Arvind Srinivas - Cultura Alternativa

Como a Perplexity Enfrenta o Google com IA precisa

Como a Perplexity Enfrenta o Google com IA precisa

Primeiramente, em 2019, Arvind Srinivas era apenas um estagiário na DeepMind, divisão de inteligência artificial do Google, recém-saído do doutorado em Berkeley. Dormia em cápsulas, explorava bibliotecas internas e convivia com um cardápio de junk food que, segundo ele, aumentou a balança — porém alimentou uma visão ousada sobre o futuro da IA.

Posteriormente, Arvind Srinivas recordaria que a cultura da DeepMind parecia um universo paralelo dentro do Google, obsessivo com a chamada inteligência artificial geral (AGI). Essa meta de criar “cientistas digitais” marcou sua carreira, inspirando-o a buscar aplicações práticas sem abandonar o sonho de avanços teóricos.

No mesmo compasso, ele circulou pela nascente OpenAI antes de fundar a Perplexity, empresa que nasceria com a missão de converter pesquisas em conversas confiáveis respaldadas por fontes. Assim, o ex-estagiário decidiu transformar a frustração com buscadores tradicionais em produto.


Entretanto, a Perplexity não surgiu para “matar” o Google, mas para resolver um problema do cotidiano dos fundadores: encontrar informações sem cair em labirintos de links. O caso da escolha de um plano de saúde — e a ausência de orientação clara nos resultados patrocinados — virou gatilho para um protótipo interno.

Ademais, a plataforma colocou a acurácia no centro: cada resposta vem acompanhada de citações, minimizando alucinações típicas de LLMs. Analistas chegaram a ironizar, dizendo que “as pessoas gostam de rir dos erros da IA”, mas a equipe decidiu nadar contra a maré do entretenimento e focar em credibilidade.

Ao serem lançadas ao público, as conversas da Perplexity viralizaram de forma orgânica. Investidores, amigos e usuários comuns passaram a preferir sínteses instantâneas a longas listas de URLs — tendência que hoje influencia até gigantes do setor.


Comet: o navegador que quer mudar tudo

Consequentemente, em 2024, a startup apresentou o Comet, navegador que mescla busca, navegação e ações numa só janela. Inspirado pelo impacto que o Chrome teve na ascensão de Sundar Pichai, Narayanan aposta que o próximo salto da web virá de um “sistema operacional cognitivo” residente no browser.

Simultaneamente, o Comet pretende realizar sessões completas da pesquisa à transação por meio de prompts, reduzindo cliques e abas. A ideia é que o usuário “viva” na internet, guiado por uma IA proativa que antecipe necessidades.

Por fim, o projeto promete distribuir a computação entre cliente e servidor, viabilizando respostas personalizadas sem sacrificar privacidade. Se cumprir essa promessa, poderá redefinir a forma de navegar e pressionar browsers legados a inovar.

Como a Perplexity Enfrenta o Google com IA precisa


Crescimento exponencial e planos ambiciosos

Atualmente, a Perplexity processa cerca de 780 milhões de buscas mensais e mantém ritmo de expansão de 20 % ao mês. Seguindo essa trajetória, a meta interna é superar 1 bilhão de consultas por semana em 12 meses.

Paralelamente, o apetite dos investidores cresce. A empresa já triplicou sua avaliação duas vezes e negocia captar US$ 500 milhões a um valuation de US$ 14 bilhões. Para o CEO, inovar primeiro e não reagir é o segredo que sustenta esse apelo de mercado.

No mesmo fluxo, a estratégia de distribuição coloca o navegador e parcerias móveis como motor de retenção “infinita”. Se cada novo dispositivo trouxer o assistente pré-instalado, o ciclo de crescimento poderá se autossustentar.


Enfrentando o Google e abrindo caminho no Android

Porém, o passo mais ousado está nos smartphones. A Perplexity já se tornou assistente nativo em modelos da Motorola e negocia acordos com outras fabricantes, inclusive a Samsung, para substituir experiências consideradas defasadas como o Google Assistant.

De fato, fontes internas relatam pressões de Mountain View para travar esses acordos, mas Narayanan aposta na abertura do Android e na busca por pluralidade de escolha. A convicção é que o ecossistema ganha quando usuários podem definir qual IA os atende melhor.

Nesse cenário, comandos de voz, execução de tarefas e integração profunda ao sistema operacional prometem levar a Perplexity além de um buscador posicionando-a como companheira digital alojada em cada bolso.


Como a Perplexity Enfrenta o Google com IA precisa

Modelo de negócios com foco em parcerias e transparência

Nesse sentido, o dilema de monetizar sem prejudicar o jornalismo levou a startup a adotar um modelo de partilha de receita por consulta. Grandes veículos, como o Los Angeles Times, já participam de um programa-piloto que remunera conteúdo citado.

Posteriormente, a empresa planeja permitir que “agentes de pesquisa” acessem paywalls com a assinatura do usuário, repassando parte do valor ao veículo. Dessa forma, leitor, publicador e IA saem beneficiados numa cadeia de valor mais equilibrada.

Finalmente, Narayanan reforça que não há ilusão sobre a queda de tráfego para sites. Contudo, a chance de se tornar fonte recorrente nas respostas de IA pode valer mais que a tradicional posição três nos “dez links azuis”.


Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa