Se você sente que foi injustiçado tente se ver pelo olhar do outro - Cultura Alternativa

Se você sente que foi injustiçado, tente se ver pelo olhar do outro

Reconhecer o sentimento é o primeiro passo

Se você sente que foi injustiçado, tente se ver pelo olhar do outro. Essa mudança de perspectiva pode ser desafiadora, mas é essencial para resolver conflitos interpessoais com maturidade emocional. A sensação de injustiça ativa áreas do cérebro associadas à dor, segundo uma pesquisa da University College London, indicando que a percepção de ofensa gera reações semelhantes às de um trauma físico.

Igualmente, emoções intensas como indignação ou melancolia podem bloquear o raciocínio e alimentar conclusões precipitadas. É vital reconhecer esses impulsos, mas não agir sob sua influência. Segundo Daniel Goleman, autor de “Inteligência Emocional”, a autoconsciência é o alicerce do equilíbrio interior.

Além disso, levantamentos da American Psychological Association revelam que indivíduos que conseguem nomear seus sentimentos com clareza têm 40% mais chances de resolver impasses de forma pacífica. Identificar o desconforto é o início de uma trajetória mais lúcida.


Adotar a perspectiva alheia transforma a interpretação

Entretanto, enxergar os acontecimentos pela ótica de outra pessoa pode alterar completamente o significado que atribuímos a determinadas ações. Um estudo realizado pela Harvard Business School mostrou que indivíduos que praticam empatia cognitiva conseguem reavaliar situações com mais equilíbrio, promovendo soluções conciliatórias.

Posteriormente, o entendimento sobre as motivações do outro permite atenuar julgamentos apressados. Por exemplo, uma fala áspera pode ter origem em fadiga ou exaustão, e não necessariamente em hostilidade. Essa abertura expande o campo de percepção emocional.

Por outro lado, o sociólogo Zygmunt Bauman ressaltava que a empatia exige prática, não é instintiva. Ela precisa ser cultivada em ambientes onde o diálogo é incentivado. O esforço de enxergar com outros olhos favorece a convivência harmoniosa.


Diálogo claro elimina distorções perigosas

Ademais, a comunicação eficaz é o antídoto contra interpretações enganosas. Segundo o Instituto de Comunicação Não Violenta, 78% dos desentendimentos entre colegas de trabalho surgem de falhas na expressão e não de divergências conceituais profundas.

Conforme dados da revista científica Psychological Science, utilizar expressões como “eu me senti” ao invés de “você fez” durante uma conversa difícil reduz a defensividade do interlocutor em até 65%. Essa simples reformulação pode alterar o rumo de uma relação.

Logo, praticar escuta ativa, onde há espaço para o outro se manifestar sem interrupções, fortalece a resolução dos atritos. A qualidade dos vínculos está diretamente relacionada à qualidade da interação estabelecida entre as partes envolvidas.


Contexto social interfere na nossa percepção

Sob outra ótica, o ambiente em que a situação ocorreu precisa ser levado em conta antes de formar qualquer conclusão definitiva. Segundo o Instituto Gallup, fatores externos como estresse financeiro, luto ou enfermidades afetam o comportamento de 62% dos adultos globalmente.

Além disso, o pesquisador Paul Ekman, referência internacional em emoções humanas, aponta que mais de 70% das reações emocionais são condicionadas por contextos específicos, e não por traços permanentes de personalidade. Em outras palavras, reagimos conforme o cenário vivido.

Ainda assim, tendemos a interpretar o comportamento do outro como intencional, ignorando circunstâncias que talvez desconheçamos. Essa inclinação, chamada de “erro fundamental de atribuição”, é amplamente documentada pela psicologia social moderna.


Perdoar não significa esquecer, mas libertar

No entanto, perdoar não equivale a concordar com a injustiça sofrida. Estudos da Mayo Clinic revelam que pessoas que cultivam o perdão têm níveis mais baixos de pressão arterial, ansiedade e tristeza crônica. O perdão é um gesto de autocuidado, não de submissão.

Consequentemente, observar os eventos sob o ponto de vista do outro facilita o processo de aceitação e desapego. Em vez de manter o ressentimento, é possível refletir sobre o ocorrido e seguir em frente mais sereno. O perdão é uma forma de resolução interna.

Ainda mais, o filósofo suíço Alain de Botton afirma que “perdoar é admitir que o outro também é humano”. Essa compreensão profunda permite que nossos relacionamentos evoluam e nos tornem mais tolerantes com as limitações alheias — e com as próprias.


Conclusão: mudar o olhar pode curar a ferida

Em síntese, se você sente que foi injustiçado, tente se ver pelo olhar do outro. Essa atitude exige coragem, mas pode transformar ressentimento em entendimento e mágoa em aprendizado. É um exercício contínuo de empatia e consciência emocional.

Além do mais, os dados mostram que essa postura traz benefícios reais à saúde psíquica. Indivíduos que compreendem e acolhem diferentes pontos de vista desenvolvem conexões mais estáveis, conforme estudos da Organização Mundial da Saúde.

Finalmente, mudar o olhar não é negar a dor, mas integrá-la de forma sábia. Quando você considera a narrativa do outro, abre espaço para curar a própria. E essa transformação é o que nos faz crescer como seres humanos completos.


Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa