Poemas de Sacanagem de Bucowski

Poemas de Sacanagem de Bucowski, irônicos de Leminsky, Drummond e sons

Poemas de Sacanagem de Bucowski

Sarau Cultura Alternativa de 28/12/2023.

Assista

Roteiro em minutos e segundos do Sarau Cultura Alternativa 28/12/2023 :

1- Poemas de Bukowski por Anand Rao 3:31

2- Poema de Drummond por Giovana Galindo 6:18

3- Poema de Drummond por Beatriz Libonatti 7:51

4- Poemas de Bukowski por Anand Rao 9:25

5- Poema de Bukowski por Victoria Louise Quito 12:51

6- Anand Rao canta MPB 15:28

7- Poemas de Bukowki por Anand Rao 25:54

8- Gregorio Duvivier por Gregorio Duvivier 27:38

9- Poemas de Leminsky por Anand Rao 28:53

10- Poemas de Tchello D’Barros por Anand Rao 31:29

11- Anand Rao canta de sua autoria Massageia com a língua 34:41

12- Guarda Chuvas Essenciais livro de Anand Rao 40:14

13- A mesa de meu pai com Anand Rao 41:22

14- Poema de Gisele Leite musicado por Anand Rao “Fardo” 46:04

15- Poema de Afonso José Santana musicado por Anand Rao “Solidão” 52:03

#bukowski #sarau #poemas #poesias #leminsky #sarau #mpb #giseleleite #afonsojosésantana #poesiasmusicadas 

Para ler sobre o assunto, basta clicar no tema

Poemas de Bukowski

O pássaro azul

há um pássaro azul em meu peito que 
quer sair

mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei


que ninguém o veja.

há um pássaro azul em meu peito que
 
quer sair


mas eu despejo uísque sobre ele e inalo 
fumaça de cigarro

e as putas e os atendentes dos bares


e das mercearias

nunca saberão que 
ele está 
lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que
quer sair


mas sou duro demais com ele,

eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?


quer foder com minha 
escrita?

quer arruinar a venda dos meus livros na 
Europa?

há um pássaro azul em meu peito que 
quer sair

mas sou bastante esperto, 

deixo que ele saia
 somente em algumas noites

quando todos estão dormindo.


eu digo, sei que você está aí,
então não fique
 triste.

depois o coloco de volta em seu lugar,

mas ele ainda canta um pouquinho 
lá dentro, 

não deixo que morra
 completamente
 

e nós dormimos juntos
 assim

com nosso pacto secreto

e isto é bom o suficiente 

para 
fazer um homem
 chorar, 

mas eu não 
choro, 

e
 você?

(Tradução: Paulo Gonzaga)

O coração risonho

Sua vida é sua vida


Não deixe que ela seja esmagada na fria submissão.


Esteja atento.

Existem outros caminhos.

E em algum lugar, ainda existe luz.


Pode não ser muita luz, mas
 ela vence a escuridão


Esteja atento.

Os deuses vão lhe oferecer oportunidades.

Reconheça-as.

Agarre-as.

Você não pode vencer a morte,

mas você pode vencer a morte durante a vida, às vezes.


E quanto mais você aprender a fazer isso,


mais luz vai existir.

Sua vida é sua vida.


Conheça-a enquanto ela ainda é sua.

Você é maravilhoso.

Os deuses esperam para se deliciar
em você.

Como está seu coração?

durante meus piores momentos


nos bancos de praça


nas cadeias


ou vivendo com
 putas


eu sempre tive um certo bem-estar 

eu não chamaria de 
felicidade 


era mais algo como um equilíbrio 
interno

que se contentava 

com 
o que quer que estivesse ocorrendo


e ajudava-me nas 
fábricas


e quando os relacionamentos 
não davam certo

com as
 mulheres.

ajudou-me
 através 
das guerras e das 
ressacas


as brigas em becos

os
hospitais.


acordar em um quarto barato

numa cidade estranha 


abrir as cortinas

esse era o tipo mais louco de
contentamento.

e andar pelo chão


até uma pia velha 

com um
 espelho rachado 

ver a mim mesmo, feio,
com um sorriso largo 

diante de tudo aquilo.


o que mais importa é 
quão bem 

você 
caminha pelo 
fogo.

Um poema de amor

Todas as mulheres


todos os beijos delas 

as
 formas variadas como amam 


falam e carecem.

suas orelhas 

elas todas têm
 orelhas e
 gargantas e vestidos 
e sapatos e
 automóveis 

e ex-
maridos.

principalmente 
as mulheres são muito
 quentes 

elas me lembram a 
torrada amanteigada com a manteiga 
derretida

nela.

há uma aparência 
no olho: elas foram 
tomadas, foram 
enganadas. 

não sei mesmo o que
 fazer por
 elas.

sou
 um bom cozinheiro, 

um bom 
ouvinte

mas nunca aprendi a
 dançar 

eu estava ocupado

com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas 
lá 

delas
 fumarem um cigarro 
olhando pro teto. 

não fui nocivo nem
 desonesto. só um
 aprendiz.

sei que todas têm pés 

e cruzam 
descalças pelo assoalho


enquanto observo suas tímidas bundas na 
penumbra. 

sei que gostam de mim 

algumas até
 me amam

mas eu amo só umas
 poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;

outras falam mansamente da 
infância e pais e 
paisagens; 

algumas são quase
 malucas 

mas nenhuma delas é 
desprovida de sentido; 

algumas amam
 bem, outras nem
 tanto; 

as melhores no sexo nem sempre
 são as melhores em
 outras coisas; 

todas têm limites como eu tenho 
limites

e nos aprendemos 
rapidamente.

todas as mulheres todas as 
mulheres todos os
 quartos de dormir

os tapetes as 
fotos as 
cortinas, 

tudo mais ou menos
 como uma igreja só 


raramente se ouve
uma risada.

essas orelhas 

esses 
braços 

esses 
cotovelos esses olhos


olhando, o afeto e a
carência 

me
 sustentaram, me 
sustentaram.

Outra cama

outra cama
 outra mulher

mais cortinas
 outro banheiro 
outra cozinha

outros olhos
 outro cabelo
 outros 
pés e dedos.

todos à procura.
 a busca eterna.

você fica na cama
 

ela se veste para o trabalho


e você se pergunta o que aconteceu
 à última 
e à outra antes dela…

é tudo tão confortável 

esse fazer amor

esse dormir juntos


a suave delicadeza…

após ela sair você se levanta 

e usa 
o banheiro dela,


é tudo tão intimidante e estranho.

você retorna para a cama e
 dorme mais uma hora.

quando você vai embora 

é com tristeza 
mas você a verá novamente

quer funcione, quer não.

você dirige até a praia 

e fica sentado 
em seu carro. é meio-dia.

outra cama, outras orelhas, outros 
brincos, outras bocas, outros chinelos, 

outros
 vestidos, 
cores, portas, números de telefone.

você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.

para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais 
sensato.

você dá a partida no carro 

e engata a primeira, 
pensando, vou telefonar para janie logo 

que chegar,

não a vejo desde sexta-feira.

Poemas de Leminski 

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
 bem lá no fundo,

a gente gostaria
 de ver nossos problemas
 resolvidos por decreto
 

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio 
é considerada nula


e sobre ela — silêncio perpétuo
 
extinto por lei 

todo o remorso,
 maldito seja quem olhar pra trás,

lá pra trás não há nada, 
e nada mais
 


mas problemas não se resolvem,


problemas têm família grande,

e aos domingos 
saem todos a passear


o problema, sua senhora 
e outros pequenos probleminhas.

Eu tão isósceles

Eu tão isósceles

Você ângulo


Hipóteses

Sobre o meu tesão
 

Teses sínteses

Antíteses

Vê bem onde pises

Pode ser meu coração

Dor elegante

Um homem com uma dor


É muito mais elegante

Caminha assim de lado


Com se chegando atrasado

Chegasse mais adiante
 

Carrega o peso da dor

Como se portasse medalhas

Uma coroa, um milhão de dólares


Ou coisa que os valha
 

Ópios, édens, analgésicos


Não me toquem nesse dor

Ela é tudo o que me sobra


Sofrer vai ser a minha última obra

Razão de ser

Escrevo. 

E pronto.

Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

E as estrelas lá no céu


Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.


Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?

Redação

Cultura Alternativa

Cultura Alternativa