A formação de professores é um dos principais obstáculos para o uso de tecnologias nas salas de aula, segundo um estudo realizado pelo British Council em parceria com a Fundação Carlos Chagas. As escolas brasileiras enfrentam problemas estruturais e de infraestrutura. O estudo, intitulado “O ensino de ciências da natureza e suas tecnologias na educação básica brasileira – um panorama entre os anos de 2010 e 2020”, tem como objetivo inventariar e descrever aspectos fundamentais para o desenvolvimento da educação STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática, na sigla em inglês).
O Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb) apresenta em seu site uma autoavaliação feita por mais de 100 mil professores de educação básica, mostrando que não se sentem aptos a utilizar a tecnologia para além do uso pessoal. Os docentes afirmam que não sabem usar a tecnologia para seu próprio desenvolvimento profissional, como para fazer cursos online ou autoavaliação online, o que evidencia a necessidade de desenvolvimento dessa competência.
Tecnologia na educação básica
Infraestrutura e conectividade nas escolas brasileiras
Em relação à infraestrutura, o estudo aponta duas principais carências que atrapalham as escolas: a baixa conectividade e a dificuldade de acesso a dispositivos como computadores e tablets. A pesquisa menciona que, enquanto nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a média é de cinco alunos por computador, no Brasil, esse número sobe para 35 ou mais.
A formação continuada é destacada como uma questão crucial para o ensino de ciências. A diretora de Engajamento Cultural do British Council Brasil, Diana Daste, afirma que a forma de ensinar ciências tem mudado rapidamente e que a organização busca compartilhar boas práticas do Reino Unido em ensino de STEM, incentivando trocas e parcerias com o Brasil. O objetivo da pesquisa é fomentar reflexões e conversas que possam contribuir para políticas públicas de ensino de ciências e tecnologia.
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Tecnologia, ciências e mercado de trabalho
O levantamento mostra que a computação pode colaborar significativamente com o aprendizado em outras áreas, como ciências da natureza, além de ser uma área estratégica para a sociedade contemporânea e uma das mais atrativas do mercado de trabalho. A pesquisa também indica uma leve queda no número de matrículas para licenciaturas de ciências da computação entre 2015 e 2019.
A explicação para esse cenário envolve a baixa atratividade financeira para a carreira docente, mas há expectativa de que a implementação da Política Nacional de Educação Digital, aprovada em dezembro de 2022 e sancionada em janeiro de 2023, torne mais atrativa a carreira docente na área de ciências e tecnologia. A lei 4.513/2020 estabelece ações para ampliar o acesso à tecnologia em cinco frentes: inclusão digital, educação digital, capacitação, especialização digital e pesquisa digital.
Tecnologia na educação básica
Ensino a Distância (EAD) e expansão nas áreas de ciências e tecnologia
O estudo também destaca o aumento da presença do Ensino a Distância (EAD) em áreas como matemática e computação, com crescimentos de 46,5% e 46%, respectivamente, entre 2010 e 2019. As autoras da pesquisa sugerem que a mobilização para abertura de cursos na área de matemática seja mais simples em termos de infraestrutura para as instituições de ensino superior, pois não exige laboratórios complexos como física, química e biologia, que demandam maior investimento financeiro.
A pesquisa reitera a necessidade de modernização do ensino de ciências no Brasil. Pontos de atenção incluem o acesso reduzido a materiais de laboratório e os desafios enfrentados pelos docentes na inserção e desenvolvimento do letramento científico na rotina da educação básica.
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Currículo interdisciplinar e formação continuada
Outro cenário apontado é a necessidade de um ambiente propício para a ampliação do currículo de ciências e tecnologias com temas interdisciplinares, envolvendo assuntos como gênero e raça. Entre as recomendações propostas pelo estudo, destaca-se a importância da ampliação da formação continuada e troca de experiências entre os docentes.
A pesquisa ressalta que é essencial investir na formação de professores, melhorar a infraestrutura das escolas e promover o acesso à tecnologia. Ações como essas podem colaborar para um ensino de ciências e tecnologia mais eficaz, preparando os estudantes para os desafios do século XXI e contribuindo para o desenvolvimento do país.
Inclusão digital e promoção da equidade no ensino
A inclusão digital é um aspecto crucial para garantir que todos os alunos, independente de suas condições socioeconômicas, possam se beneficiar das oportunidades que a tecnologia oferece no ensino. É importante considerar a diversidade de contextos e realidades nas escolas brasileiras, garantindo que políticas públicas contemplem estratégias para diminuir a exclusão digital e promover a equidade no ensino.
Iniciativas como a Política Nacional de Educação Digital são um passo na direção certa, mas é fundamental monitorar e avaliar a eficácia dessas ações para assegurar que os objetivos de inclusão e melhoria do ensino sejam alcançados. Parcerias entre setores público e privado, bem como organizações internacionais, podem ser fundamentais para impulsionar o progresso e compartilhar melhores práticas no ensino de ciências e tecnologia.
Preparação para o futuro: habilidades do século XXI e aprendizado baseado em projetos
Além de abordar questões estruturais e de formação de professores, é importante promover mudanças pedagógicas que possam levar o ensino de ciências e tecnologia a um novo patamar. Uma das tendências atuais na educação é o desenvolvimento de habilidades do século XXI, como pensamento crítico, criatividade, comunicação e colaboração, fundamentais para preparar os alunos para as demandas do mundo atual e do mercado de trabalho.
É importante a adoção de metodologias ativas de aprendizagem, como o aprendizado baseado em projetos (PBL, na sigla em inglês), pode ser uma estratégia eficaz para engajar os alunos e promover a aquisição dessas habilidades. Ao trabalhar em projetos relacionados às ciências e tecnologia, os estudantes têm a oportunidade de colocar em prática seus conhecimentos, explorar problemas reais e desenvolver soluções criativas, ampliando a relevância e o impacto do aprendizado nessas áreas.
Em suma, a melhoria do ensino de ciências e tecnologia no Brasil requer um esforço conjunto entre políticas públicas, formação de professores, investimento em infraestrutura, inclusão digital e mudanças pedagógicas. Ao abordar esses aspectos de maneira integrada, será possível oferecer um ensino de qualidade e garantir que os alunos estejam preparados para enfrentar os desafios do século XXI.
Antônio Silva
Especial para o Cultura Alternativa