A ânsia de explorar novos territórios e se afastar da rotina já foi classificada pela psiquiatria como dromomania, um impulso incontrolável de deixar para trás a vida cotidiana em busca do desconhecido.
O termo tem origem no grego *dromos* (corrida) e *mania* (obsessão), indicando uma necessidade compulsiva de deslocamento.
No século XIX, o caso emblemático do francês Jean-Albert Dadas chamou a atenção dos estudiosos: ele vagava por diversos países, sem recordar como havia chegado a cada destino.
Estudos psiquiátricos da época relataram que outros pacientes apresentavam comportamentos semelhantes, reforçando a ideia de que se tratava de um transtorno dissociativo.
A pauta desta reportagem foi sugerida por Eliza Adusumilli e destaca como esse fenômeno, que no passado era tratado como uma condição psiquiátrica, hoje tem uma conotação mais leve.
Atualmente, a palavra dromomania é usada informalmente para descrever aqueles que sentem um desejo quase incontrolável de fazer as malas e partir rumo ao desconhecido.

Dromomania
A História da Dromomania
No final do século XIX, psiquiatras começaram a estudar casos de pessoas que desapareciam por longos períodos e ressurgiam em locais distantes sem memória de sua jornada.
Jean-Albert Dadas foi um dos casos mais documentados, sendo atendido pelo neurologista Philippe Tissié, que relatou suas viagens sem destino.
Para os especialistas da época, a dromomania era classificada como uma patologia relacionada a distúrbios dissociativos e estados alterados de consciência.
Com o avanço das pesquisas médicas, essa condição foi reclassificada, deixando de ser considerada um transtorno mental grave.
Hoje, o termo é utilizado em um contexto mais brando, referindo-se a indivíduos que simplesmente têm um grande entusiasmo por viagens.
Dados da Organização Mundial do Turismo (OMT) apontam que o número de viajantes globais cresce anualmente, reforçando a ideia de que o desejo de explorar é uma tendência mundial.
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Dromomania
A Modernização do Conceito
Nos dias atuais, muitas pessoas se identificam com o desejo frequente de viajar. Pesquisas recentes indicam que o chamado “vício em viagens” está em ascensão, com um número crescente de indivíduos buscando novas experiências constantemente.
A globalização e a facilidade de transporte contribuíram para que a dromomania, no sentido contemporâneo, se tornasse um traço comum entre aqueles que amam conhecer novas culturas e escapar da rotina.
O nomadismo digital, por exemplo, impulsiona esse estilo de vida, permitindo que profissionais trabalhem remotamente de qualquer lugar do mundo.
A busca incessante por novas paisagens pode estar associada à necessidade de experiências enriquecedoras, à fuga de responsabilidades ou mesmo à curiosidade inata do ser humano.
Relatos de viajantes contemporâneos mostram que a imersão em novas culturas pode estimular a criatividade, melhorar a saúde mental e proporcionar um senso ampliado de liberdade.
Diferente dos casos psiquiátricos do passado, onde havia episódios de perda de memória e falta de controle, hoje essa vontade de viajar é vista como parte de um estilo de vida.
Dromomania
O Impacto Psicológico e Social
A sensação de pertencimento a um lugar específico é algo que muitos dromomaníacos modernos não possuem.
A constante mudança de ambiente pode trazer vantagens, como o aprendizado contínuo e a flexibilidade emocional, mas também pode levar a sentimentos de deslocamento e instabilidade.
Especialistas em psicologia afirmam que essa busca incessante por viagens pode, em alguns casos, estar relacionada à ansiedade ou à necessidade de validação social, impulsionada pelas redes sociais.
Estudos indicam que viajar com frequência pode estimular a criatividade, reduzir o estresse e proporcionar um senso maior de liberdade.
Entretanto, para alguns, a necessidade de estar sempre em movimento pode refletir dificuldades em lidar com compromissos, laços afetivos ou responsabilidades.
Um estudo da Universidade de Tilburg, na Holanda, aponta que pessoas que mudam constantemente de ambiente podem enfrentar desafios na construção de vínculos emocionais duradouros.
Dromomania
O Fascínio por Partir
A dromomania, seja como condição psicológica do passado ou como um simples desejo atual de explorar o mundo, continua sendo um fenômeno fascinante.
Em um mundo onde a estabilidade é frequentemente valorizada, aqueles que se entregam ao chamado das estradas e aeroportos desafiam padrões e constroem uma vida sem amarras geográficas.
Referências culturais como a literatura beatnik, representada por autores como Jack Kerouac, reforçam essa inquietação humana por movimento e descoberta.
Seja por necessidade, curiosidade ou inquietação, o desejo de partir está presente na humanidade desde tempos imemoriais.
Desde os primeiros exploradores até os viajantes modernos, a vontade de conhecer o desconhecido impulsiona a evolução e a construção de novas narrativas.
Afinal, viajar é mais do que mudar de lugar: é transformar-se a cada nova experiência vivida.
Por Anand Rao e Agnes Adusumilli
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