Cultura milenar chinesa - Cultura Alternativa

Cultura milenar chinesa ensina a comer melhor

Cultura milenar chinesa

Com tantas teorias sobre alimentação saudável disponíveis, é difícil saber qual é a mais apropriada.

Construída ao longo de milhares de anos, a tradição chinesa oferece uma abordagem diferente das dietas atuais.

Às vezes é difícil saber o que é bom para o organismo, com inúmeras dietas pregando teorias das mais diversas sobre a melhor forma de se alimentar. Assim, a percepção sobre o que é de fato alimentação saudável muda a todo tempo.

Mesmo que saibamos tudo sobre gordura, carboidratos, proteínas, minerais e vitaminas, sempre há novas pesquisas que introduzem algo novo e tornam obsoletas as crenças anteriores. Mas do que nossos corpos realmente precisam?

Utilizando-se de conceitos da medicina tradicional, os chineses têm sua própria abordagem sobre a alimentação saudável. Provavelmente, eles são a cultura que mais acredita na máxima “você é o que você come” – mesmo que nem sempre sigam isso à risca.

Abaixo, avaliamos a que ponto alimentação e medicina se relacionam – e se esses conceitos podem ser aplicados fora da China.

Cultura milenar chinesa

1 – Alimentação é remédio, remédio é alimentação

Em comparação com a cultura ocidental, a alimentação e a medicina se sobrepõem na cultura chinesa. Por exemplo, a melancia é um alimento, mas pode ter também um efeito medicinal durante os dias de calor, por causa de sua alta capacidade de hidratação.

Os clãs antigos da China, de cerca de 2.200 a.C., começaram a descobrir os diferentes valores medicinais de ervas enquanto caçavam e coletavam comida. Alguns alimentos curavam doenças, outros levavam à morte. Com o tempo, a filosofia da medicina chinesa foi se desenvolvendo.

Porém, há alguns alimentos que os chineses consideram mais como “remédio” que como “comida”, como é o caso do gengibre. Contudo, antes de utilizá-lo para tratamento, é necessário consultar um profissional, pois a sua ingestão pode causar pioras na saúde. O motivo disso é que os alimentos têm propriedades distintas e cada pessoa, um organismo único, responde de maneira própria dependendo do que é ingerido.

2 – As propriedades dos alimentos

Na medicina tradicional chinesa, os alimentos são divididos em cinco essências, chamadas “siqi”: gelado, frio, neutro, morno e quente. A natureza do alimento não é determinada por sua temperatura momentânea, mas sim pelos efeitos que pode ter no corpo após o consumo. Se uma pessoa ingerir continuamente apenas um tipo de alimento, vai gerar um desequilíbrio no corpo que afeta o sistema imunológico. Logo, um dos fundamentos da medicina chinesa é manter o corpo “neutro”.

Alimentos mornos e quentes geram calor no corpo humano – por exemplo, carne de boi, café, gengibre, pimenta e frituras – enquanto aqueles que são gelados e frios diminuem a temperatura corporal – como saladas, queijo, chá verde e cerveja. Alimentos como óleo, arroz, carne de porco e a maior parte dos peixes são considerados neutros.

Uma pessoa que tenha ingerido muitos alimentos quentes normalmente sente calor, sua todo o tempo, ficam mal-humorada, com a língua inchada e pode ter prisão de ventre. Já aqueles que comem muitos ingredientes frios ou gelados têm pés e mãos frias, podem se sentir fracos ou ter problemas na circulação. Quando isso acontece, a recomendação é parar de ingerir um desses tipos de alimento.

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3 – Mais do que um sabor

De forma similar ao mundo ocidental, os chineses dividem os sabores em cinco (wuwei): ácido, amargo, doce, apimentado e salgado. Porém, para eles, há mais que sensações.

Na medicina tradicional chinesa, cada mordida em um alimento leva os nutrientes para os órgãos correspondentes: o ácido vai para o fígado e ajuda a parar com o suor e a diminuir as tosses; o sal entra nos rins e pode drenar, purgar e suavizar as massas de comida; os alimentos amargos vão para o coração e para o intestino delgado e ajudam a resfriar o corpo e a secar a umidade; a pimenta entra nos pulmões e no intestino grosso e estimula o apetite; o doce vai para o estômago e para o baço e ajuda a lubrificar o corpo. Logo, é importante que cada um desses sabores esteja presente na dieta.

Isso significa que, para ser saudável, é preciso apenas comer alimentos neutros em todos os sabores? Não necessariamente. “A escolha dos alimentos é afetada pela fisiologia corporal, pelas estações do ano e pelo lugar em que você vive”, diz Chan Kei-fat, médico com consultório em Hong Kong.

A condição do organismo também pode ser afetada pela idade e pelo gênero. Ou seja, os profissionais da medicina tradicional adaptam suas recomendações a diferentes condições.

4 – A mesma abordagem não serve para todo mundo

Assim como todos temos personalidades diferentes, todos nós temos constituições corporais ímpares (tizhi). E, da mesma forma que você não consegue se comunicar com todo mundo do mesmo jeito, você não pode alimentar todos os corpos com os mesmos alimentos da mesma forma.

O que é “constituição”? As categorizações passam por mudanças desde os primórdios da medicina chinesa. Atualmente, uma das divisões mais populares foi desenvolvida por Huang Qi, que introduziu, em 1978, nove tipos de corpos.

Uma pessoa com muita “umidade e muco” (tanshi) no corpo tende a ter sobrepeso, pode suar bastante e ter o rosto oleoso. Esses indivíduos também costumam ter um temperamento mais leve.

Contudo, uma pessoa com muita “umidade e calor” (Shi-Re) é normalmente irritadiça e muitas vezes possui um rosto oleoso, com muitas espinhas. Ambos os tipos precisam de alimentos diferentes para acabar com a umidade. Isso significa que doces, que “lubrificam” o corpo, podem piorar a situação.

Cada tipo de alimento, dependendo de sua essência, pode melhorar ou piorar a situação. “Não existe uma substância que é boa para todo mundo”, diz Guo Qiming, natural de Pequim, que possui uma loja em Colônia, na Alemanha. “Muita gente diz que o gengibre é saudável, mas se você for uma pessoa com organismo seco e tiver muito calor no seu corpo, quanto mais chá de gengibre beber, mais seco o seu corpo ficará.”

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5 – Comer de acordo com a estação do ano

A estação e a época do ano também são fatores a serem levados em consideração. Por exemplo, a primavera é normalmente mais úmida na China, o que significa que, durante essa estação, é melhor ingerir alimentos que possam acabar com a umidade no corpo, como milho, feijão e cebola.

O verão é quente, por isso, o melhor é ingerir alimentos que possam resfriar o organismo, como melancia e pepino. O outono é seco, o que significa que, nessa estação, precisamos de alimentos para “lubrificar” nossos corpos, como ervilha e mel. O inverno é frio, logo, o mais recomendável é ingerir comidas quentes, como carne de boi ou camarão.

Num mundo globalizado, é fácil encontrar alimentos fora de temporada. Contudo, as tradições chinesas levam a crer que essa pode não ser a melhor forma de nos alimentar, pois produtos sazonais nos fornecem a nutrição que precisamos em uma temporada específica. Um conceito parecido também existe no mundo ocidental.

6 – O clima também importa

O clima em um local também afeta a escolha da comida. Como exemplo, Guo cita a província de Sichuan, na China. “O clima de lá é muito úmido e frio. Assim, os moradores de Sichuan adoram comida apimentada, pois facilita a sudorese e assim remove a umidade do corpo.” Guo acrescenta que, se pessoas de regiões temperadas comem muitos alimentos apimentados, a temperatura do corpo também fica muito alta, o que não é muito saudável.

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7 – Encontrar o meio-termo

Mas, então, o que pode ser considerado saudável e o que deve ser evitado? Segundo a medicina tradicional chinesa, todo alimento é nutritivo, e, desde que uma pessoa saudável não coma demais um só produto, nada faz mal para a saúde. Filósofos chineses recomendam sempre encontrar o “meio-termo”, ou seja, evitar extremos.

Segundo as tradições do país asiático, é também muito importante não comer demais (tentar ingerir até 70% da sua capacidade) e consumir alimentos que estejam em uma temperatura moderada, evitando assim a sobrecarga dos órgãos digestivos.

Afinal de contas, tudo é equilíbrio.

Há um ditado chinês que diz: “Os cinco grãos fornecem nutrição. Os cinco vegetais fornecem preenchimento. Os cinco animais domésticos fornecem enriquecimento. As cinco frutas fornecem apoio.” Isso significa que uma dieta equilibrada, na qual os alimentos são consumidos em combinações apropriadas de acordo com suas essências e sabores, são capazes de prover ao corpo humano o que ele precisa.

Fonte dw.com/pt/

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