Festival de Jazz de Marciac - CULTURA aLTERNATIVA

Festival de Jazz de Marciac

Um confirmado e uma agradável surpresa no Festival de Jazz de Marciac

A noite de quinta-feira da última semana do Festival foi marcada por forte chuva e vento.

Desvios meteorológicos do caloroso verão europeu, que em absoluto não arrefecem o entusiasmo do público, dos músicos, dos estudantes de música, dos staffs e dos jornalistas, a fauna de base do evento.

Já na manhã seguinte, no caminho entre o hotel e o bureau de Imprensa, com o sol fazendo pequenas investidas para se estabelecer na fresca jornada, era possível escutar na rua sons de sax, piano, contrabaixo… (por vezes a sonoridade da pequena cidade lembra um aparelho de rádio mal sintonizado, recebendo sinais de várias estações ao mesmo tempo).

Em Marciac a música é arte ainda mais invasora. Impossível escapar, e nem as intempéries climáticas a detém.

Tanto melhor para nós, amantes dionisiacos do Musicocentrismo. Assim, fizesse chuva ou sol (lembrando que nessa época o astro rei não deixa a noite entrar na Europa antes das 22h), aguardaríamos confiantes Cécile McLorin Salvant (artista inédita nos palcos do Brasil) e Wynton Marsalis sob a grande tenda do Chapiteaux, cena principal do JIM.

DESTAQUES Festival de Jazz de Marciac

A sensacional cantora franco-americana abriu a noite de quinta-feira com uma apresentação cativante. Ao final do show, todos comentavam o quão agradável havia sido sua performance.

Cantora de incrível técnica e recursos vocais (não hesita diante de divisões rítmicas difíceis e nem em usar o vibrato quando este seria o uma sofisticação), Cécile é ganhadora de prestigiados prémios nos Estados Unidos dentro do gênero do jazz.

Com voz levemente aveludada, ela abriu sua apresentação entoando clássicos músico-poéticos de Luiz D’Aragon et Léo Ferré. Acompanhada por uma enxuta banda (piano, contrabaixo, bateria e percussão), ela avançou na direção de outras vacas sagradas da cultura francesa, cantando composições consagradas por Charles Trenet e Edith Piaf.

Artista que não aprecia o encarceramento em influências pré-determinadas e sensível a novas sonoridades, ela chega à metade de sua apresentação propondo ao pianista Sullivan Fortner canções não previstas no set list.

E assim, para surpresa da platéia e satisfação de seus músicos, o jazz vai brotando na hora, como num enfumaçado café do Village nova-iorquino.

Além do jazz urbano dos EUAs, a banda de Cécile emula forte vibe tribal africana. É um concerto que une técnica e improviso, referências e instantaneidade. Cécile parece dominar amplamente a música que entrega, ainda que boa parte dela seja produto da hora.

Festival de Jazz de Marciac

Wynton Marsalis tem relação longa com o JIM. É padrinho do festival e única estrela do jazz a ter erigida em sua homenagem uma estátua em praça pública. Caminha pelas ruas sozinho, se hospeda em casas de amigos franceses e frequenta estabelecimentos públicos.

Em cena se transfigura. Como líder de sua Modern Jazz Band, sobe circunspecto no palco do Chapiteux para a última apresentação da noite. Senta-se no centro de seu sexteto (onde se destaca a telentosa e bonita saxofonista Alexia Tarantino), dá um comando de cabeça e começa a escutar compenetrado o desfile sonoro de metais, cordas e percussão.

O jazz é, em essência, uma música de proximidade e comunhão, que, entetanto, nas cobdições de um grande festival cono o de Marciac, está obrigada a ser reproduzida com distanciamento e individualização. Wynton então se esforça para levar ao grande palco o espírito original do gênero. Mantêm os seis músicos bem próximos, presta atenção a cada um enquanto executam seus números e faz seu piston duelar intercaladamente com eles.

O público, em geral, não compreende bem essa proposta. E se deixa levar mais pelo peso que o nome de Marsalis representa para o festival do que pela proposta estética da apresentação. Cada uma das composições executadas com maestria pelo septeto tem cerca de 20 minutos e é uma colcha de retalhos bem costurados de um jazz técnico, milimétrico e impassível.

O concerto se aproxima dexseu fim. É um êxtase para a platéia, exposta a hora e meia a um jazz de grande qualidade, executado com excelência. Seria tudo isso um paradoxo? Em dúvida, esperamos o mestre se erguer e executar um solo de dois minutos. Então, a resposta: pouco importa se o jazz da Modern Band é executado com exagerado apuro técnico. Nela toca o maior pistonista vivo da História, ms Wynton Marsalis.

Carlos Lopes

Cultura Alternativa

Carlos Dias Lopes

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