É possível mudar a convicção política do outro no mundo atual? Essa é uma pergunta relevante em tempos de extremismos crescentes, onde o entendimento entre opiniões opostas tornou-se escasso. Numa era atravessada por confrontos ideológicos, transformar posicionamentos exige mais que fatos: requer sensibilidade, escuta e estratégia.
🌐 A polarização é planetária, intensa e afetiva
Antes de tudo, precisamos admitir que a sociedade global enfrenta uma divisão ideológica aguda. Em nações como Brasil e Estados Unidos, processos eleitorais fragmentam lares, encerram vínculos e separam pessoas que antes conviviam em harmonia.
Além disso, o universo digital acelera esse cenário. Redes como X (antigo Twitter) e TikTok alimentam ambientes fechados, onde os usuários consomem apenas conteúdos alinhados às suas crenças, o que estreita a visão de mundo.
Sob esse prisma, líderes e eleitores constroem discursos políticos binários: de um lado os “certos”, de outro os “errados”. Essa lógica intensifica laços tribais e reduz a disposição para escutar quem pensa diferente, dificultando qualquer tentativa de mudar a convicção política do outro.

🧠 Ideologia nasce do sentimento antes da razão
Em segundo lugar, devemos compreender que opiniões políticas surgem mais por emoção do que por lógica. Valores como segurança, liberdade ou justiça assumem significados diversos conforme as vivências de cada grupo.
Na prática, argumentar com estatísticas ou dados frios raramente convence alguém. Pesquisadores da psicologia moral, como Jonathan Haidt, demonstram que pessoas reforçam suas certezas quando enfrentam ideias contrárias.
De maneira complementar, quem deseja promover mudanças precisa investir no vínculo humano. Indivíduos reconsideram suas opiniões com mais facilidade quando se sentem acolhidos, e não quando alguém os desqualifica.
🤝 Escutar transforma mais que argumentar
Para começar, nenhum diálogo frutífero acontece sem atenção verdadeira. A escuta empática fortalece a confiança e rompe barreiras que antes pareciam intransponíveis.
Logo depois, perguntas reflexivas como “por que essa ideia faz sentido para você?” ou “quando começou a pensar assim?” despertam mais impacto do que afirmações rígidas ou tentativas de correção.
Posteriormente, ao identificar afinidades — como o desejo por justiça, o valor da família ou o cuidado com o país — conseguimos construir aproximações. O foco precisa estar em abrir espaço para a dúvida, e não em vencer um debate.
📱 Ambientes digitais sabotam o entendimento
Com o tempo, as plataformas digitais transformaram-se em redutos hostis à troca respeitosa. O conteúdo inflamado, provocador e radical conquista mais visibilidade do que mensagens equilibradas.
Consequentemente, os algoritmos amplificam postagens que dividem e inflamam os usuários. Isso reduz as chances de alguém refletir sobre visões diferentes das suas.
Em paralelo, o distanciamento físico e o anonimato favorecem ataques. As pessoas atacam com facilidade quem pensa diferente, o que inviabiliza qualquer reavaliação. Nesse ambiente, tentar mudar a convicção política do outro torna-se uma missão árdua.
📰 Educação e imprensa reconectam cidadãos
Em contrapartida, escolas e veículos de comunicação podem atuar como mediadores do diálogo. Educadores que ensinam pensamento crítico e ética argumentativa formam cidadãos com maior abertura ao debate.
Ademais, os jornalistas comprometidos com a pluralidade ajudam a restaurar a confiança pública. Reportagens com múltiplas perspectivas ampliam a visão dos leitores e fortalecem a democracia.
Na sequência, projetos locais como rodas de conversa, mediações comunitárias e iniciativas de checagem colaborativa promovem o reencontro entre vozes divergentes. Esses espaços reacendem o interesse pelo convívio democrático.

🎯 Conclusão: transformar visões exige paciência
Por fim, é possível mudar a convicção política do outro, embora esse processo dependa de tempo e preparo emocional. As pessoas não mudam sob pressão — quem deseja convencê-las precisa cultivar paciência, empatia e escuta.
Em seguida, devemos lembrar que as mudanças reais acontecem devagar. Pequenos questionamentos, histórias vividas e conversas respeitosas influenciam mais do que confrontos públicos ou ironias.
Por consequência, mesmo em tempos de cisão, ainda podemos cultivar espaços de reconciliação. Quem promove o diálogo com respeito atua como semeador de entendimento em um mundo marcado pela divisão.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa