Crônica Literária - O Homem que Enrolava as Mulheres com Sua Lábia Ele tinha uma lábia afiada, quase hipnótica. Aquele jeito de falar manso, envolvente, que fazia qualquer conversa parecer uma dança elegante de palavras. João — sim, esse era o nome dele, um nome comum para um homem nada comum no modo como lidava com a vida e, especialmente, com as mulheres. Se a comunicação fosse uma arte, João seria seu maior escultor, moldando frases e promessas como se fossem peças de uma obra-prima que, no final, desmoronava por não ter alicerces na realidade. João tinha o dom de encantar. Era impossível não se render à sua simpatia e à sua capacidade de contar histórias. Ele falava com a segurança de quem conhece o mundo e seus mistérios. Tinha resposta para tudo, planos para o futuro, e sempre parecia saber o que fazer, ou melhor, o que dizer. As mulheres com quem cruzava não tinham a menor chance. Cada uma se apaixonava pelo homem eloquente, que trazia consigo uma promessa de felicidade e sucesso. Casava-se, levava o amor aos lares, encantava as famílias. Para os pais, era o genro dos sonhos; para as mães, o exemplo de marido ideal. Mas essa imagem brilhante durava pouco. Era sempre o mesmo roteiro: João chegava, ganhava a confiança de todos, e com o tempo, os encantos começavam a perder o brilho. As promessas grandiosas que fazia aos quatro ventos, aquelas que traziam esperança de um futuro próspero, nunca se concretizavam. Logo se notava que o que ele dizia não se escrevia. João era uma pessoa que vivia mais no mundo dos sonhos do que na realidade. E, por mais que fosse visto como alguém bondoso e afável, estava sempre atolado em dívidas. Seu nome estava sujo na praça, e seus bolsos, constantemente vazios. Ana, uma das suas vítimas mais recentes, acreditava ter encontrado em João o parceiro ideal. Mesmo com os sinais de que algo não ia bem, ela se deixava levar pelas palavras doces, pelas promessas de dias melhores. Seu pai, Sr. Carlos, era mais cético. Ele, que já havia visto muito na vida, reconheceu o padrão. João podia ser charmoso, mas suas promessas vazias e a forma como se esquivava das responsabilidades revelavam sua verdadeira essência. Sr. Carlos tentou alertar a filha. Ele sabia que aquele homem, por mais que parecesse simpático e amável, era só um contador de sonhos, alguém que vivia na ilusão e fugia da realidade. O pai conversou com Ana inúmeras vezes. “Minha filha, preste atenção, esse rapaz vive de palavras. Ele não tem como cumprir o que promete. Já viu como ele evita falar dos problemas financeiros? Você nunca percebeu que ele sempre fala do futuro, mas o presente dele é um caos? Cuidado, meu bem. Não quero que você sofra.” Mas Ana, apaixonada e envolvida pela lábia de João, não ouvia. Suas palavras entravam por um ouvido e saíam pelo outro, como se fossem ecoando, mas sem deixar marcas. O amor dela era mais forte que qualquer conselho. Sr. Carlos tentou até mesmo conversar com a ex-mulher, mãe de Ana. Afinal, quem sabe ela conseguiria abrir os olhos da filha? Ele até chamou a irmã mais velha de Ana para a conversa, esperando que, em conjunto, pudessem mostrar à jovem que João não passava de um sonhador irresponsável. Contudo, como diz o ditado, “Santo de casa não faz milagres”. De nada adiantaram os conselhos, as tentativas de abrir os olhos de Ana. Ela estava decidida a acreditar no que João dizia, no futuro brilhante que ele sempre prometia. E assim, a vida de Ana, como a de tantas outras mulheres antes dela, começou a ruir lentamente. O homem que ela tanto admirava logo demonstrou ser apenas mais uma fachada bem elaborada. As contas se acumulavam, os projetos nunca saíam do papel, e os planos de futuro eram constantemente adiados. João continuava a prometer, sempre usando sua habilidade de manipular as palavras para ganhar mais tempo, mais confiança, mais paciência. Mas a realidade, implacável, sempre vinha à tona. Sr. Carlos, que assistia de longe, com o coração apertado, sabia que esse final era inevitável. Ele via sua filha desmoronar aos poucos, presa em um relacionamento com alguém que nunca sairia do mundo dos sonhos. João, com sua lábia de ouro, continuava a prometer o impossível, e Ana, mesmo percebendo as falhas, continuava a acreditar. Porque, no fundo, ninguém quer aceitar que foi enganado. João era uma dessas pessoas que parecem boas, mas que, no fundo, vivem numa bolha de promessas, ilusões e dívidas. Ele não queria fazer mal a ninguém. Pelo contrário, sempre parecia acreditar nas próprias mentiras. Mas o que ele nunca compreendia era que o amor e a confiança, uma vez quebrados, são como cristais que, mesmo colados, jamais voltam a ser os mesmos. E assim, de lábia em lábia, de promessa em promessa, João seguia a vida, deixando para trás uma trilha de corações partidos e famílias desiludidas. Quanto a Ana, ela finalmente entendeu que não se pode construir uma vida apenas sobre palavras. O encanto se quebrou, e, como tantas outras, ela teve que juntar os pedaços e seguir em frente. João, por sua vez, continuava sua jornada, sempre buscando sua próxima musa, alguém que pudesse encantar com suas histórias. Mas, como Sr. Carlos sabia, a realidade é sempre mais forte

Crônica Literária – O homem que enrolava as mulheres com sua lábia

Crônica Literária – O Homem que Enrolava as Mulheres com Sua Lábia

Ele tinha uma lábia afiada, quase hipnótica. Aquele jeito de falar manso, envolvente, que fazia qualquer conversa parecer uma dança elegante de palavras. João — sim, esse era o nome dele, um nome comum para um homem nada comum no modo como lidava com a vida e, especialmente, com as mulheres.

Se a comunicação fosse uma arte, João seria seu maior escultor, moldando frases e promessas como se fossem peças de uma obra-prima que, no final, desmoronava por não ter alicerces na realidade.

João tinha o dom de encantar. Era impossível não se render à sua simpatia e à sua capacidade de contar histórias. Ele falava com a segurança de quem conhece o mundo e seus mistérios. Tinha resposta para tudo, planos para o futuro, e sempre parecia saber o que fazer, ou melhor, o que dizer. As mulheres com quem cruzava não tinham a menor chance.

Cada uma se apaixonava pelo homem eloquente, que trazia consigo uma promessa de felicidade e sucesso. Casava-se, levava o amor aos lares, encantava as famílias. Para os pais, era o genro dos sonhos; para as mães, o exemplo de marido ideal. Mas essa imagem brilhante durava pouco.

Era sempre o mesmo roteiro: João chegava, ganhava a confiança de todos, e com o tempo, os encantos começavam a perder o brilho. As promessas grandiosas que fazia aos quatro ventos, aquelas que traziam esperança de um futuro próspero, nunca se concretizavam.

Logo se notava que o que ele dizia não se escrevia. João era uma pessoa que vivia mais no mundo dos sonhos do que na realidade. E, por mais que fosse visto como alguém bondoso e afável, estava sempre atolado em dívidas. Seu nome estava sujo na praça, e seus bolsos, constantemente vazios.

Ana, uma das suas vítimas mais recentes, acreditava ter encontrado em João o parceiro ideal. Mesmo com os sinais de que algo não ia bem, ela se deixava levar pelas palavras doces, pelas promessas de dias melhores. Seu pai, Sr. Carlos, era mais cético.

Crônica Literária – O Homem que Enrolava as Mulheres com Sua Lábia

Ele, que já havia visto muito na vida, reconheceu o padrão. João podia ser charmoso, mas suas promessas vazias e a forma como se esquivava das responsabilidades revelavam sua verdadeira essência. Sr. Carlos tentou alertar a filha. Ele sabia que aquele homem, por mais que parecesse simpático e amável, era só um contador de sonhos, alguém que vivia na ilusão e fugia da realidade.

O pai conversou com Ana inúmeras vezes. “Minha filha, preste atenção, esse rapaz vive de palavras. Ele não tem como cumprir o que promete. Já viu como ele evita falar dos problemas financeiros? Você nunca percebeu que ele sempre fala do futuro, mas o presente dele é um caos? Cuidado, meu bem. Não quero que você sofra.”

Mas Ana, apaixonada e envolvida pela lábia de João, não ouvia. Suas palavras entravam por um ouvido e saíam pelo outro, como se fossem ecoando, mas sem deixar marcas. O amor dela era mais forte que qualquer conselho.

Sr. Carlos tentou até mesmo conversar com a ex-mulher, mãe de Ana. Afinal, quem sabe ela conseguiria abrir os olhos da filha? Ele até chamou a irmã mais velha de Ana para a conversa, esperando que, em conjunto, pudessem mostrar à jovem que João não passava de um sonhador irresponsável.

Contudo, como diz o ditado, “Santo de casa não faz milagres”. De nada adiantaram os conselhos, as tentativas de abrir os olhos de Ana. Ela estava decidida a acreditar no que João dizia, no futuro brilhante que ele sempre prometia.

E assim, a vida de Ana, como a de tantas outras mulheres antes dela, começou a ruir lentamente. O homem que ela tanto admirava logo demonstrou ser apenas mais uma fachada bem elaborada. As contas se acumulavam, os projetos nunca saíam do papel, e os planos de futuro eram constantemente adiados.

João continuava a prometer, sempre usando sua habilidade de manipular as palavras para ganhar mais tempo, mais confiança, mais paciência. Mas a realidade, implacável, sempre vinha à tona.

Crônica Literária – O Homem que Enrolava as Mulheres com Sua Lábia

Sr. Carlos, que assistia de longe, com o coração apertado, sabia que esse final era inevitável. Ele via sua filha desmoronar aos poucos, presa em um relacionamento com alguém que nunca sairia do mundo dos sonhos. João, com sua lábia de ouro, continuava a prometer o impossível, e Ana, mesmo percebendo as falhas, continuava a acreditar. Porque, no fundo, ninguém quer aceitar que foi enganado.

João era uma dessas pessoas que parecem boas, mas que, no fundo, vivem numa bolha de promessas, ilusões e dívidas. Ele não queria fazer mal a ninguém. Pelo contrário, sempre parecia acreditar nas próprias mentiras.

Mas o que ele nunca compreendia era que o amor e a confiança, uma vez quebrados, são como cristais que, mesmo colados, jamais voltam a ser os mesmos. E assim, de lábia em lábia, de promessa em promessa, João seguia a vida, deixando para trás uma trilha de corações partidos e famílias desiludidas.

Quanto a Ana, ela finalmente entendeu que não se pode construir uma vida apenas sobre palavras. O encanto se quebrou, e, como tantas outras, ela teve que juntar os pedaços e seguir em frente.

João, por sua vez, continuava sua jornada, sempre buscando sua próxima musa, alguém que pudesse encantar com suas histórias.

Mas, como Sr. Carlos sabia, a realidade é sempre mais forte do que qualquer lábia, por mais brilhante que seja.

Anand Rao

Editor Chefe

Cultura Alternativa

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