A vida noturna é um elemento signo para a economia de grandes cidades, mas sua gestão adequada ainda é um desafio em muitas metrópoles ao redor do mundo.
Em Nova York, a criação do Escritório da Vida Noturna, em 2018, durante a gestão de Bill de Blasio, marcou um avanço na administração deste segmento, buscando conciliar as necessidades de cidadãos e empresários com as demandas de segurança e ordem pública.
Esse escritório, pioneiro em sua abordagem, movimenta anualmente US$ 35 bilhões, gerando mais de 300 mil empregos diretos e indiretos na cidade, de acordo com dados oficiais.
Ariel Palitz, que ocupou o cargo de “prefeita da noite” de Nova York até novembro de 2023, visitará o Brasil em breve com a missão de compartilhar sua experiência e inspirar novas políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento da vida noturna em grandes cidades brasileiras.
Palitz trouxe uma visão inovadora à gestão desse setor, que ainda é visto como um problema em várias cidades ao redor do mundo, sendo constantemente associado à criminalidade e desordem.
No entanto, ela defende que o verdadeiro desafio não é a existência da vida noturna, mas a incapacidade de muitos gestores públicos de compreender suas particularidades e tratá-la de maneira proativa.
Gestão da Vida Noturna de Nova York
Um Modelo de Sucesso
O Escritório da Vida Noturna de Nova York tem como objetivo ser um ponto central de contato entre a comunidade, os órgãos municipais e os empresários do setor.
Ao contrário do que ocorre em muitas cidades onde as regras do dia são simplesmente replicadas para a noite, Nova York compreendeu que a noite possui dinâmicas próprias e exige uma administração específica.
Ariel Palitz destaca que “a evolução é entender e respeitar que a vida é 24 horas, assim como a economia”, sublinhando que a cidade que nunca dorme só funciona porque há serviços essenciais disponíveis ininterruptamente.
O estigma negativo sobre a noite, enraizado em muitas culturas, remonta a questões históricas. Nos Estados Unidos, as políticas proibicionistas da Lei Seca (1920-1933) associaram as atividades noturnas ao crime, criando uma herança regulatória que se manteve opressora mesmo após a liberação do álcool.
No entanto, em Nova York, a atuação de Palitz à frente do Escritório da Vida Noturna buscou reverter essa imagem, focando em uma política de inclusão e diálogo entre diferentes setores da sociedade.
Gestão da Vida Noturna de Nova York
Dados Econômicos e Sociais
O impacto econômico da vida noturna em Nova York é imenso. Um estudo da New York City Hospitality Alliance de 2022 estimou que o setor de hospitalidade, que inclui bares, restaurantes e casas noturnas, é responsável por 10% dos empregos da cidade.
Além disso, a cidade gera aproximadamente US$ 1,4 bilhão em impostos somente a partir dessas atividades, consolidando a importância estratégica do setor para a economia local.
Outro dado relevante é que, segundo a Office of Nightlife Annual Report, 76% dos estabelecimentos noturnos em Nova York operam legalmente, cumprindo com todas as normas estabelecidas pelo município, o que desmistifica a ideia de que a vida noturna está associada à ilegalidade ou desordem.
No Brasil, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já começam a reconhecer o potencial desse setor.
São Paulo, por exemplo, é conhecida por ter uma das cenas noturnas mais vibrantes da América Latina, mas ainda carece de políticas públicas adequadas que aproveitem essa potencialidade de maneira organizada e eficiente.
A visita de Palitz pode ser uma oportunidade para gestores brasileiros se inspirarem nas práticas de Nova York e implementarem medidas semelhantes.
Gestão da Vida Noturna de Nova York
Desafios na Gestão Noturna
A grande questão que Palitz enfrenta ao conversar com gestores de outras cidades é a resistência cultural em tratar a vida noturna como uma parte integrada à economia urbana.
Em muitos locais, as autoridades veem a noite como um “inimigo”, e o resultado disso é a criação de políticas repressivas que afetam negativamente o setor.
Ariel comenta que muitos gestores públicos “alimentam um sistema que resulta quase sempre em repressão e desprestígio contra os negócios que funcionam depois do pôr-do-sol”.
Outro ponto destacado por Palitz é a importância da mediação de conflitos. Em Nova York, foi criado o programa “Mend” (reparo ou cura, em inglês), que instituiu um canal específico para queixas contra estabelecimentos noturnos.
Essa ferramenta permitiu que as empresas pudessem responder de maneira adequada às reclamações, evitando a interdição automática dos negócios.
“Na nossa experiência, o anonimato automático das queixas telefônicas estava gerando um estigma nos estabelecimentos sem a possibilidade de diálogo. O ‘Mend’ permitiu a interação entre as partes”, destaca Palitz.
Gestão da Vida Noturna de Nova York
O Movimento Global dos “Prefeitos da Noite”
O conceito de “prefeito da noite” não é exclusividade de Nova York. Atualmente, mais de 100 cidades ao redor do mundo, incluindo Londres, Amsterdã e Berlim, adotaram modelos similares.
Na América Latina, Pereira, na Colômbia, foi pioneira ao implementar um cargo semelhante com o objetivo de melhorar a segurança pública durante a noite.
No entanto, o movimento ainda é incipiente em grandes centros urbanos da região, e a visita de Palitz pode ajudar a expandir a ideia para outras capitais.
No Brasil, o diálogo sobre a gestão da vida noturna ainda é tímido. As políticas focadas em segurança, em geral, priorizam o controle sobre o setor em vez de potencializar suas contribuições econômicas e culturais.
Contudo, há um crescente interesse por parte do empresariado e de alguns setores do governo em mudar essa percepção.
São Paulo, por exemplo, tem uma vida noturna pulsante, e a criação de um cargo específico para sua gestão poderia não apenas gerar mais empregos, mas também aumentar a arrecadação tributária e melhorar a qualidade de vida de quem trabalha e frequenta o setor.
Gestão da Vida Noturna de Nova York
Conclusão: Oportunidades e Desafios
A criação de um Escritório da Vida Noturna em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro poderia representar uma oportunidade única para otimizar a relação entre poder público, empresários e moradores.
Os benefícios vão além do impacto econômico, englobando também a segurança pública e a melhoria das condições de trabalho para milhares de pessoas que atuam no setor.
O exemplo de Nova York, com sua abordagem integradora, demonstra que é possível administrar de maneira eficiente e harmoniosa a vida noturna de uma grande metrópole.
O Brasil, ao adotar políticas semelhantes, pode transformar um setor ainda marginalizado em um dos pilares de sua economia urbana, conciliando segurança e dinamismo econômico.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa