Etarismo na Comunicação - Cultura Alternativa

Etarismo na Comunicação

Incluir é fundamental

A Experiência que Fortalece as Redações

Etarismo na comunicação. Apesar dos avanços tecnológicos e da presença crescente da juventude nas redações, muitos veículos de comunicação reconhecem que os jornalistas experientes continuam sendo peças fundamentais para a solidez editorial. Em emissoras tradicionais de rádio e televisão, como a Rede Globo e a CBN, é comum encontrar nomes com décadas de atuação, justamente por transmitirem credibilidade, segurança na apuração dos fatos e domínio técnico da linguagem jornalística.

Além disso, o conhecimento histórico e político acumulado ao longo dos anos possibilita que profissionais com mais idade estabeleçam conexões entre eventos passados e atuais, promovendo análises mais aprofundadas. Grandes coberturas, como eleições, guerras ou escândalos políticos, frequentemente recorrem aos veteranos para garantir um olhar maduro e contextualizado, valorizando o capital simbólico construído por esses profissionais ao longo da carreira.

Por outro lado, essa valorização costuma se restringir à elite da profissão. Jornalistas renomados, com ampla visibilidade, conseguem preservar espaços. Mas para a maioria dos profissionais experientes, especialmente os que atuam fora dos grandes centros ou que perderam vínculos empregatícios formais, o cenário é outro e mais desafiador.

Preconceito Invisível e Barreiras na Contratação

Em contraposição à valorização dos nomes já consagrados, há um forte movimento de exclusão de jornalistas com mais de 50 anos no momento da contratação ou reinserção no mercado. Relatos são frequentes em processos seletivos onde candidatos experientes sequer são chamados para entrevistas, mesmo com currículos amplos e bem estruturados. A preferência por perfis jovens, supostamente mais dinâmicos e adaptáveis às novas tecnologias, tem gerado uma barreira silenciosa mas contundente.

Consequentemente, muitos profissionais maduros relatam dificuldades em retornar ao mercado formal após demissões. Embora os editais de vagas não mencionem idade, há um padrão implícito que favorece a juventude. O discurso empresarial de valorização da diversidade etária raramente se traduz em práticas concretas de contratação.

No entanto, dados do Instituto Locomotiva, publicados em 2023, mostram que 41% dos trabalhadores brasileiros afirmam já ter sofrido algum tipo de preconceito por idade. Esse número é ainda mais expressivo no setor de comunicação, onde a imagem jovem é constantemente associada a inovação, enquanto a idade avançada, erroneamente, é relacionada à resistência à mudança.

Casos Reais em Grandes Veículos

Na mídia internacional, a questão já gerou disputas judiciais. Em 2023, a jornalista britânica Martine Croxall processou a BBC por discriminação de idade e gênero após ser afastada da programação sob o argumento de reformulação editorial. Em outro episódio, cinco apresentadoras da NY1, emissora de Nova York, denunciaram que foram afastadas de horários nobres e substituídas por profissionais mais jovens, apesar de suas audiências estáveis.

Além disso, no Brasil, embora os processos judiciais por etarismo ainda sejam escassos, há um número crescente de profissionais da imprensa que, em off, relatam histórias similares. Muitos se veem obrigados a migrar para o trabalho autônomo, abrir consultorias ou mudar completamente de profissão, não por escolha, mas por falta de oportunidades que considerem sua trajetória.

Assim, essas situações revelam uma contradição estrutural. Os mesmos veículos que mantêm jornalistas experientes como ícones de suas marcas são os que, nos bastidores, operam práticas de exclusão baseadas em estereótipos.

O Impacto na Qualidade da Informação

A marginalização de jornalistas experientes traz implicações para a qualidade da informação oferecida ao público. A ausência de profissionais com repertório amplo enfraquece o jornalismo interpretativo, privilegiando abordagens superficiais e com pouca contextualização histórica. A cobertura de fatos complexos, como crises políticas ou mudanças legislativas, perde densidade quando não há alguém com memória institucional e bagagem crítica para pautar o debate.

Portanto, além da questão da exclusão, existe um impacto concreto na eficiência editorial. Negar espaço a jornalistas mais velhos não é apenas um problema de inclusão, mas também uma falha no aproveitamento do conhecimento acumulado. O jornalismo, como prática social e profissional, perde quando silencia vozes experientes.

Adicionalmente, a juventude, embora criativa e conectada com as transformações digitais, pode beneficiar-se de trocas intergeracionais que promovam aprendizado mútuo. Redações que integram diferentes faixas etárias tendem a ter uma produção mais rica e equilibrada, combinando agilidade com profundidade.

Caminhos para uma Comunicação Inclusiva

Para reverter o quadro, é necessário que os veículos adotem políticas ativas de combate ao etarismo. Isso inclui a revisão de critérios de seleção que valorizem experiência e repertório, programas de mentoria intergeracional e metas de diversidade etária nos departamentos de recursos humanos. A pluralidade geracional deve ser vista como um ativo estratégico.

Além disso, empresas jornalísticas precisam entender que inovação não está atrelada exclusivamente à juventude. Muitos profissionais com mais idade dominam ferramentas digitais, redes sociais, inteligência artificial e novas linguagens. O aprendizado é contínuo e a idade não é sinônimo de estagnação.

Consequentemente, adotar uma comunicação inclusiva é também uma estratégia de reputação. O público está cada vez mais atento aos valores praticados pelas marcas, e discriminar por idade fere os princípios democráticos e sociais que o jornalismo, historicamente, busca defender.

Conclusão: O Valor que a Idade Carrega

O etarismo na comunicação é um fenômeno real, embora frequentemente mascarado por discursos de modernização e eficiência. Enquanto alguns poucos veteranos seguem prestigiados, a maioria dos jornalistas experientes enfrenta exclusão velada, perda de espaço e silêncio institucional. A realidade contradiz o discurso de valorização.

Assim, romper com essa lógica requer mais do que declarações públicas. Exige ação concreta. Transformação cultural e reconhecimento de que a diversidade — inclusive etária — é pilar essencial de uma imprensa plural, crítica e comprometida com a verdade.

Por fim, sem os jornalistas que viveram e narraram os grandes acontecimentos das últimas décadas: o jornalismo corre risco. Preservar e incluir essas vozes é um dever ético, editorial e humano.


Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa