Edu Lobo

ERA UM ERA DOIS ERA CEM, por Paulo Lima

Edu Lobo ontem à noite, no teatro do Sesc Pinheiros

A voz não parece ter mudado muito. Talvez esteja mais encorpada, com os timbres, que já eram graves, soando ainda mais densos.

O tempo passou, mas foi impossível ver Edu Lobo ontem à noite, no palco do teatro do Sesc Pinheiros, e não pensar naquele jovem cantor e compositor de 1967, de ar exultante, vencendo um festival de música, ao lado de Marília Medalha, interpretando a inolvidável “Ponteio”.

“Boa noite”, Edu saudou a plateia, na qual, pela predominância das melenas brancas, via-se as marcas de uma geração. “Somente um respondeu, só tem uma pessoa?”, brincou com o bom-humor com que faria sua apresentação, e já aludindo à distância temporal dos jovens anos de início de carreira.

No palco com ele, alguns dos integrantes da fina flor dos instrumentistas brasileiros: Romero Lubambo (violão e guitarra), Mauro Senise (flauta e sax), Cristóvão Bastos (piano), Jurim Moreira (bateria), Bruno Aguilar (baixo acústico) e o convidado especial Kiko Horta, no acordeon.

No repertório, as canções do seu mais recente disco “Quase memória”, cujo título foi tomado de empréstimo do livro cultuado de Carlos Heitor Cony. Uma espécie de balanço no qual incluiu antigos sucessos e algumas coisas inéditas.

Ao anunciar uma das canções, acaba gozando de si mesmo. “Por essa letra é possível perceber que aos vinte anos eu já era velho.” Pura curtição, claro. Os temas de Edu Lobo costumam falar do amor, da natureza, essas coisas fundamentais que embelezam a vida e, por isso, são eternos.

“Maravilhoso!”, exclamou um fã ao final de um dos números. “Bravo!”, derramou-se outro. No momento mais apoteótico do show, Edu cantou a hipnótica “Beatriz” – que compôs com Chico Buarque – acompanhado apenas pelo piano de Cristóvão Bastos.

Não faltou uma discreta e elegante manifestação política. Ao terminar de cantar “Canudos”, Edu Lobo repetiu um dos versos da letra, de apenas duas palavras: desgoverno governante. “É isso”, disse. E mais não precisava. O teatro veio abaixo.

A consagrada e consagradora “Ponteio” só veio no momento do bis. Edu Lobo, como o violeiro da canção, segue com seu canto e sua viola no mundo e não pode parar.

Edu Lobo

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