Proibido nascer no paraíso
Sobre o filme
Em sua primeira visita a Fernando de Noronha, a documentarista Joana Nin ficou intrigada com uma frase que ouviu: “Aqui é proibido nascer.”
Estreia no Globoplay em 1º de maio, e no GNT dia 5 de maio, mês das mães.
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Ao investigar isso, descobriu que as grávidas são obrigadas a ir para Recife 12 semanas antes dos seus partos, que devem ser feitos na capital. Na ilha até existe hospital, mas que não realiza procedimentos obstetrícios há quase 20 anos.
Proibido nascer no paraíso
“Conversando com pessoas da comunidade, entendi que quem vive lá há muitos anos acredita que os nascimentos foram suspensos para evitar que estes bebês reivindiquem direitos no futuro. Como as terras são públicas, os terrenos não podem ser oficialmente vendidos.
Eles são concedidos por meio de um Termo de Permissão de Uso – TPU, um documento muitíssimo cobiçado. E nativos tem direito a solicitar a inclusão de seu nome numa lista do programa de habitação local, em busca do mesmo espaço disputado por empresários do turismo.”
É de uma indignação da própria diretora que nasceu PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO, rodado entre 2017 e 2019 e acompanha três gestantes de famílias tradicionais da ilha, cujo desejo é dar à luz no local onde moram, perto de seus familiares.
“O número de gestantes é pequeno para a abertura de uma maternidade, e nem todas as grávidas querem ficar. Mas não seria possível manter uma sala de parto – como existiu até 2004 – com atendimento obstétrico e uma emergência geral mais bem aparelhada?”, questiona a diretora.
O longa acompanha o dia a dia de Ione, Harlene e Babalu, três gestantes cujas famílias vivem em Noronha há décadas, mas são obrigadas a se deslocar para o continente para realizarem seus partos. Joana conta que o tema é de interesse de todos os moradores e moradoras locais, e, por isso, todo mundo a ajudou muito trazendo-lhe informações.
Para realizar o filme, ela também explica que foi preciso conhecer a ilha, suas peculiaridades administrativas. “Fernando de Noronha, um lugar dentro do Brasil com uma lógica própria, não é um município, é um distrito estadual de Pernambuco, o administrador é um cargo nomeado pelo governador, assim como todo pessoal de apoio. A única instância local com eleição democrática é o Conselho Distrital, que não tem função legislativa.
A ilha até hoje funciona, de certa forma, como um presídio ou um quartel, a população é tutelada. Tudo é controlado pelo “Palácio”, como os moradores chamam a sede da administração na ilha. E assim é com a política habitacional, moradores permanentes – com mais de 10 anos de ilha – podem pôr o nome em uma lista e esperar pelo recebimento de um terreno, ou uma casa, já que oficialmente não há compra e venda de imóveis.
Joana explica que a mentalidade local é de que as coisas “são assim porque são, e que não se pode mais mudar”, mas ela também crê que PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO tem o poder de sensibilizar e transformar. “Realizar este filme me fez sentir na pele uma realidade levada ao extremo. Porque ali se consegue proibir de fato que mulheres escolham onde e como querem ter seus bebês.
E isso foi institucionalizado, tornado permanente, pois já dura 17 anos, embora não exista nenhuma lei determinando nada disso. Como aceitar que nativas não possam ter filhos nativos? É revelador sobre o quanto ainda teremos que lutar para fazer valer nossos direitos, para ver respeitados nossos desejos.
Espero que o filme contribua para essa reflexão e ajude, de alguma forma, em um processo de transformação desta realidade. Para que gestar e parir sejam atos mais respeitosos com as mulheres no futuro.”
PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO é uma produção da Sambaqui Cultural e será lançado no Brasil pela Boulevard Filmes.
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