Descubra o jeito Harvard de Ser Feliz

Alegria

Descubra o jeito Harvard de Ser Feliz

Pesquisas indicam que a alegria não é consequência, mas sim a origem de desempenhos excepcionais. Veja como aplicar isso no seu cotidiano.

Uma queda, uma ideia genial e o nascimento de uma ciência

O psicólogo Shawn Achor inicia sua palestra com uma cena divertida e reveladora: sua irmã mais nova despenca do beliche durante uma brincadeira. Ao perceber que o choro dela poderia acordar os pais e gerar uma bronca, ele teve um estalo criativo.

Disse que ela só poderia ter caído daquela maneira porque era um unicórnio — criatura mágica que ela adorava. Na hora, a dor deu lugar a um sorriso encantado.

Esse episódio revela um mecanismo poderoso da mente humana: a capacidade de ressignificar situações, moldando emoções e condutas.

Mesmo sem saber, os irmãos estavam praticando o que mais tarde seria reconhecido como psicologia positiva — o estudo científico do florescimento humano.

O objetivo não é mascarar o sofrimento, mas reinterpretá-lo por meio de perspectivas mais construtivas.

Achor usa essa lembrança infantil para introduzir a tese central de sua pesquisa: a maneira como interpretamos os acontecimentos determina nosso bem-estar mais do que os próprios fatos.

O modo como decodificamos a realidade impacta diretamente nossos sentimentos, atitudes e decisões.

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O erro de excluir quem foge da norma

Na ciência tradicional, é comum eliminar os chamados “outliers” — dados fora do padrão — para facilitar análises estatísticas. Shawn Achor questiona essa prática, sobretudo quando aplicada ao comportamento humano.

Para ele, ao descartar quem apresenta resultados extraordinários, perdemos a chance de aprender com quem rompeu barreiras.

Em vez de ignorar os excepcionais, deveríamos investigá-los. O que explica a criatividade acima da média? Como certas pessoas mantêm entusiasmo mesmo em cenários adversos?

Essas perguntas, segundo Achor, podem revelar estratégias para aprimorar o desempenho coletivo. Não se trata de romantizar o excepcional, mas de estudar seus caminhos.

Esse pensamento vale também para empresas e instituições de ensino. Quando tudo gira em torno da média, sufoca-se o potencial de quem pensa diferente, age fora da caixa ou rompe com a previsibilidade.

A psicologia positiva propõe o contrário: identificar as práticas que geram excelência e disseminá-las, elevando a régua de toda a comunidade.

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Felicidade não é destino: é ponto de partida

Achor desafia uma ideia arraigada: a de que só seremos felizes depois de conquistar algo. Para ele, essa lógica está invertida. Isso porque, toda vez que alcançamos uma meta, o cérebro rapidamente redefine o que considera sucesso.

Tiramos uma boa nota? Queremos uma nota ainda maior. Conquistamos um cargo? Almejamos outro mais prestigiado. Assim, a felicidade se torna uma miragem.

Após investigar centenas de pessoas e organizações, Achor percebeu que a satisfação emocional antecede as conquistas — e não o contrário.

Quando estamos bem, pensamos com mais clareza, solucionamos desafios com agilidade e temos mais disposição. Isso é o que ele chama de “vantagem da felicidade”: um cérebro animado é mais eficiente em tudo.

Essa descoberta muda a maneira como motivamos, lideramos e educamos. Em vez de condicionar a felicidade ao êxito, é preciso cultivá-la desde já.

Alegria e otimismo tornam-se catalisadores de resultados, e não recompensas tardias. A felicidade deixa de ser prêmio e passa a ser ferramenta.

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Práticas simples para transformar a mente

A notícia mais animadora é que podemos treinar nosso cérebro para funcionar de forma mais otimista. Não são necessárias mudanças radicais: bastam dois minutos por dia, durante 21 dias consecutivos, para modificar conexões cerebrais.

Um dos exercícios mais eficazes é listar, diariamente, três motivos de gratidão. Isso ensina a mente a buscar o positivo no cotidiano.

Outra prática poderosa é escrever sobre uma vivência agradável nas últimas 24 horas. Isso ajuda o cérebro a reviver emoções prazerosas e a consolidar memórias afetivas. A meditação, por sua vez, contribui para reduzir a ansiedade e aumentar o foco — benefícios essenciais em tempos de sobrecarga digital e excesso de estímulos.

Por fim, Achor sugere adotar atos deliberados de gentileza. Pode ser uma mensagem de agradecimento, um elogio sincero ou um gesto altruísta.

Essas atitudes fortalecem os laços sociais e ampliam a sensação de pertencimento. Pequenas ações diárias, praticadas com regularidade, têm poder de mudar trajetórias inteiras.

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E se o sucesso for apenas reflexo do seu olhar?

No desfecho de sua palestra, Shawn Achor convida o público a repensar a vida com outra ótica. Ele mostra que não é o ambiente que molda nossa felicidade, mas a interpretação que fazemos dele.

Mesmo em Harvard, onde os estudantes têm acesso a oportunidades raras, muitos mergulham em estresse ao focar somente nas cobranças. Esquecem de valorizar o privilégio de estarem ali.

A ciência da felicidade, segundo ele, é objetiva, reproduzível e disponível para todos. Não exige riqueza, status ou genialidade. Bastam curiosidade, constância e um pouco de disciplina emocional.

O primeiro passo é ajustar o foco: escolher enxergar o que constrói, em vez do que paralisa.

Talvez o grande segredo esteja em parar de perseguir a felicidade como um troféu. Ao cultivá-la desde agora, aumentamos não só nosso desempenho, mas também nossa leveza.

A equação muda: quando nos tornamos felizes, o sucesso passa a ser apenas uma consequência natural.

Anand Rao e Agnes Adusumilli

Editores Chefes

Cultura Alternativa