Anne Paceo no Festival de Marciac

Trompetista que faz dançar e cantora brasileira correndo entre a platéia

Anne Paceo no Festival de Marciac

Trompetista que faz dançar e cantora brasileira correndo entre a platéia no Festival de Marciac

Noite de casa lotada para as apresentações de terça-feira da edição 2024 do Jazz In Marciac. O Cultura Alternativa acompanha de perto este que é um dos maiores festivais de jazz da Europa.

Lotação esgotada é uma constante quando o “tête d’afiche” (principal atração) é o trompetista franco-libanês Ibrahim Maalouf. O instrumentista tem uma história de três décadas dedicadas ao Jazz. É filho de Nassim Maalouf, trompetista que adaptou o instrumento para a sonoridade árabe ao introduzir a tecla do quarto de tom.

Ibrahim abre sua apresentação convidando o público a “fazer afesta”, ou seja, levantar das cadeiras e dançar. Ele é conhecido, e admirado, por sua abordagem progressista do jazz instrumental, que a partir de seu sopro vigoroso se entrega a uma celebração aberta e dançante.

Esta noite ele apresenta o espetáculo “Trompetes de Michel Ange”. E nos conduz a duas horas de espetáculo, com revezamento de evidentes talentos dos metais à frente da cena, em destaque o saxofonista Mihai Pirvan.

No jazz de Ibrahim cabem influências múltiplas, que vão do pop ao clássico, do ocidental ao oriental de suas origens, claro.

Liberada dos freios cerebrais do jazz tradicional, a platéia se deixa levar pelo clima festivo e o Chapiteau se transforma numa espécie de imensa festa de casamento, sob a incitação de Maalouf, que, durante as duas horas em que ocupa o palco, fala quase tanto quanto sopra seu trompete.

Antes de encerrar sua “festa de casamento” Ibrahim nos convida a ligarmos nossas lanternas de celular em memória às crianças de Beirute neste momento cerceadas de sua Liberdade pela guerra em Israel. No Jazz in Marciac Maalouf joga em casa. Com apoio irrestrito de uma grande torcida.

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Anne Paceo no Festival de Marciac

A baterista virtuose Anne Paceo, 40 anos, queridinha da nova cena jazz francesa, abriu a noite acompanhada por quatro músicos que se revezavam entre trompete, piano, guitarra, baixo, teclado e sax; mais a cantora franco-brasileira Gildaa.

Anne, que já acompanhou, entre tantos, Michel Legrand, é também compositora e cantora.
Em Marciac ela apresentou pela primeira vez ao vivo seu récem- lançado álbum chamado “Atlantis”. Trata-se de uma verdadeira viagem ao fundo mar, por meio da qual Anne busca trasmitir ao público sensações de suas experiências como merguladora.

É uma música envolvente, densa, desdobrada em várias camadas de sonoridades, onde o sintetizador tem papel relevante. A bateria de Anne é plena de timbres, de viradas, de evoluções concentricas e de referências tribais.

Assim, como viajantes de primeira classe do submarino sonoro de Anne, vamos experimentando, por meio de nossa audição, a desorientação espaço-temporal, a fusão corpo-espírito, a claustrofobia, a excitação.. Enfim, o deslocamento sensorial de um mundo à parte, desconhecido e excitante.

Nesta viagem, uma surpresa fora reservada para o final. E ninguém, mesmo os mais ímpavidos, ficaram alheios à performance de Gildaa.

No auge do momento de maior tensão da ópera aquática de Anne coube a ela causar o derradeiro impacto. Foi quando deixou o palco e se misturou à platéia, a essa hora mergulhada em escuridão, surgindo hora aqui hora ali enquanto a banda envolvia o Chapiteau num transe eletro-hipnótico.

Pela ousadia, o concerto de Anne, Gildaa e banda é daqueles destinado a ficar marcado na história de Marciac.

Carlos Dias Lopes

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