Tia Nina, pernambucana, brasileira de raiz. Ela era manicure da minha mãe e se tornou minha Tia de Coração, Tia de Vida, Tia de Boca. Ela faleceu há duas semanas e só hoje consigo escrever este texto em sua homenagem.
Tia de Coração – Nina Fernandes
Ainda comovido com a passagem de minha Tia, escrevo este texto, para que conheçam um pouco desta brasileira de raíz, desta manicure, desta que cuidou do Museu da Escola de Geologia de Pernambuco.
Desta que frequentava diversas igrejas, como agem as beatas, antes de ser acometida do mal de alzheimer e falecer devido a um AVC.
Seu nome Nina Fernandes. Era manicure de minha mãe e se tornou membro da família, pois, não tinha familiares e amava muito meus pais, a mim e minha irmã.
Era uma pessoa extremamente simples do interior de Pernambuco, salvo engano, da cidade de João Alfredo.
Tia de Vida – O Náutico
Quem me levou a torcer para o Náutico, foi meu pai, o Professor Bhaskara Rao. Mas, era Tia Nina que me levava para o campo quando eu era criança.
Lembro de um jogo como se fosse hoje – Náutico X América – como foi emocionante ir para o campo, como me lembro nitidamente da imagem de estar com ela torcendo de forma ímpar para o Timbu.
Outra coisa que lembro é que ela morava com Betinha, salvo engano, e havia uma senhora muito idosa, que no seu leitor, era torcedora fervorosa do Náutico. Uma vizinha.
Tudo isso vem de forma forte em minhas lembranças e me marcou profundamente.
Tia de Boca – Inês Maia
Inês Maia era filha de Betinha e foi minha primeira namorada. Tia Nina ficou tão feliz com o nosso namoro, na verdade ela dava uma força incomensurável para que o mesmo vingasse.
Ela, minha Tia Nina, que nunca casou, nem namorou vivia o nosso namoro com toda intensidade.
Soube há alguns anos atrás que o nosso namoro não deu certo por influência externa que não a de Tia Nina.
Tia de Vida – Distanciamento
Fiquei distante dela por um tempo, enquanto buscava caminhos para minha vida. Mas, ela nunca deixou de nos visitar. Mesmo morando em Recife, ela vinha e passava meses aqui com minha mãe e meu pai. Sua morte, por sinal, lembrou-me muito a morte do meu pai, que era tão defendido e admirado por ela.
Por que defendido? Porque eu e meu pai, e me orgulho disso, bebíamos em bares para nos divertir, e muitas vezes, eramos criticados por membros da família. Tudo isso, poucos sabem, pela saudade que meu pai sentia de sua terra, e também, pela magia de como a bebida nos faz sonhar.
Evoé baco, à época uísque. Ela nos defendia das críticas. Linda Nina, minha tia.
Tia de Coração – Defesa
Citei acima uma das defesas.
A outra foi quando minha mãe veio me dar uma surra porque eu tinha comido uma caixa de chiclete Ping Pong.
Mamãe sempre eu fazia traquinagens, me batia com sandálias havaianas, doía um pouco, ficavam marcas, mas, mamãe tinha razão, muitas vezes eramos levados e danados.
Neste dia específico, eu estava pelado (risos) tomando banho e mamãe veio me bater. Tia Nina se colocou à frente e implorou para ela não agir daquela forma. Sabia que eu tinha errado, e minha mãe, se bem lembro, desistiu.
Nenhuma tia de verdade, de sangue, me amou tanto quanto Tia Nina. Ela me criticava, mas, me amava como ninguém.
Tia de Boca – Bolo de Rolo
Outra genialidade desta brasileira, desta mulher, desta pernambucana. Todas vez que ela vinha nos visitar em Brasília, trazia como presente para toda nossa família, o bolo de rolo.
Nossa era divino. Ela fazia esse bolo como ninguém e todos nós comíamos a mil.
Que tia, que saudades, que magia. Ela na sua simplicidade, trazia a sua jóia rara, o bolo de rolo.
Tia do Coração – Presentes
Depois, quando comecei a ganhar dinheiro, ela me pedia presentes. Eu com meu salário as vezes dava, as vezes não. Não porque não pudesse, mas, não gostei quando ela começou a me vincular a bens materiais, mas, isso logo passou.
Tia de Vida – Sua família
De repente ela encontrou familiares e depois de algum tempo, teve Alzheimer, e por fim, AVC. Foi acolhida, em seus últimos dias, no Hospital Português, um dos melhores de Pernambuco. E toda a internação organizada pela amiga de longa data, Inês.
Na última visita que fiz a ela, minha mãe que tinha 80 e tantos anos, de óculos escuros estava. Ela já com Alzheimer me abraçou, me chamou de lindo, e minha mãe observava.
Fomos acolhidos com magia por sua família de sangue e quando ela sentou ao lado da minha mãe, sua grande amiga, confidente, irmã, chorou, pois, não se lembrava de nada e nós nada podíamos fazer a não ser dizer que ela era muito bacana.
Abaixo mais de oitenta fotos deste encontro. Clique no símbolo do Facebook para ver todas. Durante todo o encontro ela disse que eu era lindo.
Visitamos ela na casa dela em João Alfredo. Veja tudo no link: http://www.culturaalternativa.com.br/anand-rao/outros/1718-homenagem-a-nina-fernandes-minha-tia-minha-amiga-hoje-com-alzheimer-por-anand-rao
Publicado por Portal Cultura Alternativa em Segunda, 8 de dezembro de 2014
Tia de Boca – Última Homenagem
Vou enviar este texto, único talvez que vai retratar quem foi essa Pernambucana, essa brasileira, essa mulher.
Vou enviar para o Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco, solicitando que o Museu, onde ela trabalhou anos a fio, defendeu, amou, fez tudo, seja nominado, Museu Nina Fernandes.
Se eles vão fazer, não sei. Só sei que vou pedir como jornalista que tem atuação no cenário jornalístico nacional com o Cultura Alternativa que tem mais de 200 mil páginas visitadas dia a dia.
Viva Tia Nina, viva essa mulher que amou a família Adusumilli como ninguém, que foi amiga íntima de minha mãe e meu pai sempre.
Tia Nina? Saiba. Não paro de me emocionar com sua passagem, e saiba também, onde estiver e sei que é no céu, que papai está lhe aguardando para tomar um uísque com a senhora.
E não se preocupe, se D. Maria (minha mãe) ficar brava porque Rao está bebendo, ligue não, pois, eu aqui vou alcama-la, ela que está entre nós.
Um beijo Tia Nina que Deus te abençoe e acolha e peço por fim sua benção terminando este texto.
Anand Rao
Editor do Cultura Alternativa