Taxa Rosa: Quando o Feminino Vira Motivo para Cobrança Extra
No supermercado, dois desodorantes da mesma marca. Um com embalagem azul, outro rosa. A fragrância varia levemente, mas o conteúdo é o mesmo: 150 ml.
Ainda assim, o produto voltado ao público feminino custa R$ 2 a mais. Esse é apenas um exemplo do que especialistas vêm denunciando há anos: o mercado cobra mais das mulheres por itens similares — ou idênticos — aos comercializados para homens.
Essa prática tem nome: taxa rosa (pink tax, no original). E ela não se restringe aos cosméticos. Ela está nas farmácias, nas lojas de roupas, nos salões de beleza, nos brinquedos e até mesmo em planos de saúde.
Uma cobrança silenciosa que, ao ser naturalizada, perpetua desigualdades de gênero mascaradas sob etiquetas coloridas.
Beleza com Juros: o Preço de Ser Mulher
De acordo com estudo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), produtos voltados para mulheres podem custar em média 12,3% a mais do que as versões masculinas.
Em alguns casos, a diferença ultrapassa os 100%. Lâminas de barbear, shampoos, desodorantes, cremes hidratantes e brinquedos com temas “femininos” são com frequência mais caros — mesmo quando compostos com os mesmos ingredientes ou materiais.
Esse fenômeno não é acidental. Ele nasce de uma estratégia de marketing baseada em estereótipos de consumo e na ideia de que mulheres estão mais dispostas a investir em aparência, cuidado pessoal e estética. A indústria identifica o desejo e transforma em oportunidade de lucro.
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Mesma Fórmula, Dobro do Preço
O problema vai além da diferença no rótulo. Um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), feito a pedido do Procon-SP, mostrou que produtos “iguais” podem variar até 40% no valor final apenas por estarem destinados a um público feminino.
Em uma sociedade onde mulheres ganham, em média, 22% menos que os homens — segundo o IBGE — pagar mais por ser mulher é um contrassenso que onera duplamente.
A desigualdade também se reflete em itens essenciais. Produtos de higiene menstrual, como absorventes, ainda enfrentam alta carga tributária no Brasil, o que agrava a chamada “pobreza menstrual”, afetando principalmente meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade social.
O Brasil Também Cobra: Realidades e Silêncios
Embora a taxa rosa seja discutida em países como Estados Unidos, França e Argentina, o Brasil carece de legislação específica que coíba a prática. O Código de Defesa do Consumidor proíbe diferenciação de preços sem justificativa plausível, mas na prática, a fiscalização é frágil.
Projetos de lei já foram apresentados no Congresso Nacional — como o PL 6055/2016, que visava proibir a cobrança diferenciada por gênero — mas seguem engavetados. Enquanto isso, campanhas de conscientização tentam alertar o consumidor, mas ainda encontram barreiras culturais e falta de informação.

A Quem Interessa Manter Essa Diferença?
A manutenção da taxa rosa não é só reflexo de inércia mercadológica — é, também, resultado da ausência de pressão coletiva. Enquanto consumidores aceitarem pagar mais por produtos “femininos” sem questionamento, o ciclo se perpetua.
E enquanto o debate não ganhar força institucional, com medidas legislativas e regulatórias claras, as mulheres continuarão pagando mais por menos.
Até Quando o Gênero Será Taxado no Rótulo?
Mais do que um problema de consumo, a taxa rosa é um reflexo da forma como a sociedade valoriza — ou subvaloriza — o feminino.
É preciso ir além da indignação e partir para a ação: comparar preços, questionar marcas, exigir transparência e apoiar propostas legislativas que visem corrigir essa distorção de mercado.
Enquanto isso, seguimos diante de um paradoxo: em um mundo que promove igualdade em discursos publicitários, o simples fato de ser mulher ainda pesa no bolso.
REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA