Um dos debates mais recorrentes na atualidade é sobre o papel do trabalho na vida das pessoas. Afinal, trabalhar é apenas uma forma de sobrevivência ou também pode trazer realização pessoal?
Amar o trabalho
O Livro Bullshit Jobs
Segundo a teoria do livro “Bullshit Jobs” do antropólogo David Graeber, muitos trabalhos modernos são inúteis e isso faz com que as pessoas se sintam infelizes no trabalho. Mas será que isso é verdade?
O livro explora a ideia de que muitas pessoas em todo o mundo estão presas em trabalhos que são completamente inúteis ou desnecessários. Graeber chama esses trabalhos de “bullshit jobs” e argumenta que eles são uma fonte de frustração e alienação para muitos trabalhadores.
Há um questionamento também sobre as origens e consequências dos bullshit jobs oferecendo exemplos concretos de como esses trabalhos afetam as pessoas em diferentes setores da economia. Graeber também oferece uma crítica afiada ao capitalismo contemporâneo e à maneira como o mesmo valoriza o trabalho em detrimento de outras formas de atividade humana.
É uma leitura fascinante para qualquer pessoa interessada em entender as complexidades do trabalho contemporâneo e as forças sociais e econômicas que o moldam. Nele é lançado um olhar crítico sobre a natureza do trabalho e é questionado se os empregos que realizamos hoje são realmente valiosos e significativos.
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Pesquisa Eurofound
Uma pesquisa realizada pela União Europeia mostrou que apenas cerca de 5% dos trabalhadores sentem que seu trabalho é inútil. Isso contradiz a teoria de Graeber, que afirmava que muitos trabalhadores sabiam que seus trabalhos eram inúteis. A pesquisa também mostrou que as pessoas que trabalham na área de cuidados têm os maiores níveis de sentimento de que o trabalho que fazem na vida vale a pena.
Realizada pela Eurofound, uma agência da União Europeia que estuda as condições de vida e de trabalho na Europa, revelou como já dito, que 5% dos trabalhadores entrevistados em 35 países europeus consideram o seu trabalho inútil para a sociedade.
Esse resultado pode parecer surpreendente, mas ele reflete a diversidade de percepções e valores dos trabalhadores europeus. A pesquisa mostrou que o sentimento de utilidade do trabalho varia de acordo com o país, o setor, a idade, o gênero e o nível de educação dos trabalhadores.
Por exemplo, os trabalhadores mais jovens, mais educados e que trabalham em setores como educação, saúde e serviços sociais tendem a ter uma visão mais positiva do seu trabalho do que os trabalhadores mais velhos, menos educados e que trabalham em setores como agricultura, indústria e construção. Além disso, os trabalhadores que têm mais autonomia, participação, reconhecimento e apoio no trabalho também se sentem mais úteis para a sociedade.
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A dicotomia
Mas será que é possível amar o trabalho e odiar o emprego? A resposta é sim. Muitas pessoas adoram o que fazem, mas não gostam do ambiente de trabalho em que estão inseridas. A falta de autonomia, salários baixos e a falta de recursos são alguns dos fatores que podem tornar um emprego desagradável.
Por outro lado, existem profissionais que amam o que fazem e o ambiente em que trabalham. A diferença está na realização pessoal que o trabalho traz. Quando uma pessoa se sente útil e valorizada em sua profissão, ela tende a gostar do que faz, independentemente do emprego.
A psicóloga do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), por exemplo, enviou um e-mail para a colunista do Financial Times, Sarah O’Connor, dizendo que a falta de recursos torna impossível um bom desempenho em seu trabalho. Mesmo assim, ela ama o que faz e acredita que seu trabalho é importante.
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Conclusão
Em resumo, o debate sobre o papel do trabalho na vida das pessoas é complexo e não há uma resposta única. O importante é que as pessoas encontrem realização pessoal em suas profissões, seja em um emprego específico ou no trabalho em si. Afinal, é possível amar o trabalho e odiar o emprego, mas é muito mais gratificante quando as duas coisas se combinam.
Fernando Araújo
Especial para o Cultura Alternativa