Bhaskara Rao Adusumilli: O Cientista que Construiu Pontes entre a Índia e o Brasil
Uma mente brilhante que atravessou oceanos
Poucas histórias na geologia brasileira são tão marcantes quanto a de Bhaskara Rao Adusumilli. Indiano de nascimento, brasileiro por escolha e cientista por vocação, ele ajudou a estruturar o ensino da geologia no Brasil e deixou um legado que ultrapassa as fronteiras acadêmicas.
Sua contribuição não se limitou às salas de aula: formou gerações de profissionais, publicou pesquisas inovadoras e consolidou a mineralogia como um campo de estudo fundamental para o país.
A vida de Bhaskara Rao é a história de um homem que atravessou continentes em busca do conhecimento e, ao chegar ao Brasil, ajudou a moldar um novo cenário para as geociências.
Seu impacto se faz sentir até hoje, seja nos cursos de geologia que ajudou a estruturar, seja no reconhecimento internacional que o Brasil conquistou na pesquisa mineralógica.
Bhaskara Rao Adusumilli
Uma jornada do conhecimento: da Índia ao Brasil
Nascido em 1928 na cidade de Secunderabad, na Índia, Bhaskara Rao sempre teve um fascínio pelos minerais e pelo solo que nos sustenta.
Após concluir o bacharelado e o mestrado em Geologia na Universidade de Andhra, ele percebeu que o caminho para uma carreira de impacto exigiria conhecimento além das fronteiras de seu país. Partiu para a Suíça, onde se doutorou pela Universidade de Berna, especializando-se no estudo de minerais em fendas alpinas.
Sua trajetória tomou um rumo inesperado quando recebeu um convite para lecionar no Brasil. O país vivia um momento de crescimento e buscava consolidar o ensino da geologia, atraindo especialistas estrangeiros para impulsionar essa área.
Foi assim que, em 1958, Bhaskara Rao chegou ao Brasil para atuar na Universidade do Recife (atual Universidade Federal de Pernambuco), tornando-se um dos responsáveis pela criação do primeiro curso de Geologia do país.
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Recife e o nascimento de um novo polo de geociências
Ao integrar o quadro docente da Universidade do Recife, Bhaskara Rao se uniu a um seleto grupo de especialistas que incluía nomes como Heinz Ebert e Karl Beurlen. Ele assumiu as cadeiras de Mineralogia e Geologia Econômica, disciplinas fundamentais para a compreensão dos recursos naturais do país.
A paixão pela mineralogia fez com que ele não se limitasse apenas às salas de aula. Fundou o Clube de Mineralogia, incentivando estudantes a explorarem o campo de maneira mais aprofundada, e criou o Jornal de Mineralogia, um veículo inovador para disseminar conhecimento técnico e científico. Seu trabalho ajudou a consolidar Recife como um polo de excelência na geologia brasileira.
Bhaskara Rao Adusumilli
A pesquisa que transformou o Brasil
Se o ensino era uma de suas paixões, a pesquisa científica era outra. Bhaskara Rao se dedicou ao estudo de depósitos minerais estratégicos, incluindo tungstênio, ouro laterítico e pegmatitos portadores de gemas.
Suas descobertas não apenas ampliaram o conhecimento sobre a riqueza geológica do Brasil, mas também orientaram políticas de exploração mineral e ajudaram a mapear novas fronteiras econômicas para o setor.
Seu nome figurava entre os pesquisadores mais produtivos da geologia brasileira. Publicou centenas de artigos científicos, escreveu cinco livros e colaborou em diversas obras coletivas. Além disso, seus trabalhos foram apresentados em congressos ao redor do mundo, projetando internacionalmente o nome do Brasil no campo da mineralogia.
Consolidação na Universidade de Brasília
Em 1971, Bhaskara Rao deu um novo passo em sua trajetória ao ingressar como professor titular na Universidade de Brasília (UnB).
Ali, ele não apenas lecionou, mas ajudou a estruturar e consolidar o Instituto de Geociências. Coordenou o programa de pós-graduação, orientou alunos e liderou pesquisas que fortaleceram a UnB como referência nacional na área.
Durante mais de duas décadas na UnB, ele influenciou o pensamento geológico brasileiro e deixou um impacto que ainda reverbera na universidade. Seus alunos – muitos dos quais se tornaram professores, pesquisadores e geólogos de renome – carregam seu legado e perpetuam a excelência que ele ajudou a construir.
Bhaskara Rao Adusumilli
O reconhecimento de um cientista
O reconhecimento pelo seu trabalho veio em diversas formas. Bhaskara Rao recebeu prêmios como a Medalha de Ouro de Pesquisa Mineral (1971), a Medalha dos 30 Anos do CNPq (1981) e o prestigiado Prêmio José Bonifácio de Andrade e Silva (1992). Além disso, foi membro de 18 sociedades científicas, incluindo a Academia Brasileira de Ciências.
Apesar das inúmeras honrarias, o maior reconhecimento veio daqueles que conviveram com ele: seus alunos e colegas, que viam em Bhaskara Rao não apenas um cientista brilhante, mas um professor dedicado, generoso e apaixonado pelo conhecimento.
Homenagem póstuma da Alepe
Em 10 de outubro de 2023, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) prestou uma homenagem póstuma a Bhaskara Rao Adusumilli, incluindo seu nome no Memorial dos Notáveis Cientistas de Pernambuco.
A honraria, concedida pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Alepe, reconhece personalidades que contribuíram significativamente para a ciência e cultura no Brasil.
A solenidade contou com a presença de diversas autoridades e familiares dos homenageados. Durante o evento, foram entregues placas comemorativas aos familiares dos cientistas, e no caso de Bhaskara Rao, seu filho, Anand Rao, recebeu a homenagem em nome da família.
A viúva do professor, Maria do Socorro Adusumilli, preparou um discurso emocionado, que foi lido por Anand durante a cerimônia.
Em sua fala, Anand Rao destacou o orgulho da família pelo reconhecimento público ao trabalho de seu pai e enfatizou sua dedicação incansável à geologia e à formação de novos cientistas.
“Esse reconhecimento póstumo é motivo de imenso orgulho e conforto para nossa família”, afirmou. O discurso relembrou a paixão de Bhaskara Rao pelo ensino e sua forte conexão com Pernambuco, onde ajudou a construir um dos primeiros cursos de Geologia do país.
Ao final da homenagem, uma salva de palmas calorosa refletiu a emoção e o respeito dos presentes.
Bhaskara Rao Adusumilli
Conclusão: um legado que ecoa na ciência brasileira
Bhaskara Rao Adusumilli faleceu em Brasília, em 27 de novembro de 2003, mas seu legado continua vivo. Ele foi mais do que um geólogo: foi um educador que ajudou a moldar a ciência brasileira, um mentor que inspirou gerações e um cientista cujo trabalho ainda orienta pesquisas e descobertas no país.
A homenagem póstuma da Alepe reafirmou a importância de sua trajetória e a influência que seu trabalho segue exercendo no Brasil.
Seu nome, agora eternizado no Memorial dos Notáveis Cientistas de Pernambuco, simboliza não apenas a grandiosidade de sua obra, mas também a inspiração que ele deixou para todos aqueles que acreditam na ciência como ferramenta de transformação.
A história de Bhaskara Rao não se encerra com sua morte, porque suas ideias continuam vivas. A cada mineral estudado, a cada pesquisa publicada e a cada aluno formado sob sua influência, um pedaço de sua jornada se mantém presente.
Ele atravessou continentes para dedicar sua vida à ciência – e a ciência, por sua vez, jamais o esquecerá.
REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA
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