Airto Moreira

MESTRE DOS RITMOS, por Paulo Lima

Airto Moreira – MESTRE DOS RITMOS

Airto Moreira entra no palco e faz um quebra-luz com a mão esquerda, tentando avistar a plateia.

Vê que o teatro do Sesc Consolação está lotado e diz um “uau” enquanto caminha lentamente até o set de percussão. Sob intensos aplausos, senta-se, diz um “boa noite” e começa a sacudir dois ganzás, fazendo sons com a voz. Logo é seguido pela banda.

O super percussionista e baterista, que no fim dos anos 1960 mudou-se para os Estados Unidos e virou uma lenda, está bem ali, a poucos metros de distância.

É como uma miragem, mas a música é bem real. Protegido por uma pequena estrutura, sua fábrica de sons, Airto alterna dos ganzás para os agogôs, dali para os pratos, depois para o bumbo, em seguida para o timbal, numa velocidade desnorteante, produzindo uma massa sonora que equivale a uma orquestra só de ritmos.

Não faltou um apito, que Airto traz colado ao corpo, pendurado no pescoço por uma corrente de metal, como uma espécie de talismã ou símbolo de devoção.

O repertório do show incluiu seu mais recente trabalho, “Aluê”, o primeiro disco de Airto Moreira gravado no Brasil. As músicas apresentadas percorrem dos gêneros brasileiros, como o samba, a bossa, o sambalanço, até o jazz.

Antes de ir tentar a carreira no exterior, ao lado da esposa Flora Purim, ele fez parte de grupos musicais que tinham como integrantes uma constelação de músicos como César Camargo Mariano, Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte. Nos Estados Unidos, esse catarinense da pequenina Itaiópolis gravou com Miles Davis, outra lenda, entre outros feitos memoráveis.

Depois dos dois primeiros números da noite, Airto deixa a percussão e vai pilotar a bateria, num longo e belo tema, na verdade uma vigorosa jam session.

Fábrica de sons

De volta à sua fábrica de sons, ao sentar-se, ele percebe o ruído da cadeira giratória. Dá voltas nela, improvisando um arranjo, e anuncia: “Efeito especial”, fazendo o público rir.

Por trás de seu jeito sério, concentrado, Airto Moreira é um sujeito espirituoso e bom contador de histórias. No bate-papo que se seguiu à apresentação, mediado pela jornalista Patrícia Palumbo, ele contou histórias impagáveis, incluindo a do nome do novo disco, surgido há muito tempo, durante uma viagem com Miles Davis e outros músicos a Big Sur, o paradisíaco litoral da Califórnia.

Depois de explicar como entrou na profissão, lá na infância, resumiu seu estilo: “Eu sou baterista de baile, toco para as pessoas dançarem. Agora, na percussão é mais jazz”. Claro, pura modéstia.

Airto Moreira

Link:

Airto Moreira | Bate-Papo | Instrumental Sesc Brasil


Paulo Lima

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