Originalidade é mito - Cultura Alternativa

Originalidade é mito: estilo e propósito é fundamental

Então nada surge do nada

Originalidade é mito. Iniciando uma reflexão sobre criatividade, destaca-se que o mito da originalidade absoluta desvirtua o potencial criativo. Austin Kleon, autor de Steal Like an Artist, afirma que “nada é original… todo trabalho criativo constrói-se sobre o que veio antes”. Ele defende que aceitar nossas influências é libertador, pois “copiar”, no sentido de aprender com mestres, é a base para desenvolver voz própria. Em vez de tentar reinventar a roda, o caminho mais eficaz é remisturar ideias que já foram testadas e testá-las com autenticidade.

Além disso, Kleon reforça que não se deve esperar o momento “perfeito” ou um sentido de identidade definido para começar a criar. A prática constante, mesmo inspirada por referências externas, é o que molda a identidade criativa. Assim, a originalidade real desponta no processo de fazer e refinar, não no ponto inicial de um projeto.


Por isso, roubar é arte

Logo, o conceito de “roubar como artista” propõe uma cópia seletiva, criativa e ética. Mais do que duplicar, trata-se de identificar pontos que ressoam pessoalmente e recontextualizá-los com sinergia. Kleon sugere formar uma “árvore de influências”: estudar não só seu ídolo, mas também as fontes que o influenciaram. O processo envolve coletar referências variadas, filtrá-las cognitivamente e sintetizá-las em algo que soe genuíno.

Em seguida, curadoria criativa assume o papel principal: como uma mistura de cores na tela, o artista combina elementos até gerar algo próprio. Esse método rompe com a farsa da genialidade sem perder de vista o valor da execução disciplinada e das limitações saudáveis, que servem de catalisador para boas ideias. Ao “roubar como artista”, sua identidade emerge não do silêncio, mas da ressonância profunda entre o mundo e sua própria visão.


Entretanto, sem filtro, perde-se tudo

Contudo, vale lembrar: copiar sem reflexão é contraproducente. Plágio ou imitação total, sem trazer nada de si, leva à perda de identidade e relevância. Kleon difere “imitar” de “emular”, o primeiro é senso comum, o segundo é mergulho profundo na forma de enxergar do outro, para então extrapolar. A verdadeira arte está no filtro: o que escolho incorporar? Como minha visão se posiciona ali? Esse filtro é o que separa cópia de criação autêntica.

Também é essencial ter repertório amplo: livros, filmes, viagens, conversas, hobbies. Quanto mais diversificado for seu banco de referências, mais combinações inéditas poderá criar é o que Kleon chama de “ideias mashup”. E ainda reforça: rotina, disciplina e simplicidade são aliadas. A criatividade plena brota de hábitos firmes e não do caos. Com coerência e consistência, o criador evita dispersões e constrói uma marca única.


Conclusão

Em suma, a originalidade não nasce do nada: ela floresce no encontro entre influência, escolha e transformação. Ao “roubar com estilo” — filtrando, recombinando e aprofundando — você constrói voz, identidade e impacto, sem ignorar que cada passo é influenciado por um legado maior. Essa é a arte do criador consciente: abraçar referências, disciplinar-se e, por fim, deixar ressoar algo que é unicamente seu.


Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa