Fique rico a cada demissão, como técnico de futebol, no Brasil
Salários elevados e multas rescisórias
No futebol brasileiro, os responsáveis pelas comissões técnicas dos principais clubes recebem vencimentos que ultrapassam cifras milionárias.
Em 2023, Abel Ferreira, do Palmeiras, encabeçava a lista com uma remuneração mensal de R$ 2,8 milhões. Bruno Lage, então no Botafogo, e Jorge Sampaoli, no Flamengo, também figuravam entre os mais bem pagos, com contracheques em torno de R$ 2 milhões.
Esses valores refletem diretamente nas penalidades contratuais em caso de desligamento precoce. Quando o vínculo é encerrado antes do prazo acordado, os clubes devem arcar com o montante integral restante do pacto.
Um exemplo recente foi o Flamengo, que em 2024 indenizou o técnico Tite com R$ 4,8 milhões após a interrupção do trabalho.
Esse modelo de negociação revela que mesmo períodos curtos no comando podem garantir cifras expressivas ao profissional dispensado.
Rompimentos antecipados, impulsionados por pressões externas ou instabilidade nos resultados, acabam funcionando como uma espécie de prêmio inesperado para quem assina contratos bem redigidos.
Técnicos Ricos na futebol
Alta rotatividade no comando técnico
A edição de 2024 do Campeonato Brasileiro ilustra bem a volatilidade da função. Até a 24ª rodada, 11 comandantes haviam sido desligados de seus clubes, seja por decisão das diretorias ou por iniciativa própria.
A constante troca de treinadores confirma uma cultura de resultados imediatos, em detrimento de projetos contínuos.
Esse fenômeno se repete nas divisões inferiores, onde a oscilação no desempenho provoca reações rápidas.
Equipes de médio porte ou com estrutura modesta recorrem à substituição do treinador como tentativa de reverter más campanhas, mesmo sem mudar o elenco ou a gestão tática.
Para os profissionais do setor, esse cenário gera oportunidades frequentes, ainda que fugazes. Com contratos que garantem compensações robustas, ser dispensado pode significar não um fracasso, mas uma compensação generosa — um paradoxo peculiar do mercado nacional da bola.
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Legislação e proteção contratual
A Lei nº 8.650, de 1993, ( Revogada pela Lei nº 14.597, de 2023) rege as relações trabalhistas específicas do treinador profissional de futebol no Brasil.
Essa norma assegura direitos como autonomia nas decisões esportivas, segurança material oferecida pelo empregador e respeito às diretrizes das entidades de administração do esporte.
Dentre os dispositivos legais, destaca-se a cláusula de compensação financeira por encerramento antecipado.
Em caso de ruptura unilateral, o empregador é obrigado a pagar a totalidade do saldo contratual, incluindo eventuais direitos de imagem, premiações e outros benefícios previamente firmados.
Com isso, o vínculo profissional no futebol brasileiro oferece uma camada de resguardo pouco comum em outras categorias laborais.
Mesmo sem conquistas em campo, o técnico pode deixar o clube com estabilidade financeira garantida, desde que o acordo tenha sido formalizado com clareza.

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O custo de demitir: impacto nos clubes
Se por um lado a rescisão prematura favorece financeiramente o técnico, por outro representa um gasto elevado para as agremiações.
Além da multa contratual, os dirigentes precisam arcar com os custos da nova contratação, encargos legais e possíveis penalidades da Justiça do Trabalho em caso de descumprimento.
Segundo levantamento do site ge.globo, o Flamengo, entre 2019 e 2023, gastou mais de R$ 51 milhões com desligamentos de técnicos.
Em média, cada substituição custou ao clube carioca mais de R$ 10 milhões, somando salários pagos, multas rescisórias e custos logísticos.
Mesmo com impacto orçamentário visível, o imediatismo continua prevalecendo. A pressão de torcidas organizadas, conselhos deliberativos e patrocinadores frequentemente sobrepõe-se à lógica administrativa, perpetuando um ciclo de instabilidade que pesa nos cofres e nos resultados.
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Técnicos “milionários” sem títulos
Há no mercado brasileiro profissionais que acumulam passagens por diversos clubes sem erguer taças, mas com saldo bancário em constante crescimento.
Casos como Lisca e Guto Ferreira exemplificam esse perfil: técnicos com capacidade de reestruturação, mas que raramente finalizam projetos com títulos.
Esse tipo de atuação baseia-se em contratos curtos, atuações emergenciais e desligamentos previstos. A compensação financeira por saídas antecipadas garante que o ciclo de contratações e dispensas seja rentável, ainda que sem longevidade esportiva.
Por outro lado, nomes como Dorival Júnior combinam experiência com conquistas relevantes. Vencedor da Libertadores, da Copa do Brasil e da Supercopa, ele demonstra que também é possível obter sucesso competitivo, sem abrir mão da proteção contratual. A diferença está no planejamento de carreira e na reputação construída.
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Conclusão
O cargo de técnico de futebol no Brasil tornou-se símbolo de instabilidade remunerada. A pressão por resultados, combinada com contratos blindados, criou um ambiente em que sair do clube pode ser tão lucrativo quanto permanecer. Trata-se de um sistema que, paradoxalmente, recompensa a ruptura.
Os clubes, ao insistirem em estratégias imediatistas, acabam comprometendo o caixa com pagamentos elevados de indenização.
Por sua vez, os treinadores, ao dominarem a arte da negociação, conseguem extrair benefícios mesmo diante de campanhas medianas ou breves.
Nesse cenário de trocas frequentes, quem sabe conduzir sua carreira com estratégia jurídica e olhar pragmático acaba acumulando patrimônio — não necessariamente glórias.
O campo pode ser incerto, mas o extrato bancário, muitas vezes, é previsivelmente positivo.
Anand Rao
REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA