Ser humano ou animal: o que é mais midiático em 2025?
O animal na vitrine: um fenômeno midiático crescente
Ser humano ou animal: o que é mais midiático em 2025? Essa pergunta expõe uma contradição inquietante nas escolhas editoriais e nas emoções coletivas: a dor de um animal sensibiliza mais que a de uma pessoa. Em tempos de consumo emocional imediato, cães abandonados ou gatos resgatados tornam-se protagonistas virais com mais facilidade do que vítimas humanas da fome ou da violência.
Além disso, dados do Google Trends revelam que o termo “cachorro resgatado” atrai até 60% mais interesse do que “criança abandonada” no Brasil. Em abril de 2024, um vídeo de um cão ferido em São Paulo alcançou 8 milhões de visualizações no TikTok, enquanto uma denúncia sobre 15 pessoas em situação de rua mortas por hipotermia teve menos de 10 mil interações.
Consequentemente, a pesquisadora Amanda Jenkins (Universidade de Lancaster) destacou, em artigo na revista Animals & Society, que a sociedade interpreta o sofrimento humano como “parte do cotidiano”, ao passo que o sofrimento animal “rompe a imagem de inocência”, gerando reação mais intensa.

Psicologia da empatia: por que sentimos mais pelos animais?
Por outro lado, estudos psicológicos revelam que as pessoas reagem com mais empatia ao sofrimento de animais do que de humanos adultos. A pesquisa de Jack Levin e Arnold Arluke, da Northeastern University, demonstrou que os participantes consideraram mais chocante a agressão a um cão do que a um homem adulto.
Além disso, o psicólogo Paul Slovic descreve o “efeito da vítima identificável”, no qual o público se sensibiliza mais com figuras com nome e rosto do que com estatísticas frias. Isso explica por que a imagem de um cão ferido provoca mais comoção do que um número de mortos por desnutrição.
Portanto, a Faunalytics confirmou em 2024 que muitas pessoas se comovem mais com animais porque os veem como “sem voz” e “sem culpa”, ao contrário de adultos humanos, que costumam ser julgados por sua condição social.
A mídia digital e a viralização do sofrimento animal
Certamente, os algoritmos das redes sociais reforçam a viralização de conteúdos emocionais, visuais e curtos. Um vídeo de 10 segundos mostrando um cão sendo salvo de um bueiro tem mais chance de viralizar do que uma reportagem de cinco minutos sobre a fome no interior do Brasil.
Além disso, a ONG Hope For Paws afirma que vídeos com cães recebem até 40% mais engajamento do que aqueles com humanos em situação de vulnerabilidade. Isso se deve à estrutura emocional dos vídeos e ao apelo visual dos animais feridos ou assustados.
Adicionalmente, um editorial da BBC de 2022 relatou a comoção gerada por um cão ferido em um acidente que matou seis pessoas em Londres. O animal virou ícone, com homenagens e memorial online, enquanto os humanos sequer foram nomeados em manchetes nacionais.
Anand Rao comenta a notícia
A cobertura jornalística tradicional e o silêncio humano
Entretanto, em veículos tradicionais, como telejornais e grandes portais, a tendência continua a mesma. Um estudo do Media Bias Research Center revelou que matérias sobre maus-tratos a animais apareceram cinco vezes mais que reportagens sobre miséria extrema em 2023.
Além disso, as redações priorizam conteúdos de fácil consumo. Histórias complexas, como as de comunidades carentes ou refugiados, dividem opiniões e causam incômodo. Animais, por outro lado, mobilizam consenso, gerando curtidas, compartilhamentos e engajamento seguro.
Consequentemente, a Repórteres Sem Fronteiras apontou que apenas 7% das notícias nas homepages latino-americanas tratam de desigualdade humana, contra 18% sobre bem-estar e comportamento animal.
Caminhos para um jornalismo mais equilibrado
Por fim, é possível valorizar a vida animal e humana de maneira justa e proporcional. Como sociedade, precisamos ampliar o campo da empatia, questionando por que determinados rostos e espécies merecem mais visibilidade do que outros.
Além disso, iniciativas jornalísticas já apontam caminhos. Em maio de 2025, Porto Alegre fechou um abrigo para pessoas em situação de rua e quase não houve cobertura ou mobilização social. Enquanto isso, um cavalo ferido recebeu amplo destaque local.
Por outro lado, projetos como o Pauta Social no Brasil e Humans of New York nos EUA provam que contar histórias humanas com sensibilidade ainda é possível e necessário.
Por Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa