Jovens no Mercado de Trabalho - Site Cultura Alternativa

O Envelhecimento da Força de Trabalho Brasileira e a Carência de Jovens no Mercado

Jovens no Mercado de Trabalho

O Brasil está atravessando uma mudança estrutural em seu mercado de trabalho, com o envelhecimento da população se tornando um fator cada vez mais preponderante. 

Os dados são claros: a população ocupada com 60 anos ou mais atingiu a marca recorde de 8,042 milhões de trabalhadores no segundo trimestre de 2024, algo sem precedentes na história recente do país. 

Esse número reflete um fenômeno global, mas que no Brasil está associado a um fator agravante — a falta de jovens trabalhadores no mercado.

De acordo com dados recentes, 53,8% dos trabalhadores com mais de 60 anos estão na informalidade, o que demonstra não apenas a dificuldade de aposentadoria, mas também a carência de uma inserção adequada no mercado formal. 

Enquanto isso, a taxa de informalidade entre os jovens de 14 a 17 anos é de 46,3%, o que também revela uma precarização das oportunidades de trabalho para aqueles que estão no início da carreira. 

Entre os adultos de 40 a 59 anos, esse índice é de 35,7%, uma queda significativa em comparação aos extremos da faixa etária, mas ainda preocupante.

Jovens no Mercado de Trabalho

Uma Força de Trabalho Mais Velha e Informal

A informalidade entre trabalhadores mais velhos é uma realidade alarmante, e os números falam por si. 

Comparando com faixas etárias mais jovens, a taxa de informalidade é 18 pontos percentuais maior para aqueles com 60 anos ou mais. 

Isso significa que, embora haja uma quantidade recorde de trabalhadores seniores no mercado, muitos estão fora da proteção das leis trabalhistas e dos benefícios sociais.

Essa realidade é ilustrada pelo relato de Vera Lúcia Muniz, de 60 anos, que voltou a trabalhar após dois anos de aposentadoria, não apenas por uma questão de vontade, mas por necessidade financeira. 

“Só com a aposentadoria não se vive”, afirma Vera, que, como muitos outros brasileiros, se vê forçada a complementar sua renda mesmo depois de ter alcançado a idade de aposentar.

Crescimento Constante da População Ativa Acima dos 60 Anos

A evolução da participação dos trabalhadores seniores no mercado de trabalho ao longo da última década é notável. Em 2012, o Brasil contava com 4,934 milhões de trabalhadores com mais de 60 anos. 

A cada ano, esse número cresceu consistentemente, ultrapassando a marca de 6 milhões em 2017 e alcançando 8,042 milhões em 2024. 

Esse crescimento reflete não apenas o aumento da expectativa de vida, mas também uma tendência global de adiamento da aposentadoria, seja por necessidade ou por escolha pessoal.

Carlos Alberto de Carvalho, de 65 anos, é um exemplo desse fenômeno. Atendente de uma rede de saúde, ele não pretende parar tão cedo. “Se a empresa me mantiver e eu tiver lúcido, vou continuar trabalhando até os 90 anos”, afirma. Para ele, o trabalho é não apenas uma forma de garantir uma renda extra, mas uma maneira de se manter ativo e produtivo na sociedade.

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Jovens no Mercado de Trabalho

A Carência de Jovens e o Desafio da Diversidade Geracional

Enquanto a força de trabalho acima de 60 anos cresce, a presença de jovens no mercado está diminuindo. 

A entrada tardia dos jovens no mercado de trabalho, muitas vezes prolongada pela busca de qualificações acadêmicas, se tornou uma característica marcante. 

Ao mesmo tempo, os jovens que conseguem ingressar no mercado encontram dificuldades para se estabilizar, como revela o índice de 41,7% de informalidade entre os trabalhadores de 18 a 24 anos.

A diversidade geracional se apresenta como uma das maiores oportunidades e desafios para as empresas. Segundo Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half América do Sul, muitas empresas ainda estão descobrindo como integrar essas diferentes gerações de forma produtiva. 

Embora a valorização da diversidade esteja crescendo, ainda há um longo caminho pela frente. “Algumas companhias ainda carecem de um olhar mais atento sobre o assunto”, afirma Mantovani.

A inclusão de diferentes gerações no ambiente de trabalho pode gerar ganhos significativos para as empresas, ao aproveitar o equilíbrio entre a experiência dos mais velhos e a energia e inovação dos jovens. 

No entanto, é necessário que as empresas adotem políticas claras e mensuráveis para garantir que essa integração ocorra de maneira eficaz.

Jovens no Mercado de Trabalho

Informalidade: Um Problema Transversal

Um dos principais desafios enfrentados pelos trabalhadores de todas as idades é a informalidade. 

Embora os números sejam mais críticos para os trabalhadores seniores, os jovens também sofrem com a falta de proteção legal e benefícios trabalhistas. 

A informalidade para trabalhadores entre 25 e 39 anos atinge 34,3%, um número elevado para um grupo em plena fase produtiva.

A solução para a informalidade passa por uma série de políticas públicas e incentivos que estimulem a criação de empregos formais. 

Contudo, a lenta recuperação econômica e a precarização de setores como comércio e serviços dificultam a reversão dessa tendência.

Uma Nova Estrutura para o Mercado de Trabalho

Os dados revelam um cenário claro: o mercado de trabalho brasileiro está envelhecendo e, ao mesmo tempo, se informalizando. 

A falta de jovens ingressando cedo no mercado de trabalho, somada ao aumento da presença de trabalhadores seniores, cria uma demanda por soluções que integrem essas diferentes gerações de maneira eficaz.

O grande desafio, no entanto, é lidar com a informalidade. A inserção dos trabalhadores mais velhos no mercado informal mostra a fragilidade do sistema de aposentadoria no Brasil, que muitas vezes não garante uma renda adequada para sustentar os aposentados. 

Além disso, a informalidade entre os jovens mostra que o primeiro emprego não está garantindo as proteções trabalhistas necessárias para um desenvolvimento profissional estável.

Para que o Brasil enfrente essa nova realidade, é essencial que empresas e governos trabalhem juntos para criar um ambiente que valorize tanto os jovens quanto os seniores. 

As políticas de inclusão e diversificação geracional serão cruciais para que o país possa aproveitar ao máximo o potencial de sua força de trabalho, independentemente da idade.

Anand Rao e Agnes Adusumilli

Editores Chefes

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