CEOs Mulheres: Mais Qualificadas, Menos Reconhecidas?

Mulheres na liderança: mais qualificadas, ainda sub-representadas nas empresas

Em um cenário onde apenas 6% dos CEOs no Brasil são mulheres, segundo levantamento da Bain & Company, surge uma contradição gritante: embora poucas cheguem ao topo, as que conseguem possuem qualificação superior à dos seus pares masculinos.

A disparidade de gênero na alta liderança corporativa vai muito além da presença simbólica — ela revela um sistema que exige mais das mulheres para entregar resultados semelhantes ou até melhores.

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Mulheres na liderança

Elas Chegam Lá, Mas a Escada Ainda É Íngreme

Apesar de uma leve evolução no índice de CEOs do sexo feminino — que dobrou em cinco anos —, os obstáculos continuam numerosos.

Segundo dados analisados pela Forbes Brasil (jun. 2025), as executivas têm quatro vezes mais chances de deixar o cargo em menos de 12 meses, e quase 25% abandonam a função em até dois anos — um número que mais que dobra quando comparado à rotatividade masculina.

Esse fenômeno não está isolado: reflete uma estrutura organizacional fragilmente preparada para reter lideranças femininas.

Muitas vezes, o problema não está apenas no acesso à vaga, mas na sustentação da permanência em ambientes de poder onde as mulheres ainda enfrentam resistência, isolamento ou sobrecarga emocional.

Mais Qualificadas, Mais Cobradas

Pesquisas recentes mostram que mulheres líderes não apenas alcançam resultados comparáveis, como superam seus colegas homens em várias competências.

Um estudo global citado pela Harvard Business Review apontou que executivas se destacam em áreas como resolução de problemas, integridade e colaboração — habilidades especialmente valorizadas em tempos de instabilidade.

Além disso, organizações com maior presença feminina em cargos de liderança possuem até 15% mais chance de melhorar sua lucratividade, conforme revelou a consultoria McKinsey.

Isso reforça a tese de que a diversidade de gênero, quando levada a sério, não é apenas uma questão de justiça, mas também de estratégia empresarial.

Mulheres na liderança

Os Degraus Quebrados da Carreira Corporativa

Por outro lado, mesmo com desempenho acima da média, muitas profissionais encontram barreiras invisíveis.

O chamado “teto de vidro” ainda é uma realidade, assim como o conceito mais recente do “degrau quebrado“, que aponta dificuldades logo nos primeiros níveis de promoção — principalmente entre mulheres negras e latinas.

Dados da Lean In Foundation revelam que, para cada 100 homens promovidos a cargos de gerência, apenas 87 mulheres recebem a mesma oportunidade.

Isso cria um funil de exclusão que reduz drasticamente o número de candidatas viáveis a cargos executivos no futuro.

Exemplos que Inspiram e Mudanças Necessárias

Felizmente, algumas empresas já perceberam que é preciso agir. Iniciativas como o programa de liderança feminina da SH e a reestruturação do comitê executivo da SPAR Brasil — agora com 62% de mulheres — mostram que é possível transformar a cultura corporativa com ação intencional e metas claras.

Fora do ambiente empresarial, plataformas como o Mulheres Positivas, idealizada por Fabi Saad, oferecem capacitação gratuita, oportunidades e suporte emocional, ajudando milhares de brasileiras a se prepararem para cargos de liderança.

Um Chamado à Reflexão

Se mulheres demonstram, na prática, que são líderes eficazes, estratégicas e engajadas, por que ainda são minoria nos cargos mais altos?

Essa pergunta precisa ser encarada com seriedade não apenas por empresas, mas por toda a sociedade.

É preciso reavaliar como os processos de promoção, cultura organizacional e redes de apoio podem ser redesenhados para acolher e valorizar a diversidade de talentos.

Afinal, abrir espaço para lideranças femininas não é apenas corrigir uma distorção histórica — é também um passo inteligente rumo ao crescimento sustentável e inovador.


Anand Rao e Agnes Adusumilli
Para o Cultura Alternativa