Multitarefa no Mundo Corporativo: É Realmente um Caminho Sustentável?
A ideia de que a multitarefa é uma habilidade essencial para o sucesso profissional é amplamente difundida no ambiente corporativo.
No entanto, essa prática, promovida por empresas em busca de eficiência e produtividade, começa a mostrar seus riscos e limitações.
Recentemente, o caso de dezenas de funcionários demitidos pela EY (Ernst & Young), uma das maiores empresas de contabilidade do mundo, gerou um debate importante sobre os limites da multitarefa e as pressões do mercado de trabalho atual.
Os colaboradores foram demitidos sob a acusação de violarem códigos de ética por participarem de várias sessões de treinamento on-line simultaneamente. Para muitos, essa prática parecia apenas um esforço de otimização do tempo.
No entanto, a EY defendeu que a integridade e a atenção total a cada treinamento são valores inegociáveis para a empresa. Este incidente levanta questões fundamentais sobre as expectativas de produtividade e o preço que se paga ao tentar fazer tudo ao mesmo tempo.
Multitarefa no Mundo Corporativo
Multitarefa: Eficiência ou Ilusão?
A multitarefa se tornou sinônimo de agilidade e flexibilidade, características valorizadas no mercado atual. Muitos acreditam que a capacidade de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo pode aumentar a produtividade.
No entanto, estudos recentes mostram o contrário: a prática de dividir a atenção entre várias atividades pode resultar em perda de foco e diminuição da qualidade do trabalho.
Pesquisas conduzidas pela Universidade de Stanford, por exemplo, revelam que pessoas que se dizem habilidosas em multitarefa apresentam, na verdade, uma queda significativa na eficiência.
O estudo concluiu que essas pessoas têm mais dificuldade em filtrar informações irrelevantes, o que compromete sua capacidade de executar tarefas com qualidade.
Esse tipo de comportamento é conhecido como “troca de contexto”, em que a mente se esforça para mudar o foco rapidamente entre tarefas, o que consome mais energia mental e reduz a precisão.
Multitarefa no Mundo Corporativo
A Cultura de Multitarefa e a Saúde Mental
A pressão para fazer mais em menos tempo gera um ambiente corporativo tóxico, no qual a multitarefa não é apenas uma opção, mas uma exigência.
Muitos colaboradores enfrentam jornadas extenuantes, onde equilibrar várias responsabilidades se torna uma tarefa desafiadora e desgastante. Com isso, os índices de estresse e esgotamento mental (burnout) crescem exponencialmente.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que cerca de 30% dos profissionais apresentam sintomas de estresse elevado devido a demandas excessivas de trabalho, especialmente em ambientes que valorizam a rapidez e a multitarefa.
Esses sintomas vão desde falta de motivação até problemas de saúde física, como insônia, hipertensão e até depressão. É cada vez mais evidente que, sem limites claros, a multitarefa cobra um alto preço à saúde mental e física dos trabalhadores.
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O Caso EY: Reflexo de uma Cultura Corporativa Rígida
A situação dos funcionários da EY expõe as contradições de muitas corporações que promovem a multitarefa, mas mantêm regras rígidas sobre como ela deve ser executada. A EY, ao demitir funcionários por “falta de ética” ao realizar múltiplos treinamentos simultaneamente, justificou sua decisão com base em seus valores de integridade.
No entanto, essa postura contraditória ressalta a pressão que a própria empresa impõe ao incentivar cargas horárias extensas e produtividade máxima.
Esse caso reflete um dilema enfrentado por inúmeras empresas. Por um lado, elas buscam otimizar o tempo e os recursos, por outro, exigem um comprometimento individual absoluto e constante.
Esse modelo não leva em consideração os limites humanos e pode resultar em mais problemas do que benefícios a longo prazo.
A demissão dos funcionários da EY levanta a questão: até que ponto as empresas estão dispostas a sacrificar o bem-estar de seus colaboradores em nome da produtividade?
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Multitarefa no Mundo Corporativo
Alternativas para um Ambiente de Trabalho Saudável
É inegável que, em muitos setores, algumas tarefas precisam ser realizadas ao mesmo tempo. No entanto, é possível adotar práticas que incentivem o foco e reduzam o desgaste causado pela multitarefa. Uma alternativa interessante é a “monotarefa”, que consiste em dedicar atenção total a uma única tarefa por vez, garantindo maior qualidade e eficiência.
Empresas que incentivam o modelo de monotarefa, como o Google, têm se destacado por apresentar ambientes de trabalho mais saudáveis e equilibrados.
Elas adotam o conceito de “deep work” (trabalho profundo), em que funcionários são estimulados a trabalhar sem interrupções, dedicando um tempo específico para cada tarefa. Esse modelo tem mostrado resultados positivos, como aumento na satisfação dos colaboradores e melhora na qualidade dos projetos entregues.
Outro método eficaz é o “time blocking” (bloqueio de tempo), que consiste em definir blocos de tempo para tarefas específicas e respeitar esses horários. Essa técnica ajuda a organizar o dia e a reduzir a ansiedade de tentar fazer tudo ao mesmo tempo.
A prática de “time blocking” é cada vez mais adotada por profissionais que buscam equilíbrio entre produtividade e qualidade de vida.
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O Futuro da Multitarefa: O Que as Empresas Podem Aprender?
À medida que a discussão sobre os efeitos da multitarefa ganha força, as empresas precisam reavaliar suas expectativas e modelos de gestão. É essencial entender que o bem-estar dos funcionários deve ser uma prioridade. Ambientes que exigem atenção dividida constantemente podem ser prejudiciais e pouco produtivos, a longo prazo.
Empresas que desejam se destacar no mercado moderno devem investir em treinamentos de “mindfulness” e “foco intencional”, ajudando os colaboradores a desenvolverem habilidades que priorizem a qualidade sobre a quantidade.
Esse tipo de abordagem pode não apenas melhorar a produtividade, mas também reduzir os índices de burnout e rotatividade, fatores que impactam diretamente a reputação e os resultados financeiros das empresas.
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Conclusão
O caso da EY e a demissão de funcionários por praticarem multitarefa de maneira “inadequada” geraram uma reflexão necessária sobre os limites dessa prática no ambiente corporativo.
A pressão para fazer tudo ao mesmo tempo, frequentemente imposta por culturas organizacionais rígidas, pode ser prejudicial, tanto para a qualidade do trabalho quanto para a saúde dos colaboradores.
Diante disso, é preciso repensar os valores e as expectativas que permeiam as organizações. O investimento em práticas de trabalho mais saudáveis e sustentáveis pode ser o caminho para criar um ambiente de trabalho que realmente valorize seus colaboradores.
No final, a qualidade e a saúde mental devem ser prioridades, superando a simples busca por números e produtividade.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa