Fo jazz em noite brillhante do Jazz In Marciac
O Artemis, que abriu a noite desta quarta-feira da edição 2024 do Festival de Jazz de Marciac, na França, tem pelo menos cinco ótimos motivos para atrair nossa simpatia:
- É transgeracional;
- É formado por excelentes instrumentistas;
- É um coletivo e não um grupo;
- É transnacional;
- É integrado somente por mulheres.
Por si só esses cinco atrativos já tornariam o coletivo capitaneado pela pianista virtuose canadense Renee Rosnes (que já tocou com Ron Carter, Jack Dejohnette, Wayne Shorter e Joe Henderson, entre outros) uma atração à parte do festival.
Mas há mais. Há a peculiar sensibilidade feminina revestindo cada um dos standarts executados, sejam composições próprias ou clássicos de jazz, repertório que cobre vários subestilos do gênero.
Técnica, precisão e arrebatamento entram na receita e fisgam o público, que responde receptivo, concentrado e generoso em palmas ao espetáculo de imensa qualidade musical entregue por Renee, Ingrid Jansen (trompete), Nicole Glover (sax tenor), Norika Ueda (contrabaixo) e Allison Miller (bateria).
Além da excelente música que produz, esse coletivo também nos dá um exemplo renovador de organização. O Artemis representa uma alternativa aos velhos padrões da formação de grupos musicais.
Quem quiser tentar este novo caminho pode começar seguindo os cinco passos enunciados na abertura desse texto.
O Site Cultura Alternativa, já escreveu sobre:
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Fo jazz em noite brillhante do Jazz In Marciac
Kenny Garret
O que esperar de um grupo liderado por um saxofonista que tocou com Miles Davis e cuja inspiração é John Coltrane ? Num festival de jazz do quilate de Marciac, o mínimo que podemos espera é… tudo!
Foi com esse espírito que a platéia do JIM acolheu o norte-americano Kenny Garret.
E Garret não deixou por menos. Metido num paletó branco (estilo Coltrane), ele começou arrebentando a porta, arrancando melodias inspiradas de seu instrumento, enquanto seu super grupo fornecia uma cama melódica inusual mas segura e garantia um groove poderoso em força e volume.
O longo improviso e a vigorosa massa sonora da abertura vão se repetir ao longo de toda a apresentação. É free jazz com grande incidência das raízes africanas desse estilo. Não é por acaso que a base da apresentação é o disco “Sounds of the Ancestors“, que Garret lançou em 2021.
A partir da metade da apresentação em diante, um contingente mais entusiasmado da platéia vai se concentrando em frente ao palco. E uma incrível simbiose se cria entre Kenny e essa turma. Cada fraseado vibrante do saxofonista encontra reação acalorada do público.
E nesse clima a apresentação se estende até uma hora da madrugada. O público começa a deixar o Chapiteau. Mas Garret e os músicos têm de voltar para um bis.
Pois há resistentes (e insistentes) na platéia que não o querem deixar partir. Mais um improviso da banda e de Kenny, que acaba sozinho sobre o palco, em comunhão absoluta com o público que resta. É como se o Chapiteau tivesse encolhido e se transmutado em um pequeno clube do Village.
Por Carlos Dias Lopes