Porque os franceses fumam tanto cigarro e cigarro eletrônico - Cultura Alternativa

Porque os franceses fumam tanto cigarro e cigarro eletrônico

Fumantes a mil na França

Porque os franceses fumam tanto cigarro e cigarro eletrônico é uma questão que envolve cultura, hábitos sociais e políticas públicas. Apesar dos avanços nas restrições, o tabagismo e o uso de dispositivos eletrônicos para fumar permanecem altos na França, segundo dados recentes de órgãos de saúde nacionais e internacionais.


Tradição cultural e números atuais

Atualmente, a França está entre os países da Europa Ocidental com maiores índices de tabagismo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 31,9% dos franceses com 15 anos ou mais fumam regularmente. Em 2022, essa taxa estava em 29,2% dos adultos, o que representa cerca de 16,4 milhões de pessoas. O tabaco é responsável por aproximadamente 75 mil mortes anuais no país, equivalente a 8,5% de todos os óbitos.

Além disso, a relação histórica da França com o cigarro é notória. O imaginário popular ainda associa a figura do francês ao ato de fumar, reforçado por décadas de cinema, literatura e publicidade. Essa imagem consolidou-se como parte de um estilo de vida que mistura sociabilidade, elegância e liberdade individual.

Por conseguinte, os tradicionais “tabac” — pequenas tabacarias espalhadas por todo o território — reforçam a normalização do consumo. Esses estabelecimentos funcionam como pontos de encontro e fortalecem o caráter social do hábito, reduzindo a pressão para abandoná-lo.


Políticas públicas e popularidade do e-cigarro

No campo legislativo, a França tem avançado em medidas restritivas. Desde 1º de julho de 2025, está proibido fumar em praias, parques, paradas de ônibus, áreas externas de escolas e estádios. A multa para quem descumprir é de até 135 euros. Entretanto, cafés e esplanadas ficaram fora da proibição, preservando parte do espaço social ligado ao tabaco.

Ademais, o uso de cigarros eletrônicos cresce, sobretudo entre jovens. Pesquisas indicam que 22% dos franceses com mais de 15 anos já experimentaram o dispositivo, e cerca de 6% o utilizam diariamente. Entre adolescentes, o aumento é ainda mais expressivo, com o dobro de usuários diários desde 2014.

Por sua vez, a expansão de lojas especializadas — de apenas 21 em 2010 para quase 2.700 em 2018 — ampliou o acesso. A variedade de sabores, o marketing direcionado e a percepção de menor nocividade impulsionam a adesão ao e-cigarro.


Motivações, desafios e perspectivas

Culturalmente, fumar ainda é visto por parte da população como símbolo de autonomia e emancipação pessoal. Essa percepção é mais evidente entre mulheres, um reflexo de mudanças sociais desde os anos 1970. Além disso, fatores econômicos e comerciais, como o contrabando e a ação de lobbies da indústria, dificultam a redução consistente dos índices de consumo.

Por outro lado, no caso dos cigarros eletrônicos, há um movimento duplo: para alguns, o dispositivo é porta de entrada ao tabagismo; para outros, funciona como ferramenta de cessação, ajudando a reduzir ou substituir o cigarro tradicional. Em 2023, estimava-se que 3,5 milhões de adultos franceses utilizavam o e-cigarro regularmente.

Finalmente, ainda que as políticas públicas estejam mais rígidas, não conseguiram reduzir drasticamente o número de fumantes. Quase um terço da população adulta fuma, o que evidencia que fatores culturais e a ampla disponibilidade de produtos continuam fortes. O futuro dependerá de regulamentações mais abrangentes e de estratégias que conciliem saúde pública e hábitos sociais.


Anand Rao
Editor Chefe
Cultura Alternativa