Cartão de crédito no Brasil: como os juros altos e o uso do rotativo afundam o orçamento
O cartão de crédito, quando bem administrado, pode facilitar o controle de despesas, permitir o parcelamento de compras e até gerar benefícios em programas de pontos.
No entanto, para milhões de brasileiros, ele tem sido o principal fator de endividamento.
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), mais de 70% dos consumidores utilizam o crédito rotativo em algum momento. Além disso, quase metade dos endividados compromete mais de 30% da renda com dívidas do cartão.
Esses dados apontam para uma realidade preocupante. Afinal, os juros do rotativo no Brasil superam os 400% ao ano, segundo o Banco Central, o que coloca o país entre os líderes mundiais em taxas elevadas.
Entenda o que é o crédito rotativo e por que ele representa um risco
O crédito rotativo entra em ação quando o consumidor paga apenas uma parte da fatura e deixa o restante para o mês seguinte. Essa diferença não quitada sofre incidência de juros, encargos e taxas administrativas.
Consequentemente, o valor da dívida aumenta de forma acelerada. Em poucas semanas, o saldo inicial pode se multiplicar, levando o consumidor a um ciclo difícil de quebrar. Muitas pessoas continuam usando o cartão mesmo endividadas, agravando ainda mais a situação.
Cartão de crédito
Por que tantos brasileiros caem nessa armadilha?
Diversos fatores explicam essa dependência do crédito. Em primeiro lugar, a facilidade de acesso: muitas instituições oferecem cartões com limites elevados, mesmo para clientes com renda instável.
O parcelamento sem juros, por sua vez, cria a falsa sensação de controle, mascarando o impacto das compras.
Além disso, a falta de educação financeira ainda é uma realidade. Poucos brasileiros aprendem a administrar o orçamento doméstico, evitar o uso excessivo do crédito ou compreender os riscos dos juros compostos.
Soma-se a isso o aumento do custo de vida, o desemprego e a informalidade, que pressionam a população a usar o cartão como alternativa para despesas básicas.

Como sair do vermelho e usar o cartão de forma inteligente
Apesar do cenário desafiador, há caminhos possíveis para reorganizar a vida financeira e transformar o cartão em um aliado. Veja algumas recomendações práticas:
- Evite o crédito rotativo: sempre que possível, pague o valor integral da fatura. Se não for viável, opte pelo parcelamento da fatura oferecido pela operadora, que tem juros mais baixos.
- Estabeleça limites de uso: tente não ultrapassar 20% da sua renda mensal em compras no cartão.
- Acompanhe os gastos com frequência: utilize aplicativos, notificações e ferramentas de controle para monitorar a fatura em tempo real.
- Planeje o uso do cartão: evite compras parceladas em muitos meses, que comprometem o orçamento futuro.
- Negocie dívidas: caso a dívida já tenha crescido demais, entre em contato com a operadora para buscar condições de renegociação.
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Mesada escolar – Desenvolvendo Educação Financeira
Por fim, é importante lembrar que o problema do endividamento não está apenas no cartão em si, mas também na ausência de planejamento e orientação financeira. Investir em educação, desde a infância, pode gerar impactos duradouros no comportamento de consumo da sociedade.
Enquanto isso, cabe a cada consumidor buscar conhecimento, rever seus hábitos e tomar decisões mais conscientes. O cartão de crédito não precisa ser um vilão. Usado com responsabilidade e atenção, ele pode, sim, ser uma ferramenta útil no dia a dia.
Agnes Adusumilli
Cultura Alternativa
Referências
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) – Dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
🔗 Site: https://www.cnc.org.br
Taxas de juros do crédito rotativo – Dados disponibilizados pelo Banco Central do Brasil, que publica regularmente os percentuais médios aplicados pelas instituições financeiras.
🔗 Site: https://www.bcb.gov.br
REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA