Fim de festa no Festival em Marciac - Cultura Alternativa

Fim de festa no Festival em Marciac

Fim de festa em Marciac, sul da França.

Os shows da programação oficial do Festival Jazz in Marciac 2023, um dos maiores da Europa no gênero, terminam com apresentações de Goran e Kuti.

Mas…a festa continua! Muita arte musical ainda ocorre nas ruas. Pequenos concertos de salsa, pop rock, percussão africana, jazz tradicional e experimental continuam a assaltar nossos ouvidos já um pouco cansados da maratona de três semanas e 34 grandes shows do festival.

Não é difícil ver pessoas (de todas as origens e idades) que partem rumo à estação de ônibus local deixarem pesadas mochilas de lado para ficar um pouco mais num café ou mesmo na rua aproveitando até o último minuto a boa vide do festival de Marciac.

DESTAQUES

Festival de Jazz de Marciac, por Carlos Dias

Fim de festa no Festival em Marciac

Marciac tem públicos bem distintos: os milhares de “bobôs” classe média alta francesa (que paga caro para assistir os shows), as centenas de voluntários que trabalham em troca de hospedagem e comida (e entrada gratuita nos shows), outro milhar de estudantes de música e Arte em geral, que vem para oficinas e para ver de perto aqueles que os inspiram, e os jornalistas e críticos musicais, que depois de tudo hipoteticamente acabado ficam para fazer o rescaldo cultural e recontar a pequena história de cada edição do festival.

Faço parte do último segmento, o que me obriga a ficar até que a última melodia soe, num palco, num café, num beco (afinal a proposta maior é o jazz) ou mesmo através de uma janela de um quarto alugado por um músico em uma pensão das cercanias. Nenhum problema, Nostalgia à parte (ou “Le “Blues’, como dizem os franceses).

Contra a “deprê” passageira, faço como os outros: deixo a mochila de lado, peço uma taça de bom tinto da Gascogne e me exponho a mais um pouco da música do mundo. Em Marciac, a festa nunca termina!

Fim de festa no Festival em Marciac

Na última noite de concertos no Chapiteau, palco principal do JIM, o compositor e autor de trilhas sonoras de Cinema Goran Bregovic, vindo da Bósnia, ocupou a cena com um numeroso grupo de músicos para tocar um pout-pourri de sons dos balcãs.

Sonoridade robusta, história de povos perseguidos, religião, cantos de guerra e multietnia se misturam na música produzida por este compositor cuja obra mais conhecida no Brasil seria o resgate de “Bella Ciao”, canto de partisans resistentes da II Guerra Mundial.

A plateia delira, dança e repete os refrões sugeridos por Goran entre um ataque feroz e outro de sua enorme banda que tem lá dentro um coro, uma orquestra e um quarteto de cordas. Música séria e ao mesmo tempo bem divertida.

Depois dele o nigeriano Femi Kuti, filho do lendário Fela Kuti, encerra o Festival. Ele injeta afro beat na veia do público por uma hora e meia, deixando claro que é hora de dançar.

Faz uma apresentação bastante enérgica, cercado por três dançarinas  montadas em balangandãs africanos. A essa altura das coisas, ninguém está muito preocupado mesmo com a originalidade do espetáculo.

É realmente momento de balançar peitos e bundas divertidamente, sob o comando de Femi e suas dançarinas.

Ao final, o cantor e instrumentista empunha seu sax, improvisa notas ritmadas e vai deixando o palco enquanto cá embaixo continuamos a balançar balangandãs imaginários sobre a ponte que o clã dos Kuti ergue desde os anos 80 para unir raças e culturas.

Voltando à taça de Gascogne, o Jazz in Marciac 2024 já começou.

Carlos Dias Lopes

Cultura Alternativa