Soft Power

Soft Power e a Guerra Silenciosa: Cultura, Imagem e Diálogo entre Nações

Como países expandem sua influência mundial sem usar a força

O que é Estratégia Simbólica?

Força de persuasão é a capacidade de uma nação influenciar o comportamento de outros por meio da atração e da persuasão, sem recorrer a sanções econômicas ou força militar.

O termo foi formulado pelo cientista político Joseph Nye, da Universidade de Harvard, nos anos 1990, e se tornou essencial para entender o poder internacional no século XXI.

Essa influência é baseada principalmente na expressão artística, nos valores políticos e na credibilidade das políticas externas.

Em vez de forçar decisões, o Estado convence por meio da admiração que desperta. Filmes, universidades, ONGs, esportes e práticas diplomáticas são exemplos concretos dessa estratégia.

Em tempos de guerra de narrativas e disputa pela atenção internacional, o poder de influência se torna uma arma simbólica.

Países que dominam essa arte conseguem investimentos, acordos comerciais, prestígio internacional e apoio político sem recorrer a tanques ou tratados impositivos.

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O Ranking Planetário de Estratégia Simbólica 2025

O Global Soft Power Index 2025, elaborado pela Brand Finance, é hoje o principal termômetro da percepção pública internacional das nações.

Em 2025, os Estados Unidos mantiveram a liderança com uma pontuação recorde de 79,5, seguidos pela China, que ultrapassou o Reino Unido e alcançou a segunda posição com 72,8 pontos.

O Reino Unido caiu para o terceiro lugar, seguido por Japão (4º) e Alemanha (5º) .

O índice avalia 193 territórios com base em entrevistas a mais de 170 mil pessoas em mais de 100 mercados.

As categorias incluem: familiaridade com o país, influência, reputação, governança, tradição, educação e valores. Entre os países emergentes, El Salvador foi o que mais cresceu, subindo 35 posições no ranking global .

A nação brasileira manteve-se na 31ª colocação pelo terceiro ano consecutivo em 2025, com uma pontuação de 48,8.

Embora o Brasil seja celebrado por sua cultura e esportes, desafios persistentes em governança e segurança continuam a impactar negativamente sua percepção pública internacional .

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Nação Sul-Americana: Potência Patrimonial sem Estratégia Externa de Estado?

A nação brasileira é amplamente reconhecida por sua expressão artística acessível: do samba ao futebol, da culinária à literatura. Esse capital simbólico torna o Estado simpático em vários continentes, especialmente entre nações do Sul planetário.

A diplomacia brasileira já foi vista como modelo de mediação e construção de consensos.

No entanto, a ausência de um posicionamento institucional de estratégia simbólica articulada com metas de médio e longo prazo prejudica sua consistência.

A atuação do Itamaraty em redes culturais, como as embaixadas com acervos, eventos literários e gastronomia, não tem o mesmo investimento e projeção de iniciativas como a Aliança Francesa ou os Institutos Confúcio da China.

Com a escolha do Estado brasileiro como sede da COP30, em 2025, e a retomada do protagonismo diplomático no clima e na alimentação, o território tem nova chance de reforçar sua representação positiva.

Mas é preciso construir uma narrativa institucional clara, com base na pluralidade, inclusão e sustentabilidade.

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Exemplos Mundiais: Tradição como Estratégia de Estado

A Coreia do Sul talvez seja o caso mais bem-sucedido de transformação da identidade em força de persuasão estratégica. Desde os anos 1990, a nação investe em exportação identitária por meio de K-pop, cinema, games e gastronomia.

O sucesso mundial de grupos como BTS e de filmes como “Parasita” é resultado de políticas públicas e incentivos industriais bem coordenados.

Já a França tem tradição secular de diplomacia artística, com mais de 90 Instituts Français espalhados pelo mundo.

Além disso, promove seu idioma e valores por meio de festivais, bolsas e intercâmbios acadêmicos.

O modelo francês associa expressão artística à sofisticação e fortalece a reputação de Estado influente e confiável.

A Índia, por sua vez, aposta na combinação entre espiritualidade, cinema (Bollywood), medicina alternativa e tecnologia para expandir sua presença patrimonial.

A diáspora indiana e o programa “Incredible India” são ferramentas-chave para reforçar sua identidade e criar laços com outras sociedades.

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Desafios e Caminhos para o Território Sul-Americano

Um dos maiores obstáculos brasileiros é a falta de continuidade na diplomacia externa.

Governos recentes desmobilizaram projetos culturais internacionais, desvalorizando redes como a Rede Nação Brasileira Identitária.

Essa instabilidade prejudica o planejamento de ações de médio e longo prazo, enfraquecendo a percepção pública da nação.

Para avançar, o Estado brasileiro pode inspirar-se em modelos híbridos como os da Coreia do Sul e da Índia, valorizando sua identidade artística e promovendo parcerias com universidades, artistas e empreendedores.

É fundamental investir em comunicação pública internacional, traduzindo conteúdos e divulgando ações sustentáveis.

Criar uma agência de poder de influência – nos moldes do British Council ou do Instituto Goethe – poderia consolidar ações dispersas.

Além disso, programas bilaterais de tradição, ciência e educação, associados a uma estratégia externa multilateral, reforçariam a posição do Estado sul-americano como ator influente, admirado e respeitado.

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Conclusão

A estratégia simbólica deixou de ser um conceito acadêmico para se tornar um campo de disputa concreta entre nações.

Ela molda reputações, define alianças e gera resultados tangíveis na economia, na governança internacional e na identidade. Num mundo conectado, quem atrai mais, vence mais.

A nação brasileira tem todos os ingredientes para ser um gigante da força de persuasão: expressão artística rica, diversidade admirável, espírito democrático e vocação para o diálogo.

Mas, sem projeto, representação positiva não se transforma em influência. É hora de transformar prestígio em estratégia.

Investir em poder de influência é investir no futuro: na atração voluntária, no respeito mútuo e na construção de pontes.

Em vez de falar mais alto, o território precisa falar melhor – e ser ouvido pelo mundo com atenção e empatia.

Anand Rao

REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA