Como se Divorciar como Aliados, Não como Inimigos
A dissolução de um casamento costuma ser encarada como um processo marcado por desentendimentos, disputas judiciais e ressentimentos que deixam cicatrizes emocionais profundas.
No entanto, é possível transformar essa experiência em um caminho de respeito mútuo e cooperação, especialmente quando há filhos envolvidos.
Em sua palestra no TED, Allison O’Brien compartilha reflexões baseadas em sua própria vivência para demonstrar que um rompimento não precisa ser sinônimo de hostilidade, mas sim de uma transição estruturada, voltada para o bem-estar da família.

Casamento e Separação: Duas Faces da Mesma Moeda
Ao subir ao altar, O’Brien carregava um peso interno que contrastava com a alegria do momento. Filha de pais divorciados, viveu na pele os impactos de um término conflituoso.
Durante toda a infância e juventude, presenciou episódios de tensão entre seus genitores, que raramente dividiam o mesmo espaço de maneira harmoniosa. Essa memória a acompanhava e a fazia refletir sobre como evitar que a história se repetisse.
O cenário da separação conjugal é cada vez mais comum. Muitas uniões chegam ao fim, afetando diretamente um grande número de crianças.
Estudos apontam que menores expostos a conflitos parentais constantes apresentam maiores dificuldades no âmbito emocional, acadêmico e comportamental.
Esses impactos, quando não administrados com sabedoria, podem refletir ao longo de toda a vida adulta.
Quinze anos depois de seu matrimônio, O’Brien se viu diante da mesma situação que marcou sua infância.
Ao perceber que sua união com Ben chegava ao fim, enfrentou um dilema: seguir o caminho tradicional, que envolve batalhas legais, ou adotar uma abordagem mais equilibrada e respeitosa.
Como se divorciar
Uma Escolha Diferente
O momento de comunicar sua decisão ao pai foi carregado de ansiedade. Em uma conversa telefônica, enquanto realizava compras em uma loja de departamento, ela compartilhou sua angústia, suas incertezas financeiras e suas preocupações com a guarda dos filhos. A resposta foi direta: contratar um advogado e garantir seus direitos.
Contudo, essa não era a solução que buscava. Ela desejava que seus filhos pudessem contar com ambos os pais em todas as fases da vida.
Queria que a presença paterna e materna permanecesse constante em eventos escolares, apresentações esportivas e momentos importantes. Para isso, decidiu aplicar os princípios que ensinava em sua atuação profissional voltada à gestão de conflitos.
Fundamentos Para um Divórcio Sem Hostilidade
Ao refletir sobre sua experiência, O’Brien identificou três pilares essenciais para que um casal possa conduzir uma separação sem mágoas e sem transformar o fim do casamento em um campo de batalha.
Perspectiva Voltada para o Amanhã
O primeiro passo é libertar-se do passado. Guardar ressentimentos apenas prolonga o sofrimento e impede que ambas as partes sigam em frente.
Quando há filhos, o antigo parceiro jamais deixará de fazer parte da vida. Ele estará presente em reuniões escolares, celebrações e momentos significativos.
A grande questão que se coloca é de que forma essa convivência será conduzida. Pode-se escolher alimentar sentimentos de raiva e frustração ou construir uma relação baseada na maturidade, no respeito e na gratidão pelos bons momentos vividos.
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Flexibilidade Emocional Como Instrumento de Transformação
Um dos maiores desafios da separação é lidar com a intensidade das emoções. Em momentos de tensão, o cérebro reage instintivamente, dificultando a tomada de decisões racionais.
Esse fenômeno, estudado pela neurociência, ocorre quando as emoções dominam a razão, impedindo uma comunicação produtiva.
A solução consiste em aprender a pausar antes de reagir. Em situações de desentendimento, em vez de responder impulsivamente, é preciso respirar, refletir e reformular a abordagem.
Perguntar-se sobre o que pode estar sendo ignorado ou qual ponto de vista ainda não foi considerado ajuda a ampliar a compreensão da situação e reduz os atritos.
Por exemplo, caso um dos pais queira modificar o esquema de visitas, a reação imediata pode ser negativa.
Porém, ao invés de responder com irritação, uma maneira mais produtiva de lidar com a questão seria questionar quais são as reais necessidades que motivam esse pedido.
Essa mudança na maneira de conduzir o diálogo pode evitar confrontos desnecessários.
A Escuta Ativa Como Ferramenta de Mediação
Nas discussões relacionadas ao fim de uma relação, muitas vezes os envolvidos estão mais preocupados em convencer o outro do próprio ponto de vista do que em compreender suas razões. Essa postura dificulta qualquer possibilidade de entendimento.
O’Brien enfatiza a importância da escuta genuína. Ao ouvir atentamente, novas perspectivas podem surgir, facilitando a construção de soluções equilibradas.
Em vez de tentar vencer uma disputa verbal, o mais eficaz é reformular a abordagem e fazer perguntas que incentivem um diálogo aberto.
No contexto da separação, essa técnica pode ser determinante para evitar desentendimentos prolongados.
Quando ambos se comprometem a ouvir antes de responder, torna-se possível encontrar alternativas que beneficiem todas as partes envolvidas, principalmente os filhos.
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O Divórcio Não Precisa Representar Fracasso
Muitas pessoas encaram o fim de um casamento como um insucesso, mas O’Brien desafia essa visão.
Para ela, uma separação pode ser conduzida de maneira construtiva, sem que isso signifique a destruição dos laços familiares.
Ao encerrar sua palestra, compartilha um exemplo concreto de que essa abordagem pode funcionar. Ela mantém uma relação saudável com seu ex-marido, com quem mantém conversas frequentes sobre os filhos.
Na plateia, Ben estava presente, ao lado da filha e do atual esposo de O’Brien, demonstrando que é possível transformar um relacionamento conjugal encerrado em uma parceria parental bem-sucedida.
Sua fala final sintetiza o propósito de toda a sua mensagem: nenhuma outra pessoa no mundo ama seus filhos tanto quanto ela, exceto o próprio pai das crianças.
Construindo Uma Nova Forma de Separação
A dissolução de uma união pode ser menos traumática quando conduzida com sabedoria e equilíbrio. A experiência de O’Brien revela que, com perspectiva voltada para o futuro, controle das emoções e escuta ativa, é possível transformar esse momento delicado em um recomeço sereno.
Seja para aqueles que já passaram por uma ruptura difícil ou para quem está enfrentando essa situação agora, há sempre espaço para modificar a forma como se lida com o término.
Ao agir com respeito e maturidade, é possível preservar o bem-estar dos filhos e construir um relacionamento mais saudável com o ex-cônjuge.
As crianças, sem dúvida, são as maiores beneficiadas quando os pais escolhem atuar como aliados e não como adversários.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
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