Sandro Lúcio Nascimento Rocha do Sertão à Medicina
O Brasil tem sido palco de grandes transformações quando se fala em inovação e sustentabilidade.
Em um dos rincões mais áridos do país, a Caatinga baiana, um jovem de apenas 17 anos, movido pela falta de recursos hídricos e pela criatividade, desenvolveu uma solução de impacto para reuso da água da chuva, que não só garantiu água para sua comunidade como também alavancou sua carreira acadêmica e científica.
Hoje, Sandro Lúcio Nascimento Rocha, vencedor do Prêmio Jovem Cientista em 2018, é estudante de Medicina e está envolvido em pesquisas de oncologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Sandro Lúcio Nascimento Rocha do Sertão à Medicina
A Escassez na Caatinga e a Inovação de um Jovem
Caetité, a cidade natal de Sandro, está localizada no Polígono das Secas, uma região marcada por longos períodos de estiagem.
Nos nove meses secos do ano, a população local enfrenta desafios extremos para obter água potável, enquanto os três meses chuvosos exigem uma captação máxima desse recurso.
Sandro, filho de agricultores, cresceu em um ambiente onde a falta de água impacta diretamente a qualidade de vida e a subsistência das famílias.
Movido por essa realidade, Sandro teve uma ideia simples e eficiente: um sistema de captação e armazenamento de água da chuva feito com garrafas PET recicladas e cimento produzido a partir de fibras de coco.
A iniciativa visava garantir que a pouca água disponível na estação chuvosa pudesse ser armazenada e reutilizada durante a seca. Além de sustentável, o projeto também ajudou a reduzir a quantidade de resíduos sólidos, já que as garrafas PET, normalmente queimadas ou descartadas, passaram a ter uma função nobre no reservatório.
“Precisamos aproveitar ao máximo a água da chuva. Pensei em uma solução em que só fosse usada água potável para o consumo direto e para a merenda escolar”, explica Sandro.
Com o uso de garrafas PET, que demoram séculos para se decompor no ambiente, e fibras de coco, abundantes na região, ele conseguiu desenvolver um projeto sustentável e de baixo custo.
Segundo cálculos feitos pelo próprio estudante, a inovação reduziu em até 80% o custo da construção de cisternas convencionais, que geralmente utilizam cimento comum.
Sandro Lúcio Nascimento Rocha do Sertão à Medicina
O Reconhecimento e a Ascensão Acadêmica
A inovação de Sandro não passou despercebida. Em 2018, ele foi um dos vencedores do Prêmio Jovem Cientista, um dos mais importantes reconhecimentos da América Latina na área de pesquisa e inovação.
Criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 1981, o prêmio tem como objetivo incentivar jovens talentos e impulsionar o desenvolvimento científico no Brasil.
Com a vitória na categoria Ensino Médio, Sandro ganhou visibilidade nacional, além de bolsas de estudo e equipamentos que lhe permitiram seguir adiante em sua jornada acadêmica.
Com o prêmio em mãos e o incentivo recebido, Sandro decidiu seguir a carreira dos seus sonhos: Medicina. Em 2022, o Brasil foi tocado pela emoção de um vídeo que viralizou nas redes sociais, no qual ele conta ao pai que havia passado no vestibular para Medicina na UFBA.
Hoje, aos 23 anos, Sandro não apenas realiza o sonho de se tornar médico, mas também investe em pesquisa científica na área de oncologia. Ele está envolvido em um estudo que investiga o uso de toxinas de animais como potencial tratamento para o câncer.
“A pesquisa sempre foi algo que me motivou. Todo incentivo que recebi no ensino médio, desde o prêmio até o apoio dos professores, me fez acreditar que poderia ir além. Hoje, minha meta é unir a Medicina à pesquisa e trabalhar com oncologia, para ajudar a salvar vidas,” afirma Sandro.
Sandro Lúcio Nascimento Rocha do Sertão à Medicina
A Importância do Prêmio Jovem Cientista
O Prêmio Jovem Cientista, criado em parceria com a Fundação Roberto Marinho e patrocinado pela Shell, é uma iniciativa que já impulsionou mais de 194 estudantes e instituições de ensino ao longo dos seus 37 anos de existência.
Entre os prêmios concedidos, estão bolsas de estudo, computadores e valores financeiros que variam de R$ 12 mil a R$ 40 mil.
O programa tem como objetivo fomentar a ciência entre jovens brasileiros e ampliar o alcance de suas descobertas, principalmente em áreas como sustentabilidade, inclusão digital e inovação social.
Em sua 31ª edição, o tema “Educação para Reduzir as Desigualdades” propôs reflexões sobre como a conectividade pode melhorar o acesso ao conhecimento e reduzir as disparidades sociais no país.
Pesquisadores jovens, como Sandro, se destacaram com ideias que utilizam a ciência para resolver problemas cotidianos, sejam eles ambientais, sociais ou econômicos.
Sandro Lúcio Nascimento Rocha do Sertão à Medicina
A Jornada da Sustentabilidade e os Próximos Passos
Os números da sustentabilidade no Brasil mostram o quanto projetos como o de Sandro são necessários. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água tratada, e mais de 100 milhões não possuem acesso a sistemas de esgoto adequados.
Além disso, a reciclagem de resíduos sólidos no país ainda é incipiente: apenas 4% do lixo urbano é reciclado, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Com soluções criativas e de baixo custo, como a desenvolvida por Sandro, há um potencial para transformar a realidade de comunidades carentes e, ao mesmo tempo, promover a conscientização ambiental.
Hoje, Sandro se divide entre os estudos e o desejo de continuar inovando na área de sustentabilidade e saúde. A ligação entre sua origem humilde e sua trajetória de sucesso mostra que, mesmo em cenários de adversidade, a ciência e a educação podem ser o caminho para grandes transformações.
Sandro Lúcio Nascimento Rocha do Sertão à Medicina
Perspectivas Futuras
Além do foco em Medicina e pesquisa oncológica, Sandro pretende continuar investindo em tecnologias sustentáveis. Sua visão é de um futuro onde ciência, medicina e meio ambiente caminhem juntos para resolver os problemas mais urgentes da humanidade.
“Quero ser médico, mas também quero continuar pesquisando e desenvolvendo soluções. A Caatinga me ensinou a importância de valorizar cada gota de água e cada recurso. Essa lição, acredito, pode ser levada para muitas áreas do conhecimento”, conclui.
A história de Sandro Lúcio Nascimento Rocha é um exemplo de como a educação científica e a inovação podem transformar vidas e gerar impacto nas comunidades.
O sertão baiano deu origem a uma mente brilhante que, com criatividade e determinação, segue em frente na busca por um futuro mais justo e sustentável.
Anand Rao e Agnes Adusumilli
Editores Chefes
Cultura Alternativa