R anking das cidades com mais leitores - Cultura Alternativa

Ranking das cidades com mais leitores expõe retrato nacional

Cidades com mais leitores

Ranking das cidades com mais leitores evidencia que, mesmo em meio ao domínio das telas, a leitura resiste em diversas capitais brasileiras. A 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (abril-julho 2024), conduzida pelo Instituto Pró-Livro em parceria com a Fundação Itaú e o IPEC, entrevistou 5 504 pessoas em 208 municípios e revelou percentuais que vão de 64% – recorde de João Pessoa – a 40%, em Goiânia. Esses números retratam políticas públicas distintas e indicam desigualdades regionais no acesso ao livro, à infraestrutura cultural e aos programas de incentivo.


João Pessoa no topo: 64% da população é leitora

Primeiramente, João Pessoa superou em 17 pontos a média nacional (47%) com seu índice de 64%. A capital paraibana conquistou esse destaque por meio do programa municipal “Ler Mais”, que mantém bibliotecas parque, unidades itinerantes e projetos de férias literárias integrados às escolas.

Além disso, a rede estadual adotou em 2022 a meta de dois livros por bimestre na grade curricular e avaliou os alunos por meio de debates e resenhas. Com isso, os empréstimos de obras juvenis cresceram 22%, consolidando a leitura como prática extraclasse.

O esforço conjunto da prefeitura, das escolas e da comunidade colocou João Pessoa à frente de Curitiba (63%) e Manaus (62%), provando que investimentos coordenados e envolvimento social elevam os níveis de leitura.


Capitais do Norte e Nordeste em destaque

Igualmente, Belém alcançou 61% ao promover feiras literárias mensais, valorizar a tradição oral e implantar o projeto “Rodas de Leitura Ribeirinha”, que leva minibliotecas às comunidades do rio Guamá.

Por conseguinte, Teresina e São Luís, ambas com 59%, organizaram clubes de leitura mediados por professores voluntários, enquanto Aracaju (58%) viabilizou editais que financiaram coletivos literários em bairros da periferia.

Salvador atingiu 57% ao unir poesia falada, slams afro-baianos e rodas de leitura em praças públicas. Esses espaços fortaleceram a autoestima dos jovens e ampliaram a presença dos livros no cotidiano urbano.


Sul e Sudeste: diversidade no acesso

Notadamente, Florianópolis alcançou 56% porque seus centros culturais funcionam integrados às escolas de tempo integral, e a prefeitura manteve as bibliotecas abertas até as 20h. Já Porto Alegre (54%) criou feiras de troca de livros nos parques e compensou a redução dos projetos estaduais.

Por outro lado, São Paulo obteve 60%, apoiada por editoras, livrarias e bibliotecas. No entanto, os distritos centrais concentram 78% dos equipamentos públicos, enquanto os bairros periféricos acessam apenas 22%, revelando desigualdades territoriais.

Tanto o Rio de Janeiro (53%) quanto Brasília (52%) suspenderam editais de incentivo em vários períodos recentes. Essa interrupção comprometeu a continuidade de programas de leitura em comunidades vulneráveis.


Capitais do Centro-Oeste e Sudeste abaixo da média

Entretanto, Campo Grande (49%), Cuiabá (48%) e Belo Horizonte (48%) deixaram de renovar acervos e contratar mediadores por causa da queda de 35% no orçamento das bibliotecas entre 2020 e 2024.

Ademais, Natal (47%) fechou seis bibliotecas de bairro por falta de manutenção. Em Fortaleza, Recife e Maceió, todas com 46%, os gestores restringiram a leitura aos ambientes escolares, sem expandi-la para os espaços públicos e domésticos.

Essas cidades perderam apoio financeiro e não firmaram parcerias com livrarias locais, o que dificultou a disseminação do livro entre diferentes faixas etárias e realidades sociais.

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Palmas, Vitória e outras capitais em alerta

Todavia, Palmas (44%) e Vitória (43%) instalaram minibibliotecas de rua e criaram iniciativas isoladas. No entanto, as gestões ainda não executaram campanhas amplas de formação de multiplicadores e leitores.

Em contrapartida, as escolas de Boa Vista (42%) iniciaram bons projetos de leitura, mas a comunidade não deu continuidade durante as férias escolares. Já Porto Velho, Macapá e Rio Branco, todas com 41%, enfrentam dificuldades de transporte e logística, que encarecem os livros em até 27%.

Goiânia, com apenas 40%, desativou suas bibliotecas distritais a partir de 2019. A prefeitura não lançou novos editais literários, e a população perdeu os espaços públicos que sustentavam o hábito da leitura.


Leitura como resistência e transformação

Finalmente, a pesquisa revelou que 53% dos brasileiros não leram nenhum livro nos três meses anteriores. Entre os motivos citados, destacam-se falta de tempo (46%), desinteresse (33%) e cansaço físico (12%). Esses dados evidenciam as barreiras culturais e práticas que ainda afastam muitos do hábito da leitura.

Portanto, especialistas recomendam ações integradas, como ampliar os horários das bibliotecas, treinar mediadores de leitura, distribuir vales-livro para estudantes e promover campanhas nas redes sociais e nos espaços comunitários.

Ao comprovar o impacto de políticas locais eficazes, o ranking das cidades com mais leitores aponta caminhos. João Pessoa, Curitiba e Manaus demonstram que leitura se constrói com estratégia, continuidade e envolvimento real da população.


Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores-chefes
Cultura Alternativa