Revoluções por minutos

Revoluções por minutos, por Ediney Santana.

Rádio Pirata ao vivo é o nome desse clássico lançado pela banda paulistana RPM.

Em 1986 chegava às lojas de discos um dos mais emblemáticos discos da história do rock mundial e que se tornaria o LP mais vendido do Brasil de todos os tempos.

No agonizar da ditadura civil militar que deixava para trás um rastro de sangue, torturas e pessoas desaparecidas, sem falar no estrago econômico que devastou os anos de 1980 “Rádio Pirata ao vivo” trazia um som sombrio (sem melancolia) letras cortantes que pareciam chamar a todos para vigilância constante e defesa da democracia que renascia.

Todo o disco foi composto por dois dos membros da banda, Paulo Ricardo com sua voz singular e Luiz Schiavon e seus teclados hipnotizantes. Além desses dois o RPM tinha Fernando Deluqui (Guitarra) e Paulo P.A Pagni (Bateria) esse falecido recentemente.

 O disco trazia duas regravações, “Flores Astrais” de autoria de João Ricardo e João Apolinário gravada originalmente pelos Secos e Molhados e a regravação antológica de London London de Caetano Veloso. London London é uma canção exílio de Caetano Veloso, obrigado a deixar o Brasil com Gilberto Gil e se exilar em Londres, se ficassem aqui corriam risco além de ser presos novamente, da tortura e morte.

Em “Flores Astrais” há citação de Light My Fire do The Doors, banda estadunidense, tinha como líder Jim Morrison, além de letrista era poeta contracultural.

Lembro ter ido ao Palácio dos Discos e comprar o K7 pirata (sem trocadilho) do Rádio Pirata ao vivo, não tinha como comprar o LP. Lembro também de Kim, um vizinho, comprou o LP, ficava olhando aquela capa, misturava elementos góticos e vanguardas neo modernistas e ia longe, muito além da minha aldeia.

O mais sintomático é saber que a juventude dos anos de 1980 ouvia esse tipo de música reflexiva, canções de guerra e algumas de amor. Na década seguinte, a da minha geração, começa a decadência cultural, minha geração contribuiu muito pouco, nossa geração ressaca presenciava o Brasil de Collor, melancólico, pequeno burguês e decadente, o desânimo quase nos matou. 

Ouvir nos dias de hoje Rádio Pirata ao vivo é reencontrar o Brasil inteligente, o Brasil que mesmo com uma hiperinflação herdada dos governos militares não abria mão de ser criativo, inovador, ousado.

Hoje Rádio Pirata ao vivo não parece datado, ora pela incrível musicalidade, ora pela tragédia zombeteira da história e seus ecos carregados de trágicas incertezas.

? Por Ediney Santana, para o Cultura Alternativa

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? **Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha do Cultura Alternativa. ?