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Redes sociais, STF e a democracia conectados

Redes sociais, STF e a democracia


Esquerda e Direita em guerra: o STF virou o novo campo de batalha

Redes sociais, STF e a democracia são três peças de um quebra-cabeça perigoso. Quando o debate público é dominado por extremos, o centro do diálogo se apaga. De um lado, setores da esquerda comemoram as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) como uma forma legítima de conter abusos no ambiente digital.

Em contrapartida, grupos da direita denunciam essas ações como censura disfarçada. Para esses setores, o STF extrapola seu papel e restringe a liberdade de expressão, instaurando uma ditadura togada. Essa narrativa vem ganhando força em plataformas como YouTube, X e Telegram, onde se dissemina a ideia de repressão estatal.

Consequentemente, o verdadeiro problema fica ofuscado. A discussão gira em torno de culpados e vítimas, ignorando a transformação estrutural da comunicação política. A democracia está sendo deformada pela dinâmica digital, e o silêncio em torno disso é ensurdecedor.


Persuasão virou lacração: a lógica da política digital

Por essa razão, é urgente recuperar o sentido clássico da política: a arte de convencer. O diálogo pressupõe escuta, paciência e empatia. Antes das redes, parlamentares conquistavam apoio negociando com quem pensava diferente. Isso exigia carisma, abertura e disposição para acordos.

Além disso, o eleitor mudou. Espera-se que políticos se destaquem com frases fortes e postagens agressivas. O parlamentar, pressionado por sua base digital, prefere lacrar a legislar. Ceder virou sinônimo de traição. A construção de consensos deu lugar ao espetáculo de destruição.

Na prática, o Legislativo foi capturado por essa lógica. Muitos deputados se transformaram em influenciadores. Preferem stories a discursos, reels a audiências públicas. O engajamento digital virou capital político. E sem conversa, não há democracia funcional.


Algoritmos programados para dividir, não unir

Por conseguinte, os algoritmos das redes sociais intensificam esse cenário. São programados para destacar o conteúdo mais emocional, não o mais racional. Raiva e indignação engajam mais do que argumentos equilibrados. E é isso que aparece primeiro na sua linha do tempo.

De modo semelhante, políticos entenderam o jogo e passaram a jogar conforme as regras. Sabem que postagens inflamadas rendem mais que votos bem articulados. A lógica algorítmica substituiu a lógica republicana. O Congresso foi substituído pelo feed.

Ademais, a sociedade também tem responsabilidade. Cada curtida, cada compartilhamento de conteúdo agressivo, alimenta essa engrenagem. Não são apenas os códigos que criam o problema — são os comportamentos. E esses vêm se tornando cada vez mais intolerantes.


A empatia desapareceu: discordar virou crime moral

Primeiramente, a discordância foi demonizada. Quem pensa diferente é considerado mau caráter, traidor ou inimigo. A divergência deixou de ser saudável e passou a ser vista como ameaça. O adversário político virou um alvo moral.

Por outro lado, há quem tente resistir à lógica do cancelamento e da polarização. Movimentos cívicos e cidadãos conscientes buscam resgatar o valor do diálogo. Porém, esses esforços parecem invisíveis diante do barulho das redes, onde o grito vale mais do que o argumento.

Em resumo, a democracia depende da empatia. Se não reconhecemos a humanidade em quem discorda de nós, não há como construir nada em comum. Escute sem ser hostil. E sem pontes, a sociedade se fragmenta.


STF não tem solução mágica: o problema é anterior à toga

Então, esperar que o STF resolva sozinho esse impasse é uma aposta falha. O Supremo atua dentro da Constituição, mas não pode reinventar o pacto social. Não cabe a ele restaurar a capacidade de escutar, dialogar e negociar que perdemos como sociedade.

Além disso, a judicialização da política é fruto do vácuo legislativo. Quando deputados se recusam a enfrentar temas difíceis, transferem esse peso às cortes. E o STF, pressionado, responde. O problema não é o Judiciário atuar — é o Legislativo se omitir.

Portanto, regular as redes é necessário, mas insuficiente. A transformação precisa começar fora das instituições. Reeducar-se para o diálogo, valorizar o respeito, desacelerar os impulsos digitais — isso é tarefa nossa. Não do STF, nem do algoritmo.


Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa