Nerds e comboys se cruzam em Marciac
A última semana do Festival Jazz In Marciac (JIM) teve nesta sexta-feira dois concertos bastante distintos.
O primeiro grupo a se apresentar na fresca noite da pequena cidade francesa foi o “Louis Matute Large Ensemble”. Como o nome diz trata-se de um combo formado por seis músicos da novíssima geração do jazz europeu (sua base é Lousanne, na Suíça).
É jazz de nerds brancos, executado com excelência, precisão e brilho do começo ao fim. Groove garantido na cozinha formada por bateria e baixo acústico, guitarra e piano dialogando incessantemente por meio de harmonias e melodias intrincadas, trompete e saxofone com espaços generosos nos arranjos.
Louis Matute, guitarrista arregimentador da trupe, é filho de hondurenho. E assim a influência da música latina se imiscui na base musical limpinha e perfeitinha do Ensemble.
Tal influência é notória, porém sutil, sem resvalar em demagogias estéticas (há espaço até para uma composição inspirada em Macondo, a fictícia cidade do romance “Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques).
Louis e o Large Ensemble terminam a apresentação de hora e meia em lua de mel com a platéia, que os convoca para um bis.
Nerds e comboys se cruzam em Marciac
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Chris Isaak
Na segunda apresentação da noite, os cowboys americanos tomaram conta do palco.
Chris Isaak e banda montaram em cena trazendo a cultura norte-americana no lombo. Os brasileiros que já viviam nos 80’s irão lembrar de seu grande hit de 1989 “Wicked Game”.
Depois da apresentação do jazz quase puro de Louis Matute, foi preciso ser conciencioso para deixar entrar pelos ouvidos, sem reservas, a música simples de Isaak.
O californiano faz um espetáculo kitsch, a começar pelo paletó azul céu revestido de pedrarias com o qual se apresenta. Logo na música de abertura desce à platéia e caminha por entre o público. Volta aclamado para o palco e começa a executar uma sucessão de petardos sonoros. São a base de seus 40 anos de carreira. Aí se encontram Rythm’n’ blues, Rockabilly, Blues e Country. Em arranjos que nada arriscam. Ao contrário, sedimentam a cultura que gerou o artista Chris. Se alguém aí pensou num certo Elvis Presley como reminiscência não está enganado.
O Rei esteve representado no repertório com uma cover de “Can’t help falling in love”. Outra canção clichê dos gêneros caros a Isaak que rolou foi “Pretty Woman”, popular no Brasil pela gravação de Roy Orbison.
Chris e banda saem do palco com uma hora de show apenas para que o crooner troque de roupa. Ele volta vestindo um paletó de espelhos retangulares. Toca mais uma meia dúzia de canções e dá adeus à Marciac. Foi rápido porém intenso esse mergulho estético do público francês na música eletrificada norte- americana derivada dos negros, dos homens do campo e dos renegados da cidade.
Carlos Dias Lopes
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