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É preciso falar sobre inflação – Artigo de Sandro Schmitz

É preciso falar sobre inflação

Desde o início do Governo Lula diversos membros de sua equipe vêm exarando opiniões econômicas, e, nessa semana o próprio Presidente Lula resolveu se manifestar sobre um tema espinhoso: inflação.

Na quinta-feira, 02 de fevereiro, o Presidente disse sobre o tema: “Uma inflação de 4.5%, no Brasil, de 4% é de bom tamanho se a economia crescer. Agora você faz uma meta que é ilusória, você não a cumpre, e por conta disso, você fica prejudicando o crescimento do país”.

Não contente ainda acrescentou: “Eu acho que pode haver um projeto sobre o fim da autonomia do Banco Central após o término do mandato do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que fica no cargo até o fim de 2024.

Mas veja…eu quero dizer que isso é irrelevante para mim. Isso é irrelevante, isso não está na minha pauta. O que está em pauta é a questão da taxa de juros”.

O resultado disso: nessa sexta-feira as taxas de juros aumentaram todas na abertura do mercado, afinal o presidente fez questão de aumentar a taxa de risco do país no médio prazo.

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É preciso falar sobre inflação

Um exemplo é a taxa do contrato de depósito interfinanceiro [DI] que as 9h07, ou seja, menos de dez minutos após a abertura do mercado, estava em 13.72% contra 13.64% do dia anterior para janeiro de 2024.

Todavia, o que mais impressiona na fala do presidente é a total fragilidade nos conceitos econômicos expostos por ele.

Na mesma entrevista Lula disse: “O presidente do Banco Central tem que explicar por que aumenta juro se não tem inflação de demanda”, demonstrando que faz o mesmo erro que milhares de pessoas em confundir inflação e elasticidade. Isso se dá pela difusão de conceitos genéricos, assim como a cristalização de doutrinas antiquadas em Teoria Monetária,

Primeiro é preciso esclarecer ao presidente e sua equipe que inflação é um problema de natureza monetária, apesar de seus efeitos se fazerem sentir em toda a economia.

Conceitualmente inflação é um aumento na quantidade de dinheiro na economia em resposta a alguma variável macroeconômica cujo resultado é a perda do poder de compra da moeda.  

A principal e mais visível consequência da inflação é a elevação dos preços. Quando falamos em inflação, não são os preços que sobem, mas a moeda que perde valor. Chamar a inflação como o aumento generalizado de preços é o mesmo que afirmar que a febre é a doença, mas a infecção não.

O aumento da taxa de juros se dá para reduzir o aumento da base monetária na economia fazendo com que no médio prazo ocorra a redução do processo inflacionário.

Contudo, é preciso saber que a moeda jamais recupera seu poder de compra, mesmo com a redução da inflação. Esse é, sem dúvida, o efeito mais nocivo da inflação no longo prazo.

No curto prazo é o fato que a inflação atinge com muito mais severidade a população mais carente, pois esta parte da população não tem recursos para adotar medidas de proteção financeira. Infelizmente, 95% das propostas do governo Lula são altamente inflacionárias.

A denominada inflação de demanda defendida por alguns economistas, se trata apenas de “aumento na procura de um determinado bem, sem que exista uma resposta compatível da oferta, sendo assim necessário aumentar o valor desse bem para equilibrar a economia”.

O problema é que essa concepção errônea de inflação provoca mais danos do que muitas medidas econômicas equivocadas, pois trata os efeitos como consequência, tendo como efeito o não tratamento das causas.

A concepção é errônea, pois usa algo afeto ao conceito de elasticidade preço-demanda como algo que provoque a inflação. Modificações na elasticidade preço-demanda irá provocar aumento ou redução de preços, mas esse é um efeito, não a causa.

Além disso, a solução mais adequada para resolver isso é na relação oferta-procura o que irá modificar os preços no curto prazo e “acabar” com a suposta inflação.

Nesse caso é possível a utilização de bens substitutos para reequilibrar a oferta/demanda e ter como efeito o retorno a preços anteriores. Na situação posta, não ocorre a perda do poder de compra na moeda, pois a causa do aumento de preços foi oferta/demanda e não a perda do poder de compra. Assim sendo, é perceptível a enorme diferença entre os dois fenômenos monetários.

A fala do presidente sobre as soluções para o problema são preocupantes, pois ele falou em três ações: redução da taxa de juros, aumento do poder de compra da moeda, e, várias formas de auxílio para população em torno dessa questão. O problema é que todas as propostas são inflacionárias. Ao reduzir a taxa de juros irá ocorrer um aumento de concessão de crédito, dessa forma a base monetária irá se expandir e o resultado disso irá ser mais inflação.

A proposta de aumento de poder de compra da moeda beira o trágico, pois de uma forma semelhante já foi utilizado no país. O sistema de “gatilhos” utilizado pelo Governo Federal na década de oitenta servia apenas para retroalimentar a inflação, pois ao atualizar o salário dos servidores de acordo com a inflação aumentava a moeda na economia e provocava mais inflação.

Já a proposta de auxílios em virtude do aumento da inflação segue a mesma lógica e provocam o aumento de base monetária, tendo como resultado mais inflação. No entanto, possui um agravante: ao se conceder auxílios dessa natureza o governo irá provocar aumento de gastos públicos. Como ele irá pagar os gastos gerados? Com emissão de moeda, cujo resultado irá ser, inevitavelmente, mais inflação.

Em apenas uma entrevista o Presidente Lula deixou evidente seu total desconhecimento do funcionamento do fenômeno inflação. Compreendo que, enquanto político, ele não queira usar mecanismos realmente eficazes para o combate à inflação, tendo em vista que não existe remédio ameno para isso. Toda e qualquer solução para a inflação passa por um período em que a economia se retrai, pois é necessário tirar a “moeda podre” dela.

Para se solucionar inflação é preciso reduzir a base monetária, os gastos governamentais, o que implica em responsabilidade fiscal, retirar o máximo de entraves ao empreendedorismo e administrar um período de dificuldades macroeconômicas. Não fazer isso é condenar o país a um ciclo interminável de sofrimento financeiro.

E ainda correr o risco de chegar a uma hiperinflação e daí não ter como contornar o problema. De qualquer maneira, apenas o governo pode gerar inflação, ninguém mais. Qualquer fala em sentido contrário é unicamente panfletagem política.

Artigo – Sandro Schmitz dos Santos – Consultor e Planejador Financeiro, Doutorando em Economia [Genebra], e, Embaixador da Neurobusiness Society.

**Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha do Cultura Alternativa.

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