O Jornal Navégus arte candanga Brasília foi um periódico independente fundado no final da década de 1970, voltado à divulgação das expressões artísticas produzidas no Distrito Federal. Criado por Anand Rao, em conjunto com João Régis, Ana Cristina, Josué Benitz, Hugo Studart e outros estudantes da Universidade de Brasília, o jornal circulou entre 1979 e 1980, utilizando métodos de produção artesanal e distribuição em espaços alternativos da capital.
A proposta editorial do impresso consistia em oferecer visibilidade às criações locais de música, literatura, artes visuais e teatro. Para isso, a equipe utilizava técnicas de impressão de baixo custo, como mimeógrafo e tipografia simples, caracterizando a prática da chamada geração mimeógrafo. Além disso, a circulação era realizada de forma autônoma, com distribuição direta em ambientes culturais e universitários.
O Navégus foi concebido como um canal dedicado à cultura, optando por evitar pautas políticas explícitas. Por esse motivo, a linha editorial refletia as prioridades dos editores e a necessidade de contornar as restrições impostas pelos mecanismos de controle da imprensa vigente.
Conteúdo e abordagem temática
Os exemplares do Jornal Navégus arte candanga Brasília ofereciam reportagens, entrevistas, ensaios e textos de criação, com destaque para autores e criadores do Distrito Federal. Enquanto isso, o jornal publicava poesia, crônicas e análises sobre artes cênicas e visuais, além de registrar eventos musicais e literários realizados na cidade.
Entre as contribuições identificadas, constam textos assinados por nomes relevantes da cena local, como o compositor Jorge Antunes e a jornalista e poeta Graça Ramos. Dessa forma, o conteúdo buscava promover o diálogo entre diferentes formas de expressão artística, documentando tanto práticas experimentais quanto manifestações da cultura popular.
Além do conteúdo textual, o impresso incluía registros fotográficos e ilustrações produzidas por colaboradores. Assim, o periódico também funcionava como um espaço de articulação entre coletivos artísticos da cidade, fortalecendo a rede informal de realização e circulação cultural em Brasília.

Circulação e colaboradores
O Jornal Navégus arte candanga Brasília publicou aproximadamente treze números entre 1979 e 1980. Alguns registros mencionam a existência de um exemplar experimental em março de 1978. No entanto, a circulação foi encerrada no final de 1980, em decorrência das limitações financeiras e operacionais enfrentadas pelos editores.
Os principais colaboradores eram estudantes da Universidade de Brasília, muitos dos quais atuavam em diversas frentes culturais da cidade. Anand Rao liderava a iniciativa editorial e mais tarde fundou as Edições Navégus, que publicou livros de poesia. Hugo Studart participou da coordenação e redação do jornal, vindo a destacar-se posteriormente como jornalista e escritor. Ana Cristina, João Régis e Josué Benitz contribuíram com a elaboração de conteúdo e na organização das publicações.
Logo após o encerramento do projeto editorial, os fundadores e participantes seguiram trajetórias diversas. Contudo, a maioria permaneceu envolvida em atividades culturais, jornalísticas e acadêmicas.

Preservação e acervo
Atualmente, não há um acervo digital completo do Jornal Navégus arte candanga Brasília disponível em plataformas públicas como a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Algumas edições foram referenciadas em pesquisas acadêmicas e em arquivos especializados, tais como o Museu Vivo da Memória Candanga e o Arquivo Público do Distrito Federal.
Cópias físicas do folhetim podem ser encontradas em acervos particulares de antigos colaboradores e pesquisadores da história cultural de Brasília. Portanto, o acesso a essas fontes requer contato direto com instituições locais ou com os próprios editores remanescentes.
A ausência de um repositório público consolidado reflete os desafios inerentes à preservação de publicações de pequeno porte e circulação restrita, típicas dos veículos alternativos da época.
Relação com os veículos independentes de Brasília
O Jornal Navégus arte candanga Brasília integrou-se ao movimento mais amplo das publicações marginais surgidas em Brasília a partir da segunda metade da década de 1970. Por outro lado, mesmo com foco estritamente cultural, o jornal compartilhava com outros periódicos da época características como a produção autônoma, a circulação paralela às estruturas oficiais e o compromisso com a promoção de expressões artísticas não contempladas pelos meios de comunicação tradicionais.
O contexto da geração mimeógrafo no Distrito Federal incluía tanto produções literárias quanto veículos voltados à crítica social. Nesse sentido, o Navégus optou por concentrar sua atuação no campo da arte e da cultura, colaborando para a construção de uma memória cultural da cidade em um momento de transformação política e social.
A trajetória do jornal, embora breve, exemplifica os caminhos alternativos trilhados por editores e criadores para afirmar a diversidade cultural de Brasília e ampliar o alcance das vozes que circulavam à margem do mercado editorial consolidado.
Anand Rao
Editor Chefe
Cultura Alternativa