Nos últimos anos, temos observado um comportamento inesperado nas plataformas digitais: jovens da Geração Z, nascidos entre 1995 e 2010, estão mudando a forma como se relacionam com as redes sociais, principalmente em relação à publicação de fotos.
Se os millennials (nascidos entre 1981 e 1994) abraçaram a exposição nas redes como uma forma de construir identidade e estabelecer conexões, a Geração Z está cada vez mais adotando o chamado ‘feed zero’. Mas o que está por trás dessa mudança e o que isso revela sobre as dinâmicas sociais da era digital?
Redes Sociais e a Geração Z
A Ascensão do ‘Feed Zero’
O conceito de ‘feed zero’ refere-se à prática de manter o perfil nas redes sociais, especialmente no Instagram, sem publicações de fotos. Ao contrário das gerações anteriores, que viram as redes sociais como uma extensão de suas vidas, onde momentos importantes e rotineiros eram compartilhados, a Geração Z tem evitado a superexposição, optando por perfis vazios ou altamente restritos.
Rafaela Pardes, estudante de 20 anos, é um exemplo típico desse movimento. “Nunca senti vontade de expor minha vida para tantas pessoas, mesmo com o perfil privado.
É um tipo de exposição que me deixa desconfortável”, explica. Para muitos jovens como ela, a ideia de expor-se digitalmente para um grande número de pessoas traz receio, vergonha e medo de julgamento.
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Redes Sociais e a Geração Z
Autoestima e Pressão Estética
A pressão estética e a busca por validação também estão fortemente conectadas ao fenômeno do ‘feed zero’. Em um mundo onde a imagem parece definir o valor de alguém, jovens da Geração Z estão mais conscientes dos efeitos negativos da superexposição, como a ansiedade causada pela necessidade de validação constante, seja por curtidas ou comentários.
Uma pesquisa recente realizada pelo Panorama de Saúde Mental apontou que 78% dos jovens brasileiros de 12 a 24 anos sentem estresse relacionado à sua aparência nas redes sociais. Além disso, 71% relataram sentimentos de baixa autoestima após visualizarem conteúdos de outros usuários.
João Pedro Sena, de 19 anos, relata que a pressão estética foi um dos motivos pelos quais parou de publicar fotos. “Cheguei a um ponto em que postar fotos me fazia questionar constantemente minha aparência e isso começou a afetar minha saúde mental”, desabafa. Ele, como muitos outros, preferiu se distanciar da necessidade de aprovação pública.
Essa busca incessante por aprovação digital é agravada pelo fenômeno do ciberbullying, que afeta muitos jovens nas redes. Comentários maldosos sobre a aparência física ou estilo de vida são frequentes, o que pode agravar sentimentos de insegurança e isolamento social.
Redes Sociais e a Geração Z
O Impacto da Pandemia
A pandemia de COVID-19 desempenhou um papel significativo na transformação do comportamento da Geração Z nas redes sociais. Com o isolamento social e o ensino à distância (EAD), muitos jovens passaram a depender da internet para manter contato com amigos e familiares, mas essa dependência trouxe efeitos colaterais.
O afastamento físico e a constante presença digital resultaram no que especialistas chamam de “ressaca digital” — um esgotamento causado pela sobrecarga de estímulos online. Para muitos, o feed zero se tornou uma forma de reequilibrar sua relação com o mundo digital.
O consultor de redes sociais, Alexandre Inagaki, afirma que a pandemia acelerou esse processo. “A geração Z está buscando maneiras de se desconectar de uma vida constantemente exposta, priorizando interações mais autênticas e menos filtradas”, comenta.
Redes Sociais e a Geração Z
A Tendência das Contas Secundárias
Ainda que a Geração Z esteja evitando a superexposição, isso não significa que eles estão completamente desconectados das redes sociais. Um fenômeno que tem ganhado popularidade é o uso de contas secundárias, conhecidas como ‘dix’, ‘spam’ ou ‘privado’.
Nesses perfis, jovens compartilham seu cotidiano de forma mais íntima e reservada, permitindo que apenas um grupo seleto de amigos tenha acesso aos conteúdos.
“Eu raramente uso meu feed principal, mas no meu ‘privado’ eu me sinto mais à vontade para compartilhar o que realmente estou vivendo”, relata Fabrizio, de 18 anos. Essa prática permite que os jovens mantenham um espaço de interação digital sem se submeterem à pressão do julgamento público.
A ferramenta “Melhores Amigos” do Instagram tem sido amplamente utilizada, permitindo que publicações sejam vistas apenas por um círculo restrito de seguidores. Isso oferece um meio-termo entre a necessidade de conexão e o desejo de manter uma vida privada longe dos olhos de estranhos ou até conhecidos distantes.
Redes Sociais e a Geração Z
O Futuro da Geração Z nas Redes Sociais
A mudança de comportamento da Geração Z nas redes sociais levanta importantes reflexões sobre o futuro das plataformas digitais e a maneira como interagimos nelas. A superexposição, que antes era vista como parte essencial da experiência nas redes, começa a perder espaço para uma busca por autenticidade e moderação.
Esse movimento também pode ser uma resposta às consequências de uma era onde tudo é compartilhado e a linha entre o público e o privado se tornou cada vez mais tênue. O feed zero, ao que parece, é uma forma de os jovens retomarem o controle sobre suas vidas digitais, evitando a necessidade de performar constantemente para uma audiência invisível.
Seja qual for o futuro das redes sociais, uma coisa é certa: a Geração Z está reescrevendo as regras da interação online. E enquanto eles continuam conectados, o fazem de uma forma que prioriza a saúde mental, a autenticidade e o equilíbrio.
Anand Rao
REDAÇÃO SITE CULTURA ALTERNATIVA