Flip – Festa Literária de Paraty
O Impacto das Mudanças na Flip 2024 para Editoras Independentes
A Festa Literária Internacional de Paraty (9 a 13 de outubro) João do Rio será o autor homenageado da sua 22ª edição.
“João do Rio não separou jornalismo de literatura. Sua busca por transformar o ofício em grande arte é um convite a pensarmos no fazer literário em seu campo expandido”, comenta Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip.
A edição de 2024 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) introduziu mudanças significativas na organização do evento, especialmente na localização da Praça Aberta, destinada às editoras independentes.
Historicamente, essa área estava mais próxima das atividades principais, facilitando o acesso do público após as mesas literárias.
No entanto, neste ano, a Praça Aberta foi deslocada para o Areal do Pontal, além de uma ponte e após barracas de alimentação e produtos artesanais, o que dificultou a chegada dos visitantes e suscitou críticas dos expositores.
As editoras independentes, que frequentemente dependem de uma visibilidade intensa para sustentar suas vendas durante a Flip, sentiram o impacto imediato. A nova configuração levou muitos editores a se preocuparem com a redução do fluxo de visitantes, considerando a maior distância e as distrações ao longo do caminho.
Chris Fuscaldo, da Garota FM Books, destacou que a literatura foi despriorizada ao ser colocada como a “última coisa” no trajeto, o que contrasta com edições anteriores em que a Praça Aberta estava mais integrada às demais atividades do evento.
Essa reorganização reflete uma tentativa da Flip de incorporar mais espaços culturais, criando a Flip+, que inclui novos ambientes como o Auditório da Praça e a Casa da Cultura.
Embora essa expansão vise atrair uma audiência mais diversificada e promover atividades complementares, acabou deixando algumas editoras preocupadas com a perda de destaque em um evento onde a literatura deveria ser o foco central.
Flip – Festa Literária de Paraty
Conflito em Torno da Venda de Livros
Outra questão controversa envolveu as políticas de venda de livros na Flip 2024. A organização estabeleceu uma taxa mínima de R$ 1.000 para que editoras independentes pudessem vender livros fora da livraria oficial, a Livraria da Travessa, que possui um contrato de exclusividade com o evento.
A justificativa para a cobrança, segundo a Flip, é a contribuição para a sustentabilidade do evento, direcionando os valores arrecadados para iniciativas como a coleta seletiva de resíduos em Paraty.
Essa medida, no entanto, gerou resistência entre os expositores. Muitos criticaram o fato de terem sido cobrados por algo que, em edições anteriores, era visto como parte integral da participação na Flip.
A situação foi agravada pelo aumento dos custos, já que além da taxa, os expositores precisaram investir valores entre R$ 1.500 e R$ 3.000 para garantir um espaço na Praça Aberta. Esse encarecimento acabou elevando as expectativas de vendas, o que não foi atendido devido à nova localização menos acessível.
Para os editores, essa situação gerou frustração. Chris Fuscaldo relatou que, em edições passadas, conseguiu alcançar um equilíbrio financeiro, mas com as mudanças deste ano, as vendas foram significativamente impactadas. A cobrança adicional e o distanciamento do centro das atividades contribuíram para um clima de incerteza e preocupação quanto ao retorno do investimento feito para participar do evento.
Flip – Festa Literária de Paraty
Reações e Perspectivas das Editoras
A insatisfação entre os editores foi amplamente divulgada, com relatos de que o mapa prévio apresentado pela Flip era diferente do que acabou sendo implementado.
Alguns expositores relataram que foram surpreendidos com a localização no Areal do Pontal e questionaram a falta de comunicação clara por parte da organização.
A distância maior e o fato de que a Praça Aberta agora vem depois de uma série de atrações não relacionadas à literatura foram vistos como um retrocesso na promoção dos livros e das editoras independentes.
Apesar das críticas, a Flip defendeu as mudanças, afirmando que elas foram necessárias para melhorar a infraestrutura e acomodar as demandas de um evento crescente. A organização destacou que o novo formato buscou respeitar as características históricas e ambientais de Paraty, promovendo um uso mais responsável do espaço público. No entanto, para muitos editores, isso soou como uma justificativa para o que consideram uma desvalorização da literatura e dos pequenos expositores em benefício de outras atividades.
Diante dessas reações, a expectativa é que a Flip reavalie sua abordagem para futuras edições, considerando o feedback das editoras independentes.
A crescente insatisfação poderá levar a ajustes no formato ou até mesmo na política de cobrança de taxas, visando restaurar o protagonismo das editoras na festa literária.
Flip – Festa Literária de Paraty
O Papel da Flip na Valorização do Livro e da Literatura
A Flip sempre foi considerada um evento essencial para a promoção da literatura no Brasil, oferecendo uma plataforma importante para editoras independentes alcançarem novos públicos.
Com as mudanças na configuração do evento, surgiram questionamentos sobre o papel da festa literária na valorização do livro e da leitura. O distanciamento das editoras e o destaque para outras atrações levaram alguns a questionarem se a Flip está se afastando de sua missão original.
O deslocamento da Praça Aberta para uma área menos central pode ser visto como um reflexo de um evento que está tentando se reinventar, mas que pode estar, inadvertidamente, afastando parte de seu público tradicional.
O modelo de eventos culturais hoje exige adaptações para atender às novas demandas de sustentabilidade e uso do espaço urbano, mas isso não pode ocorrer à custa do propósito fundamental da Flip. A literatura precisa continuar no centro das atenções, mesmo em meio às novas abordagens.
Para muitos editores, a Flip é mais do que um evento de vendas, sendo uma celebração da cultura literária.
Portanto, as futuras edições precisarão equilibrar a modernização do evento com o resgate de seus valores centrais, garantindo que editoras independentes não sejam colocadas em segundo plano em um espaço que historicamente sempre lhes deu voz.