Jazz in Marciac Dabeull e Meute
Todo mundo dançou no último final de semana do Jazz em Marciac
O maior festival de jazz da França, o Jazz in Marciac (JiM) ocorre até quinta-feira na cidade do mesmo nome, localizada no Sudoeste daquele país.
Esse ano, 36 concertos (que incluem também rock, pop e outros gêneros e subgêneros) movimentam o anfiteatro Chapiteau, com capacidade para seis mil lugares.
Desde o dia 21 de julho, quando foi aberto, já passaram pela pequena Marciac nomes como Robert Plant, Santana, Ben Harper, Madeleine Peyreux, Winton Marsalis, Herbie Hancock, Veronica Swift e uma penca de outros nomes interessantes.
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Carlos Dias Lopes
Jazz in Marciac Dabeull e Meute
2025 é o ano do Brasil na França (visando estreitar a relação entre os dois países em áreas como negócios, turismo, educação e cultura), pontuado por vários eventos que mostram a variedade e o vigor de nossa Cultura aos franceses. Muita música incluída, é claro!
Assim, o Chapiteau já recebeu nomes como Carlos Malta & Pife Muderno, Casuarina e Andrea Ernest Dias Quarteto.
Nesta semana enfileiram-se apresentações dos ícones Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal (que fechará o JiM), do virtuose Hamilton Holanda e da estrela ascendente Amaro Freitas, numa parceria curatorial do JiM com o MIMO Festival.
No fim de semana, a organização do festival retirou as seis mil cadeiras do anfiteatro Chapiteau, num convite explícito à dança. O público entendeu, conforme o relato abaixo, sobre os concertos de Dabeull e Meute.
Jazz in Marciac Dabeull e Meute
Dabeull e mais 10 ou uma espiadinha nos anos 70
A noite de sábado do Festival foi reservada à uma viagem no tempo, com a apresentação de Dabeull (a pronúncia é “Dabul”) e seu grupo tamanho XXL
Esse é o codinome do parisiense David Said, DJ, tecladista e produtor que faz uma mistura de electro, disco e funk, repleta de apelo visual, hedonismo e vigor.
Para recebê-lo, o Chapiteau foi transformado numa imensa discoteca, no centro da qual um painel cintilava com o nome de Dabull.
O tecladista é uma figuraça (lembra muito um dos personagens do ator Guilherme Karan na TV Pirata, aquele que apresentava a “TV Macho”). Não demora 30 segundos prá enviar sem escalas os dois mil espectadores diretamente para a atmosfera dos lúbricos anos 70.
Sua banda tem tudo prá conduzir a viagem: synths Roland, Keytars, Talk Box, vocalistas em lantejoulas e músicos em calça de Tergal… tudo analógico. Dabeull reforça o clima gritando aqui e ali frases do tipo: “Vamos lá, Marciac! Amor, Sexy e sexy chocolate”. Empunhando um dos Keytars, ele abusa do uso da Talk Box.
Insiste tanto na sonoridade que, ao abrir espaço à participação da verdadeiramente sexy vocalista Angy Meyer, a sensação é a de que estamos em 1976 assistindo um entrevero musical que junta Peter Frampton com o ABBA…
Outro que ganha destaque nesse espetáculo “campi” é o tecladista Philippe Bouthemy, o qual, por sua vez, é a cara… do Lincoln Olivetti. Eles mandam ver por hora e meia cerca de 20 músicas, incluindo covers.
Bom,…e o público? O público está maravilhado e todos dançam! Jovens, adultos, idosos, seguranças, barmans, chapeleiros… Dabeull consegue aquilo a que se propõe abertamente: divertir! Após o show, conversei com a septuagenária Patrícia, que me disse: “Voltei à minha juventude!”.
Para o jovem Teo, de 20 e poucos anos, o “humor de Dabeull foi contagiante”.
Enfim, todos sobrevivem e regressam satisfeitos dos anos 70. Quem viveu e quem só deu uma espiadinha.
Jazz in Marciac Dabeull e Meute
Meute são 11
Já no domingo a grande atração internacional foi o grupo alemão Meute. Classificados pelo prospecto do Festival como um grupo de eletro-fanfarra.
O Meute é bastante conhecido na Europa e já rodou pelos EUA e até pela África. Nunca esteve no Brasil, mas, esteticamente, é como se os 11 alemães que compõem o combo tivessem feito um estágio de como se vestir ”zoado à brasileira”.
Todos trajam uma engalanada jaqueta marcial vermelha. Ocorre que o trombonista está mal barbeado, o trompetista veste um shorts de futebol da Adidas, o vibrafonista atravessa um boné amarelo-manga na cabeça, o saxofonista cola uma bandeirinha do orgulho gay no instrumento e por aí vai…
Antes de invadirem o palco, eles esquentam os cerca de quatro mil assistentes da noite com um jogo de luzes estroboscópicas e uma base sonora ensurdecedora, onde o trombone toma o lugar do que seria um linha de baixo de ritmo alucinante.
Em seguida, os 11 entram (trombone, dois trompetes, três saxofones, flauta, marimba, bumbo,caixa e vibrafone).
E o volume da música que ressoa no Chapiteau aumenta a níveis quase ensurdecedores. E assim rola, sem intervalo, por duas horas de espetáculo.
A música dessa fanfarra elétrica tonitruante é invasora e incontrolável. Ou curte e dança ou vai embora! Cada arranjo dura cerca de 15 minutos.
É sustentado por uma base rítmica regular com os metais fazendo longas evoluções melódicas sobre ela. Se o caro leitor pensou em música de fanzone, acertou! Então acrescente muitos decibéis e uma ambiência hipnótica a essa zoeira. É isso! Estamos no show do Meute.
Perto do fim do espetáculo, a fanfarra desce do palco para alguns minutos de congraçamento entre o público, afinal de contas o lugar original dela seria ali.
Então, quatro mil pessoas começam a cantar ”Ôoooooooooo! ÔoooÔooo! seguindo a melodia e colaborando para que ninguém num raio de 10 kms consiga dormir essa noite, pois já são perto de uma da madruga em Marciac.
A fanfarra vai embora após um sinal do líder trompetista Thomas Burhom, mas tem de voltar pois agora quatro mil fazem barulho. Mais 15 minutos de hipnose… e insônia!
Texto de Carlos Dias Lopes é músico e jornalista.