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Expansão dos Aluguéis de Curta Duração no Rio de Janeiro

Aluguéis de Curta Duração – Impactos e Desafios

Nos últimos anos, o mercado de aluguéis de curta duração no Rio de Janeiro tem se expandido rapidamente, impulsionado por plataformas como o Airbnb.

Bairros icônicos como Copacabana e Ipanema lideram esse crescimento, com um aumento significativo no número de imóveis disponíveis para turistas.

Em Ipanema, por exemplo, há um anúncio no Airbnb para cada sete residências, um crescimento de 24% desde 2019 (InfoMoney).

Esse fenômeno tem gerado impactos profundos no mercado imobiliário e na dinâmica urbana, beneficiando proprietários e investidores, mas também levantando preocupações sobre moradia acessível e convivência em bairros residenciais.

Diante disso, cresce a necessidade de um debate estruturado sobre regulamentação e equilíbrio entre interesses econômicos e sociais.

Aluguéis de Curta Duração

Impactos Econômicos e Transformações no Mercado Imobiliário

O crescimento acelerado dos aluguéis de curta duração tem reconfigurado o mercado imobiliário carioca. Muitos proprietários têm optado por retirar seus imóveis do aluguel tradicional, onde os contratos costumam ter duração mínima de 30 meses, para disponibilizá-los em plataformas digitais.

O principal atrativo está na rentabilidade: a diária de um apartamento mobiliado em Copacabana pode gerar um rendimento muito superior ao de um aluguel convencional.

No entanto, essa mudança reduz a oferta de imóveis para moradores permanentes, pressionando os preços dos aluguéis de longo prazo.

Um estudo da Fundação Getulio Vargas aponta que um aumento de 1% nos anúncios ativos do Airbnb está associado a um incremento de 0,08% nos preços dos aluguéis residenciais (FGV).

Isso tem levado famílias de classe média e baixa a buscar alternativas em bairros mais afastados, afetando a diversidade social dos bairros mais turísticos.

Além disso, o crescimento desse mercado impacta diretamente o setor hoteleiro. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis indicam que a ocupação em hotéis do Rio tem enfrentado dificuldades, especialmente em períodos de baixa temporada, devido à concorrência com aluguéis por temporada, que muitas vezes oferecem preços mais competitivos.

Oportunidades para Investidores e Novos Empreendedores

Apesar dos desafios, o setor de aluguéis de curta duração tem gerado oportunidades para investidores e empreendedores.

Muitos profissionais estão se especializando na administração de imóveis para temporada, oferecendo serviços como decoração personalizada, gestão de reservas e até concierge digital para hóspedes.

Carlos Eduardo Muzy, por exemplo, começou alugando seu próprio apartamento em Copacabana e hoje gerencia dezenas de imóveis, garantindo um fluxo de renda estável sem precisar investir diretamente na compra de novas propriedades.

Esse modelo de negócio tem atraído pequenos investidores que buscam diversificar sua carteira no setor imobiliário.

Aluguéis de Curta Duração

Regulamentação e Experiência de Outras Cidades

Embora o crescimento dos aluguéis de curta duração represente um impulso econômico, também tem gerado tensões em comunidades locais. Muitos moradores relatam aumento no barulho, dificuldades na segurança condominial e uma sensação de instabilidade pela rotatividade constante de inquilinos temporários.

Alguns condomínios chegaram a proibir esse tipo de locação, com base em uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que permite que prédios residenciais impeçam aluguéis de curta temporada se isso descaracterizar a destinação residencial do edifício (JusBrasil).

Outras cidades ao redor do mundo já implementaram medidas regulatórias para equilibrar os interesses de moradores e investidores. Em Nova York, por exemplo, a legislação exige que os proprietários estejam presentes no imóvel para aluguéis inferiores a 30 dias.

Barcelona adotou um limite de licenças para locações de curta duração, enquanto Paris impôs um teto de 120 dias por ano para esse tipo de aluguel.

No Brasil, especialistas sugerem que regulamentações semelhantes poderiam ser implementadas no Rio de Janeiro para evitar distorções no mercado imobiliário e garantir maior controle sobre essa atividade.

O Impacto Social e a Percepção dos Moradores

Além dos efeitos econômicos e regulatórios, é essencial considerar o impacto social do crescimento dos aluguéis de curta duração.

Muitos moradores relatam que a constante rotatividade de turistas nos edifícios altera o senso de comunidade e dificulta a criação de laços entre vizinhos.

Maria Helena Souza, moradora de Copacabana há 25 anos, conta que seu prédio, antes majoritariamente residencial, hoje abriga mais turistas do que moradores fixos.

“É estranho, porque não conhecemos mais nossos vizinhos. Todo dia há pessoas novas entrando e saindo, e às vezes acontecem festas que duram a madrugada inteira”, relata.

Por outro lado, há aqueles que enxergam vantagens, como o aumento na valorização imobiliária e a movimentação do comércio local, beneficiando restaurantes, lojas e prestadores de serviço.

Aluguéis de Curta Duração

Perspectivas Futuras: Caminhos para um Equilíbrio Sustentável

O avanço dos aluguéis de curta duração no Rio de Janeiro reflete uma mudança irreversível na forma como os turistas se hospedam e como os imóveis são utilizados.

No entanto, a falta de regulamentação clara pode gerar conflitos e prejudicar tanto moradores quanto pequenos investidores.

Diante disso, algumas possíveis soluções para um equilíbrio sustentável incluem:

• Criação de um limite anual de dias para aluguéis de curta duração, como já ocorre em cidades europeias;

* Registro obrigatório de imóveis destinados a esse fim, garantindo transparência fiscal e maior controle sobre a atividade;

• Regras específicas para condomínios, permitindo que edifícios definam limites ou normas para a convivência entre hóspedes e moradores;

* Tributação diferenciada para locações por temporada, evitando que essa atividade concorra de forma desigual com o setor hoteleiro.

Ao adotar um modelo regulatório eficiente, o Rio de Janeiro pode continuar aproveitando os benefícios desse mercado sem comprometer a qualidade de vida de seus moradores e a estabilidade do setor imobiliário.

Aluguéis de Curta Duração

O QUE PENSAR DISTO?

O crescimento dos aluguéis de curta duração no Rio de Janeiro é um fenômeno que traz tanto oportunidades quanto desafios.

Enquanto investidores e turistas celebram a flexibilidade e os ganhos financeiros, moradores e autoridades buscam soluções para mitigar os impactos negativos.

A experiência de cidades como Nova York, Barcelona e Paris demonstra que a regulamentação pode ser um caminho eficaz para equilibrar interesses e garantir um mercado sustentável.

Cabe agora ao poder público e à sociedade civil debaterem soluções que favoreçam tanto o desenvolvimento econômico quanto a preservação do caráter residencial dos bairros cariocas.

Anand Rao e Agnes Adusumilli

REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA