samba.

Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de maio de 1946 numa área considerada o local aonde o samba surgiu. O contato com a música foi logo cedo incentivado pela família na infância, aos 8 anos, quando ganhou o primeiro violão.

Após a prisão do pai durante a ditadura, em 1964, passou a dar aulas de música. Sua trajetória no mercado fonográfico começou cantando Bossa Nova antes mesmo de ser imortalizada pelo samba. Foi um sucesso arrebatador o disco de estreia, o primeiro compacto simples, com a música “Por quem morreu de amor”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli.

O grande sucesso veio com “Andança”, título de seu primeiro LP, lançado em 1969, disco que este ano (2019) comemora 50 anos de lançamento. Participou de vários festivais de música, e em 1968, conquistou a terceira posição no Festival Internacional da Canção (FIC), justamente com “Andança”.


Andança – Beth Carvalho

Beth era uma artista inquieta, ia buscar as coisas lhe interessavam e com tamanha sensibilidade foi atrás de belas canções, composições de Cartola, como “As rosas não falam”, e “Folhas Secas”, de Nelson Cavaquinho. Pagodeira, Beth conhecia bem a fartura da fertilidade dos compositores do povo, ia ao seu encontro, pois sabia onde eles viviam, cantavam, como cantavam e como tocavam.

Beth Carvalho era apaixonada pela Mangueira, sua escola de samba do coração, e pelo bloco Cacique de Ramos, onde conheceu muitos de seus apadrinhados. Considerada a Sambista de maior prestígio e popularidade do Brasil foi aclamada como Diva dos Terreiros.

A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano e emplacou vários sucessos como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Coisinha do Pai”, “Olho por Olho”, “Firme e Forte” e “Vou Festejar”. Trouxe um novo som ao samba, porque introduziu em seus shows e discos instrumentos como o banjo com afinação de cavaquinho, o tan-tan e o repique de mão, que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do Cacique de Ramos. Fez inúmeras apresentações ao redor do mundo, inclusive no Carnegie Hall, em Nova York.

Beth Carvalho – BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA

Até aqui, foram 51 anos de carreira, 31 discos, 2 DVDs e apresentações em diversas cidades do mundo,  Beth Carvalho tem um busto na Grécia. Aos dezenove anos ficou em terceiro lugar no III Festival Internacional da Canção de 1968, com a canção Andança, sendo seus compositores Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Edmundo Souto.  Participou dos festivais de música das TV Excelsior, TV Record e TV Tupi. Em Montreux, participou do famoso festival em 87, 89 e 2005.

Era estudiosa dos sambas brasileiros. Chegando a trabalhar com o legendário escritor e compositor Nelson Sargento. Beth Carvalho recebeu 6 Prêmios Sharp, 17 Discos de Ouro, 9 de Platina, 1 DVD de platina, entre tantos outros troféus e premiações.

Em 1984, foi enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçu, “Beth Carvalho, a enamorada do samba”, com o qual a escola foi campeã e subiu para o Grupo Especial. O Sambódromo foi inaugurado naquele ano, e Beth e a Cabuçu foram as primeiras campeãs. Dentre as homenagens já feitas, Beth considera ser enredo de uma escola de samba a maior de todas. Em 85, foi enredo da escola de samba, Boêmios de Inhaúma.

Embora Mangueirense de coração, foi homenageada pela Velha Guarda da Portela, com uma placa alusiva por ser a cantora que mais gravou seus compositores. Em junho de 2002, recebeu das mãos de Dona Zica, viúva de Cartola, o Troféu Eletrobrás de Música Popular Brasileira, no Teatro Rival do Rio de Janeiro. Beth Carvalho gravou o 25º disco, “Pagode de Mesa” ao vivo, pela Universal Music.

O disco seguinte, “Pagode de mesa 2”, concorreu ao Grammy Latino na categoria melhor disco de samba. Em 2004, ela gravou seu primeiro DVD, “Beth Carvalho, a Madrinha do Samba”, e rendeu um DVD de Platina. O CD, que teve lançamento simultâneo ao DVD, também recebeu Disco de Ouro e foi também indicado ao Grammy Latino de 2005, na categoria “Melhor Álbum de Samba”.

Depois deste trabalho com seus sucessos acumulados, em 2005 Beth Carvalho seguiu em turnê internacional, fechando com chave de ouro no Festival de Montreux, exatamente 18 anos após sua primeira apresentação na Suíça. A turnê teve mais de 10 mil pessoas que assistiram ao show em Toulouse, na França, platéia lotada no Herbst Theatre, em São Francisco e lotação esgotada em Los Angeles.

Em dezembro de 2005, Beth abriu o Theatro Municipal do Rio de Janeiro para celebrar o Dia Nacional do Samba e 40 anos de sua carreira. O show antológico, que reuniu grandes sambistas, como Dona Ivone Lara, Monarco, Nelson Sargento, Zeca Pagodinho, entre outros, como registro foi lançado em CD/DVD no fim de 2006, inaugurando o seu próprio selo “Andança”.

Em 2007, a cantora lançou o CD/DVD “Beth Carvalho canta o Samba da Bahia”, com um repertório de sambas de compositores baianos, em agosto de 2006, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Entre os convidados, estava Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Olodum, Riachão, Danilo Caymmi, entre outros. O DVD traz ainda o histórico documentário sobre o samba de roda da Bahia.

Vitoriosa, foi laureada por vários prêmios, inclusive foi homenageada na edição 2009 do Grammy Latino, em Las Vegas, que a premiou com o “Lifetime Achievement Award”, sendo a primeira sambista a receber um dos reconhecimentos mais importantes da cerimônia daquele prêmio, pelo conjunto de sua obra. Carioca da gema e amiga de Cuba foi solicitada pela presidência da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para entregar a Fidel Castro, o título de Cidadão Honorário da cidade.

O 27° foi o CD “Nome Sagrado – Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho”, seu compositor preferido, com participação do afilhado Zeca Pagodinho, Wilson das Neves, Guilherme de Brito. Este projeto foi tirado de uma gravação caseira do arquivo de Beth e vendido em bancas de jornal. A cantora obteve grande repercussão pela ousadia da empreitada e concorreu ao Prêmio TIM de Música Brasileira como melhor disco de samba.

Seu 28° CD, “Beth Carvalho canta Cartola“, foi uma compilação idealizada pelo jornalista e grande fã de Beth, Rodrigo Faour. Beth foi a intérprete preferida de Cartola e responsável pela volta desse grande mestre à mídia. Em 2013 recebeu homenagem da escola de samba paulistana Acadêmicos do Tatuapé com o enredo “Beth Carvalho, a madrinha do samba”.

No começo de 2014, Beth gravou um DVD no Parque Madureira, com antigos sucessos da época em que efervesceu o Bloco Cacique de Ramos e novos sucessos do CD “Nosso Samba Tá Na Rua”, com participações especiais de Zeca Pagodinho e de sua sobrinha Lu Carvalho e ganhou uma exposição sobre sua vida e carreira no Imperator – Centro Cultural João Nogueira.

Beth também foi convidada pelo empresário José Maurício Machline, diretor do Prêmio da Música Brasileira, para ser curadora da 25ª Edição do Prêmio, fazendo parte da comissão de organização juntamente com Zélia Duncan e o pesquisador e historiador Sérgio Cabral, foi uma belíssima premiação, com músicas e artistas escolhidos por Beth e Sérgio Cabral e o texto de Zélia Duncan.

Também, participou também da turnê do Prêmio, junto com Arlindo Cruz, Altay Veloso, Zélia Duncan e Mariene de Castro, e participou da gravação do DVD da 25ª Edição do Prêmio da Música Brasileira junto com Beatriz Rabello, Péricles, Xande de Pilares, Arlindo Cruz, Mariene de Castro, Zélia Duncan e a cantora beninense Angélique Kidjo, tendo a atriz Cris Vianna como mestre de cerimônia.

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha do Cultura Alternativa.

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Wellington de Mello – Escritor, Redator, Publicitário, Designer Gráfico e Fotógrafo