A PAZ QUE REINOU NO CARNAVAL DE PERNAMBUCO
Carnaval, festa pagã da carne, do desbunde do povo, festa onde tudo é permitido em nome da diversão, do escracho escancarado historicamente.
Universo da crítica, da sátira ácida e da ironia sobre personalidades públicas, celebridades da vez. O povo critica as posições expostas pela mídia. Porém, com tanta permissividade, o carnaval muitas vezes foi palco de muita violência, de uma violência incontida e irracional.
Os dados oficiais da Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco apontam que seus índices de violência diminuíram em todo o Estado nesse ultimo carnaval.
Conhecido como o maior carnaval do mundo, por suas manifestações culturais típicas extrapolar as cidades de Recife e de Olinda, se estendendo por todo interior do estado. Em Goiana, Bezerros, Aliança, Triunfo, Pesqueira, todas essas cidade apresentam expressões próprias da cultura popular, como Caboclinhos, Maracatu Rural (Baque Solto), Caiporas, Caretas, Papangus… representantes da grande riqueza que compõe o acervo patrimonial, cultura repassada por gerações, pela tradição das famílias que preservam a memória cultural da região.
Os acontecimentos do ano anterior influenciam diretamente os temas que permeiam o carnaval. Após tantas desavenças durante as eleições, houve a polarização política da sociedade, a grande marca daquele momento. O extremismo partidário, a esquerda versus a direita, o comunismo versus o fascismo, muitas posições e oposições fizeram com que laços de amizade e até as relações familiares se estremecessem diante uma disputa política radical e discussões irracionais acerca dos candidatos e partidos era sempre um assunto sensível qualquer questão que permeasse o pleito eleitoral.
Era obvio que o resultado dessa intolerância política acabasse afetando de forma negativa o carnaval, e a irreverência e descontração traria à tona inevitavelmente o que mais afetou a vida da população naquele ano.
Em 2019, durante o carnaval de Recife e Olinda, a harmonia e o bom humor, contrariou o esperado. As brincadeiras envolveram questões políticas e notícias recentes do novo governo. As fantasias pautadas na ironia e na crítica social foi o ponto alto, que estranhamente não resultou em nenhum tipo de violência.
Como de costume, apareceram foliões fantasiados de forma criativa manifestando suas frustrações e decepções. Apareceu a “Mamadeira de ‘Pitoca’”, tema recorrente na eleição; o “Laranjal do Queiroz”, referindo-se aos processos investigados pela polícia federal; O “Jesus na Goiabeira” e o “Vai de Rosa ou de Azul”, sobre a fala da Ministra Damares Alves, que virou mêmes… todos temas recorrentes na TV e na internet. Em nenhum momento resultou em manifestação de violência ou disputa partidária. Não houve mudanças nos posicionamentos políticos, apenas uma trégua confortável, uma brincadeira saudável inconsequente, que viabilizou a paz no carnaval.
O povo brasileiro aprendeu expurgar suas frustrações e decepções sempre com a sabedoria e ironia, satirizando os problemas e exorcizando seus algozes. Tem a capacidade de esquecer opiniões divergentes e crenças, evitando qualquer manifestação de intolerância por discordância de opinião, que se apresentar tão evidente e estabelecida como no momento político.
Deixou de fora diferenças e consolidou a festividade, imune a violência que poderia surgir a qualquer momento, a partir das disputas de opiniões radicais. Foi um carnaval de certa forma consentido, permissivo e, por isso mesmo, comemorado em paz nas relações entre os foliões. Não era esperado que os índices de violência diminuíssem com a população dividida, porém o impossível aconteceu.
Não houve desavenças por questões ideológicas ou posicionamento político e a violência, comum a todos os carnavais, diminuiu consideravelmente. E o mérito foi de quem?
Wellington de Mello – Escritor, Redator, Publicitário, Designer Gráfico e Fotógrafo
Especial para o Cultura Alternativa