Mário Sérgio Cortella Educação e Tecnologia

Mário Sérgio Cortella em entrevista

Mário Sérgio Cortella em Entrevista: Educação, Tecnologia e o Desafio da Democracia

Mário Sérgio Cortella, um dos maiores nomes da filosofia e educação no Brasil, concedeu uma entrevista reveladora a Chico Pinheiro em 6 de janeiro de 2025.

O encontro trouxe reflexões profundas sobre o papel da educação, as implicações do uso de tecnologias, a espiritualidade e a importância de cultivar uma democracia sólida em tempos de polarização.

A Trajetória Acadêmica e a Influência de Paulo Freire

Desde os primeiros minutos, Cortella destacou sua caminhada acadêmica, marcada pela formação em Filosofia e pelo doutorado em Educação na PUC-SP sob a orientação do renomado educador Paulo Freire.

Ele relembrou emocionado o retorno de Freire do exílio em 1979, evento que reuniu multidões no teatro da Universidade Católica. Freire não foi apenas um mentor, mas um símbolo de resistência e renovação pedagógica. Para Cortella, a educação ideal vai além da alfabetização técnica: trata-se de promover autonomia e pensamento crítico.

O professor frisou que o legado de Freire permanece vivo e ainda necessário em um mundo que enfrenta retrocessos e novos desafios sociais. Ele reforçou que Freire acreditava na educação como um caminho para a libertação pessoal e coletiva.

Mário Sérgio Cortella Educação e Tecnologia

A Filosofia do Ensino e o Valor do Diálogo

Cortella descreveu o papel do professor como uma missão que vai além do ensino de conteúdos. Segundo ele, ser chamado de “professor” é um reconhecimento repleto de significado. Ele compartilhou a satisfação de ser um educador há mais de 50 anos, ressaltando a responsabilidade de formar cidadãos críticos.

A troca de ideias e o exercício da escuta genuína foram pontos de destaque. Ele relembrou que Freire possuía uma capacidade única de ouvir e compreender diferentes perspectivas, algo que ele, enquanto professor, sempre buscou praticar.

“O diálogo é o coração da prática educativa”, afirmou Cortella, reforçando que ensinar é, acima de tudo, um ato de generosidade e humildade.

Tecnologia e o Desafio das Redes Sociais

Durante a entrevista, Cortella abordou os impactos das redes digitais na educação. Ele ponderou sobre a utilização das tecnologias como ferramentas de ensino, destacando que celulares e aplicativos podem ser úteis na aprendizagem, desde que usados de maneira consciente e com objetivos claros.

No entanto, ele alertou para o perigo das “bolhas ideológicas” e da disseminação de notícias falsas. Citando Millôr Fernandes, disse: “É importante ter sem que o ter te tenha.” Para Cortella, o uso da tecnologia exige responsabilidade e discernimento para evitar a manipulação e a propagação do ódio.

Outro ponto levantado foi a capacidade das redes de potencializar vozes extremistas. Segundo ele, o problema não está na tecnologia em si, mas na intencionalidade de quem a utiliza.

Ele comparou a tecnologia a uma faca: pode servir tanto para cortar uma maçã quanto para causar danos, dependendo de quem a manuseia.

Mário Sérgio Cortella Educação e Tecnologia

Educação e Emancipação: O Legado de Paulo Freire

Ao retomar o tema central de seu pensamento, Cortella reforçou que a missão da educação é proporcionar a emancipação e a capacidade de leitura do mundo. Ele destacou que ensinar não é apenas transmitir conhecimentos formais, mas inspirar as pessoas a interpretar suas próprias realidades.

Para exemplificar, o professor mencionou o método de alfabetização utilizado por Paulo Freire em Angicos, no Rio Grande do Norte.

O objetivo não era apenas ensinar a decodificar palavras, mas proporcionar às pessoas o domínio de suas histórias e a possibilidade de transformação social.

Cortella também refletiu sobre a pertinência desse método nos dias de hoje, mesmo com as mudanças tecnológicas.

Ele acredita que os princípios freirianos podem ser adaptados para o ensino virtual, desde que se mantenha o foco na conscientização e não apenas na mecanização do aprendizado.

Assista o programa

Site Instituto Conhecimento Liberta

Mário Sérgio Cortella Educação e Tecnologia

Conclusão: O Futuro da Educação e da Sociedade

Encerrando a entrevista, Cortella compartilhou sua visão otimista, mas realista, sobre o futuro. Ele destacou que a democracia é uma construção contínua e que exige engajamento permanente.

A esperança, segundo ele, não é um ato passivo, mas um verbo de ação. Ele diferenciou entre “esperar” e “esperançar”, explicando que o segundo implica em agir em busca de mudanças.

Com um convite à reflexão, Cortella enfatizou que a educação deve ser um instrumento de fortalecimento da cidadania e da liberdade. Seu conselho final foi claro: “A resposta não está em vencer debates com arrogância, mas em convencer com empatia e respeito.”

Ele reafirmou que o conhecimento é um caminho de emancipação e que, mais do que nunca, é necessário cultivá-lo como antídoto contra a intolerância e a ignorância.

A entrevista reafirma o papel fundamental do professor na construção de um mundo mais justo e plural. As palavras de Cortella permanecem como um lembrete de que educar é um ato revolucionário e de que, apesar dos desafios, ainda é possível construir pontes onde muitos só veem muros.

Anand Rao e Agnes Adusumilli

Editores Chefes

Cultura Alternativa